Céu Vermelho

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Novembro começou. A brisa gelada começava a soprar. As chuvas estavam cessando, mas os campos ainda estavam húmidos, quando não encharcados.

Qualquer estrangeiro que venha aqui, deve pensar que esse país é uma droga.

No mês que se havia passado, Ethan fez um trabalho excelente me fazendo a corte. Tinha palavras de flerte muito inteligentes e capazes de conquistar qualquer garota. E, ah! Como eu queria ser totalmente conquistada por ele! Algumas das suas frases soltas eram realmente muito engraçadas. Me faziam rir e a ele também, e os lugares aos quais me levava, eram lindos e românticos.

Era um domingo sem programações quando Ethan me convidou para um passeio no pátio. Era a primeira vez que ele me contava detalhes sobre sua ida à Quartenália, e também contou que nunca mais pode entrar lá. Porque estava com uma das magias enviadas à Terra, e só poderia retornar na presença da outra. Tanto que ele nem pode avançar nos terrenos, ficou somente na orla do mundo.

- E pela noite eu pude ver uma luz dourada, que parece um pó de ouro, formar uma fita larga e magnífica no céu. Foi a coisa mais linda que já vi. Não consegui dormir, tive que passar a noite olhando. Meu guardião me achou estranho. Devo ter ouvido ele murmurar: "Pelos lombos de Othàn! Teremos um rei biruta!".

Nós demos gostosas risadas.

- Soube que se chama Lanterna dos perdidos- ele prosseguiu- Pois guiou muitos homens de volta ao lar quando se perderam numa batalha. E tem uma fruta chamada Capin. Parecem amoras, mas são tão doces e aquosas que o gosto se assemelha ao da mais doce uva sem sementes. Mas ainda sim é melhor. Já é minha favorita.

- Me fale novamente sobre as roupas.

- Ah! As roupas- ele riu tímido- Que é que tem se eu gostei de me vestir como eles se vestem? É bem legal, você vai gostar. São roupas que se parecem com aquelas coisas do século XVIII. Quando retornarmos, vou me vestir daquele jeito toda hora.

Ethan conseguia ser realmente um garoto muito divertido e adorável. As vezes me pegava olhando seu rosto, enquanto suas palavras estavam longe e suaves nos meus ouvidos.

- Vou gostar sim- falei tocando sua mão.

"Ethan estava deitado no chão de um lugar na penumbra. Não dava para ver muito bem, mas parecia uma caverna. Ele estava coberto por um grosso lençol e suava muito. Seus olhos estavam inchados e vermelhos como se ele chorasse muito. E ele gemia de dor.

"As trevas estão me consumindo"- ele dizia.

E eu olhava para a lua e para ele.

De repente, eu só via seu rosto e ele dizia para mim, enquanto seu rosto ficava branco de tão pálido:

"Faça o cetro antes do Céu ficar vermelho. Aprisione! Aprisione!"

E eu olhava para o céu que começava a clarear numa tonalidade avermelhada".

- Mas que...

- Choque?

- E dos grandes- ele disse recolhendo sua mão entre as pernas e dobrando o corpo- E a sua visão confusa, que eu só pude ver um pouco e com uma resolução não muito boa.

- O que significa "o céu ficar vermelho"?

Ethan pareceu pensar um pouco, olhou para o canto superior direito de algum lugar no vazio e respondeu:

- Você precisa ficar aqui. Já volto. Confia em mim.

Ele entrou no colégio e eu fiquei sentada no baixo muro de pedra.

Alguns minutos depois, ele voltou e tocou meus braços.

- Consultei um guardião. Existe um fenômeno que acontece em Quartenália. É astrológico. Se chama "Céu Vermelho". É quando a lua oficial de Quartenália se encontra com a segunda lua e ambas se alinham ao sol. Esse encontro passa para Quartenália uma projeção vermelha. E isso acontece no final de cada Ciclo, para dar início ao próximo. Bem... Um ciclo em Quartenália dura cem anos, e o próximo Céu Vermelho, será no último dia do ano terrestre.

- Ethan!- me preocupei- O último dia do ano é daqui cerca de cinquenta e um dias.

Ethan me olhou com profunda preocupação.

- E nem sabemos por onde começar- falei- Nem quando.

- Quando, eu sei- ele disse- Em dois dias estaremos saindo daqui.

O encarei por um momento.

Eu já tinha a permissão para sair do colégio de tarde, sempre que não havia aula. E Ethan também. Seria muito difícil convencer aos diretores de que precisávamos viajar. E, o pior! Cada um na mesma data do outro.

- Como vou conseguir a permissão?

Ele suspirou como alguém que, ao explicar a um tolo algo muito simples, é perguntado novamente sobre tal assunto. Mas também havia cansaço nesse suspiro. Um cansaço verdadeiro que me deixou mais preocupada com ele.

- Quando você vai perceber que disso cuido eu? E pode ficar tranquila. Tenho muitas formas de tudo dar certo. Concentre-se na missão e em organizar tudo.

Eu ri para ele e ele me lançou um olhar pensativo.

- Ah! E, se puder, peça à sua amiga guardiã umas roupas de Quartenália para usar durante a missão. Vamos estar em terrenos Quartenos.

Eu ri novamente e mais alto.

Ethan não podia estar falando sério.

Quartenália- Era Da AscendênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora