Tell it to the sky

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Yuri guiou o moreno até uma pequena cafeteria que ficava próximo à empresa onde , estavam. Não era das mais caras, mas servia bem ao padrão de ambos.

O ômega rebolava inconsciente, e Otabek acompanhava seus quadris com os olhos. Julgou-se e parou. Desde quando um traseiro sugava tanto seu olhar? Ainda mais o traseiro de um homem casado. Foco Otabek, pensou. Ele está apenas sendo gentil. Além do mais, é casado. Não pode sair metendo-se com pessoas casadas.

Yuri não percebeu o conflito interno de Otabek, apenas seguiu e sentou-se em uma mesa bem no centro da cafeteria, próximo à bancada. O moreno ameaçou puxar a cadeira para o loiro mas parou ao receber um olhar torto. Yuri não gostava de que o tratassem como inferior apenas por ser ômega.

Otabek ainda se perguntava o motivo do menor não ter marcas. Yuri levantou o dedo, a garçonete chegou.

— Um café comum, grande, para mim. — Olhou para Otabek, que ainda estava devaneando sobre o menor. O moreno pediu o mesmo, encabulado.

—Então, você tem sempre esse cheiro insuportável de alfa? — Yuri brincou, e Otabek arregalou os olhos, puxando o próprio pulso para cheirar. Yuri riu disso. O desespero do maior era notável. Não gostava do próprio cheiro.

—Calma, eu estou apenas brincando. Não está tão forte. — Otabek suspirou, relaxando.

—Não me assuste com isso. Eu tomo supressores. — Ambos sabiam que o supressor parar de funcionar era um grande problema. Trocar os remédios dava efeitos colaterais terríveis nos primeiros dias.

—Eu também tomo, e você disse que sentiu meu cheiro. — Yuri cruzou os braços, escorando-se na cadeira. Logo, seus olhos e os do moreno arregalaram-se. Entre os diversos sinais de conexão alfa-ômega, um sentir o cheiro do outro independente de supressores era bastante conhecido. Muitos consideravam mito, como Yuri. O loiro nunca acreditou em "baboseiras de alma gêmea", como ele mesmo falava.

Otabek também não acreditava. A questão não era acreditar. A conexão apenas existia para favorecer a procriação. Nunca foi obrigação de dois conectados se juntarem. Os hormônios e instintos apenas apontavam a outra pessoa como "possível parceiro". Embora fosse extremamente constrangedor.

O rosto de Otabek adquiriu um tom alaranjado pelo sangue que passava por debaixo da pele bronzeada. Não sabia onde enfiar a cara. Abaixou o olhar, fitando as mãos que estavam sobre o próprio colo. Ele não poderia ter conexão com um ômega casado. Isso seria constrangedor para ambas as partes.

— Eu... Eu vou ligar para uma pessoa. — Yuri pegou o celular e discou rapidamente um número. Otabek ainda encarava o próprio colo, sem saber como reagir. Não era uma forma comum de se encontrar uma conexão alfa-ômega, afinal de contas.

— Atende.... Atende.... Oi, Viktor! Passe para o Katsudon, por favor. — Otabek reconhecia o idioma, russo. Franziu o cenho ao ver o menor falar com outra pessoa em um tom tão informal.

— Por favor, não conte para seu marido. — Yuri franziu o cenho ao ouvir a frase que saiu de Otabek, mas logo em seguida Yuuri atendeu.

— Ei, Katsudon. Você ainda tem o telefone daquele endocrinologista? Eu precisava pedir reformulação dos meus supressores. — O moreno envergonhou-se ao ver que Yuri conversava de forma firme e coesa, talvez melhor que muitos alfas. Mais uma prova que isso não importava nada. — Isso, mande para mim. Obrigado. — Desligou e encarou Otabek.

— Que história é essa de marido?

— O seu marido, não era ele no telefone?

— Eu não tenho marido, Otabek. De onde tirou isso?

— Bom, naquele dia você estava com fraldas e...

Yuri revirou os olhos. O moreno podia ser alfa, mas era sonso tal qual o estereótipo de ômega.

— Isso não significa que eram minhas. — O loiro suspirou, ao passo que sorriu internamente ao ver o alivio aparente no rosto do Cazaque — Eram do meu irmão, ele teve um bebê a alguns meses. Eu ainda não achei a pessoa certa — Disse em um fio de voz, mas ao perceber que estava deixando os instintos de ômega o guiarem corou violentamente arregalando os olhos - Não eram minhas.

Otabek de fato havia ficado aliviado. Aliviado pelo quê? Não havia do que se aliviar. Yuri não ser casado não era solução de nada. Ele ainda não era uma opção para o loiro. O clima na mesa pesou, e o russo quis mudar de assunto.

— Então, você é corretor de imóveis, certo? — Yuri perguntou o óbvio, para quebrar a geleira que se formou entre os dois.

Otabek assentiu com a cabeça, e arrumou-se na cadeira.

— Você poderia me mostrar uns apartamentos. — A voz do menor era comum, como quem tratasse de negócios.

— Como? — Otabek estranhou a mudança repentina.

— Bom, eu estava querendo ir morar sozinho mesmo, mas ainda não tive chance de pensar direito nisso.

— Ah, sim. Tudo bem. Você tem alguma preferência? — E então conversaram. Sobre localizações, espessura das paredes, quartos, banheiros e cozinhas. O tempo passou rápido, ambos imaginando como seria um apartamento perfeito para o loiro, dentro de seu orçamento.

— E eu acho super maneiro aquelas cozinhas conceito aberto, sabe? — Disse Yuri, rindo ao tomar o terceiro café.

— Ah sim, é uma cozinha ótima para quem tem crianças, né? Que não ficam esbarrando nas coisas. — Otabek pontuou, fazendo Yuri corar e pigarrear. Viu que era hora de mudar de assunto. — E a quantidade de quartos? Tem um apartamento ótimo no centro, com um quarto, perfeito para um homem solteiro.

— Eu quero dois quartos. — Yuri respondeu seco, bebendo mais um gole.

— Dois? O que você pretende fazer no segundo? — Não pode esconder a curiosidade. Yuri encarou o ar e refletiu. Ele tinha para si mesmo que não queria casar e ter filhos, mas não podia mentir sobre o aquecer que acontecia em seu coração quando imaginava crianças correndo e o chamando de "papai".

— Eu ainda não sei. Um quarto para visitas, ou como escritório. Algo assim.

— Entendo. Bom, eu posso procurar para você.

— Eu agradeceria. — Levantaram-se e recolheram as coisas. Após Yuri pagar, com muita insistência, caminharam até onde o carro do loiro estava estacionado.

— Bom, então fica assim mesmo? — Yuri ri, observando o sol que se punha, ele realmente achava o céu bonito.

— Sim, eu te aviso se achar algo.

— Obrigada, Otabek. — Aproximaram-se para se despedir, e o usual beijo na bochecha tão comum aos europeus como Yuri, foi constrangedor. Otabek atrapalhou-se e Yuri riu, entrando no carro. Despediram-se, para só então, Otabek perceber algo.


Ele não tinha pego nenhum contato do Yuri. 

I can't FlyWhere stories live. Discover now