Acordei com sede e vi que Ethan ainda dormia.
O céu não estava claro por completo, na verdade, estava à uma meia luz amarela do crepúsculo, que no rochedo tinha um tom cinza sombrio.
Bebi um pouco de água do nosso cantil. Desci o vale cuidadosamente a pés descalços. Queria caminhar um pouco para espairecer. Acabei vendo que aquele ninho de pedras brutas e desinteressantes, na verdade não era tão feio e assustador. Haviam muitas pedras grandes que calhavam como bons assentos de repouso para viajantes bens cansados, outras pedras era menores e com uma coloração mais prateada, já outras eram pontudas e perigosas, e as mais sapecas eram as que enganariam qualquer um que ousasse recostar-se por serem visivelmente fixas, mas em realidade eram soltas e capazes de rolar vale abaixo.
Depois de algum tempo de caminhada, virei-me para voltar, mas senti um frio na espinha. Meu corpo se arrepiou e senti isso até atrás da orelha. Meu estômago embrulhou e senti a temperatura do meu corpo baixar.
Haviam dois homens grandes e robustos montados em cavalos, usando armaduras e com espadas na cintura.
Um deles era moreno, com seu cabelo tão negro que parecia ter sido pintado à pincel. Seus olhos eram também escuros e maus. O bigode lhe dava uma idade aparente de quarenta e cinco anos ou mais. O outro era, sem dúvidas, bem mais jovem. Era muito ruivo, daqueles que os cílios são quase invisíveis. Tinha um sorriso que não dava para saber se era felicidade bondosa ou malvada.
- O que uma dama nobre tão bonita faz num vale pedregoso como este?- perguntou o mais velho.
Eu não consegui responder. Fiquei calada e paralisada.
- Você é muda?
Eu olhei em seus olhos. Não sabia se era o certo ou não. Então respondi:
- Eu... Eu estou de passagem.
- Por esse vale de pedras? Quem passa por aqui?
- Bem... você?- senti meu joelho esquerdo tremer assim que falei.
Ele ergueu o queixo e me olhou como se eu fosse uma barata no carpete. Depois deu o mesmo sorriso do outro homem.
- Você é esperta. Mas não é uma pessoa como eu, eu espero. Por isso devia andar por aqui sozinha. Ainda mais sendo tão fina moça. Homens malvados andam por aqui.
- Eu não estou só. Meu irmão está lá em cima com nosso cavalo.
Assim que fechei a boca, percebi que podia ter falado algo de errado. Se fossem saqueadores, nos matariam por cavalos.
- De onde você é, moça?- o homem perguntou novamente.
Eu senti um gelo se formar lentamente do meu peito à garganta. Eu não conhecia a geografia de Quartenália. Precisava de uma resposta prática e rápida.
- Do Norte- falei temendo que já estivéssemos no Norte.
- Qual lugar do Norte?- o mais jovem falou pela primeira vez.
Apesar da voz amigável do homem, senti vontade de lhe enforcar. Ele havia me complicado mais ainda.
- Talvez nunca ouviram falar. É um lugar rodeado por suas águas cristalinas.
Eles se olharam. Um olhar que julguei ser de desconfiança. O homem mais velho coçou o bigode.
- Seria Maya?- o mais jovem perguntou.
- SIM!- falei num suspiro, aliviada.
- Ah!- disse o outro- Conheço sua terra. As águas são de fato um encanto. A cerveja também é muito boa.
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Quartenália- Era Da Ascendência
FantasíaPrometida em casamento desde séculos antes do seu nascimento, mas sem ter conhecimento disso, Alice tem sua vida completamente mudada quando descobre que as magias antigas da luz e das trevas foram enviadas para a terra e que uma delas renasceu dent...