I hope that you see right through my walls

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Yuri não sabia dizer exatamente porque havia decidido correr, apenas o fez.

Sua mente divagava entre pensamentos sobre o caso que estava tentando conseguir no escritório, e o fato de que precisava passar em casa e pegar suas coisas antes do trabalho.

Apenas mentiras que ele insistia em recitar para si mesmo. No fundo ele sabia que estava fugindo dos sentimentos em relação a Otabek que tinham aflorado na noite anterior. Acordou sentindo o corpo dolorido, mas ao mesmo tempo leve, sentia-se estranhamente aquecido e sabia que isso era por causa do alfa. Ele queria que não fosse, mas não podia negar a forma que ficava ao lado do moreno.

Tateou a cama a cama a procura do mesmo, mas não o encontrou, aproveitou para ficar uns minutos de preguiça, olhando o teto, e foi nesse momento que a realidade o atingiu.

Ele e Otabek tinham feito amor.

Tinha deixado de ser sexo casual. Na verdade, já tinha deixado de ser a muito tempo. O ato apenas concretou todos os sentimentos.

Tinha até mesmo cogitado a possibilidade de ser marcado, e a idéia até o agradava, de certa forma. Era coisa demais para processar, e ele era covarde demais para encarar o moreno depois daquilo e ainda não sabia o que dizer. Também não era capaz de dizer se o que o cazaque sentia era o mesmo sentimento, e não queria se magoar. Então fugiu.

Aproveitou que Otabek estava na cozinha conversando com alguém que Yuri deduziu ser o irmão, e de forma sorrateira deixou o apartamento.

Desceu as escadas de forma apressada, tropeçando nos próprios pés. Tentava a todo custo afogar os sentimentos que descobrira sentir. Segurava no corrimão, a respiração apressada e os olhos ameaçando lacrimejar. Seu rosto estava aquecido, e tremia. Tremia tanto que mal sentia seu corpo enquanto praticamente corria os degraus.

Não demorou para estar no estacionamento, os batimentos acelerados. Viu sua moto, e os segundos que normalmente levaria para chegar até a mesma pareciam horas. Seu peito incendiava.

Começou a vestir o capacete, tentando conter os soluços que ameaçavam sair de seu pranto. Sua garganta não o ajudava, fazia com que os sons saíssem altos.

Foi quando sentiu a presença de Otabek atrás de si, e não foi mais capaz de segurar. As lágrimas vieram com força, enquanto ele se perdia naquela confusão de sentimentos. Ele estava tão confuso. Ficar com o alfa, algo que era contra seus princípios poucos meses antes, se tornava algo vital. Seu corpo ansiava. Estava sedento.

— Você vai fugir de mim, Yura? — O moreno perguntou com a voz embargada, embora baixa, quase sussurrada. O russo não ousou virar-se e encara-lo — Vai fugir de nós?!

— Você não entende, nem eu entendo! — Deixou o som de seu planger ecoar livremente pelo local amplo e frio.

— Então vamos tentar entender juntos... — O loiro sentiu o outro se aproximar lentamente, como se tivesse conversando com um animal amendrontado. E Yuri se sentia assim. — Eu também não sei como lidar com isso Yuri. — Otabek se pôs a frente do menor. Enxugou uma de suas lágrimas que teimava em umidecer sua bochecha e pegou a mão do ômega, levando a mesma até o próprio peito. — Mas isso aqui, eu não sou mais capaz de ignorar isso. — Dizia pressionando a mão alheia em seu tórax, para que o loiro pudesse sentir seus batimentos. — E não vou deixar que me prive disso, então se você não sente o mesmo, vá agora, e eu prometo não procurá-lo mais, mas se você sente algo por mim, o mínimo que seja, me deixe ter isso, me deixe te ter, e eu prometo que um dia você se sentirá assim como eu me sinto quando estou com você.

Yuri não sabia como reagir àquilo. Otabek estava tirando todas as suas dúvidas, abrindo seu coração e ele não conseguia dizer nada, estava estático. Então apenas procurou abrigo naqueles braços que vinham se tornando seu lar, e deixou que as lágrimas continuassem o seu trabalho.

I can't FlyWhere stories live. Discover now