O orvalho ainda pingava quando Otabek acordou. Sua cabeça passava as lembraças da noite anterior, cercada de risos e beijos e carícias com o namorado.
Ele sabia que Yuri estava muito nervoso com o trabalho, então não tardou em fazer um jantar para os dois. Para relaxar e inspirar o loiro. Regados a um bom vinho e um macarrão que quase deu certo, ele poderia repetir noites como aquela para sempre. Sorriu.
Em cima de seu peito, cabelos finos e dourados refratavam a luz do sol, descendo como suaves ondas pelo rosto plácido, iluminado de forma suave. Abraçou o corpo, acordando Yuri e ouvindo o menor reclamar com a voz rouca.
— Que merda, Beka. Me deixa dormir... — O loiro resmugou, sendo apertado pelos braços do alfa. Os cílios tremiam sobre as bochechas, uma cena considerada divina pelo moreno. — Já que você me acordou, seu merda, eu 'tô com fome.
Otabek riu, levantando-se. Yuri levantou junto, as pernas bambas. Riram, mas logo a barriga do ômega resolveu participar da conversa.
— Nossa gatinho, você tá com muita fome esses dias. Parece que vai comer o mundo.
— Vou mesmo. Se reclamar mais, eu como você também. — Retrucou, recebendo um olhar malícioso de Otabek.
— Se isso te fizer feliz, por mim tudo bem. — A voz do moreno veio acompanhada de um rosto em tons rosados e alaranjados. A pele fria com novas matizes fez Otabek se questionar se o loiro era real. Ele era lindo, concluiu. Lindo, arrebatadoramente lindo.
— Cala a boca, idiota. Não foi isso que eu quis dizer. — Corou, puxando com os dedos finos uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.
Foram até a cozinha, comeram em um misto de ternura e agradabilidade. Yuri ainda estava nervoso.
Era um dos casos mais importantes de sua carreira, tinha plena consciência desse fato. Não era todo dia que um ômega era advogado de acusação em um julgamento de um alfa que abusara sexualmente de um outro ômega.
Na verdade, Yuri sabia. Era raro ômegas se quer advogarem. Na verdade, quem disse que ômega tem que fazer faculdade? Isso é muito para eles. Yuri balançou a cabeça, afastando os pensamentos.
— Yura, gatinho, seu cheiro está forte. Não trouxe seus supressores? — Otabek disse, bebendo um gole de seu chá.
— Hm, eu já tomei hoje. — A voz de Yuri estava anasalada pela quantidade enorme de comida que ele tentava enfiar na boca de uma vez. Suas bochechas estavam infladas, recheadas de pão e presunto. — Mas eu acho que eles estão fracos, sei lá.
— Aquela história da conexão? Eu pensei que você já tinha ido no médico ver isso, você ligou para Yuuri aquele dia. Aliás, você realmente acha que a gente é conectado?
— Eu tenho certeza. Por que diabos eu iria ficar tão louco por ti sempre que te vejo? Não é pelo seu rosto cheio de emoções, né. — Limpou a boca com um guardanapo, pegando um pedaço de bolo. — Mas assim que passar o julgamento eu vou refazer meus supressores e o meu anticoncepcional.
— Ah, bom. — Otabek abaixou a cabeça. Ele queria ter filhos com Yuri, mas não queria que fosse acidente. Queria planejar, queria que fosse uma decisão de Yuri. — Anticoncepcional é importante, não ter filhos e tal. Aliás, quer dizer que a madame só quer atar o nó comigo? — Otabek brincou, tentando fugir do assunto de filhos.
Não funcionou. Yuri sentiu sua garganta revirar, seus olhos verdes saltaram nas órbitas, e seus cílios ficaram molhados. Otabek não queria ter filhos com ele? Otabek não o achava bom o suficiente? Respirou pesado, entrando na brincadeira do moreno. Não queria pensar nisso.

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I can't Fly
FantasyCOAUTORIA: @Jaine_Nina Seria possível ter tanto azar? Fazia anos que Otabek não encontrava alguém interessante de verdade. Não esperava que encontraria naquele mercado, também. Devia ser um castigo divino que, justamente quando sentiu aquela famosa...