Capítulo 5

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Borboleta negra

A caricatura feita através das características que Kihyun informou está em minha mão direita. Enquanto caminho com uma pilha de pastas no braço esquerdo e um copo de café na canhota, observo o quão assustador pode ser ver essa imagem pessoalmente. Assim como Kihyun descreveu o rosto é realmente coberto por uma faixa transparente preta e na escuridão da noite era quase impossível ele observar a face do homem. Uma garoa está caindo sutilmente como uma neblina, o tempo está frio hoje, como de costume na pequena cidade. Sinto a raiz do meu curto cabelo molhada pelas constantes gotículas de água.

Ariah já me ligou várias vezes perguntando se estou indo ou não encontrá-la. Sem deixar de olhar para a folha branca tento criar um plano de como vou pegar a chave na bolsa para abrir o carro com tantas coisas em minha mão. Escuto um barulho de sino de bicicleta e noto que o garoto que entrega jornais está tão próximo a mim que não terei tempo de sair dali. Estava tão absorta na imagem que nem notei por onde andava. Fechei meus olhos com força já imaginando o impacto, mas ele não veio. Somente o vento em meus fios de cabelo da velocidade que a bicicleta passou bem a minha frente.

O calor do contato de mãos em cada um dos meus braços me fez perceber que alguém notou o que iria acontecer e me tirou dali. Virei-me devagar, ainda em choque, para agradecer quem quer que fosse, porém meu copo de café deslizou dos meus dedos e caiu no chão. Estou estagnada olhando para aquela face que de certa forma me é familiar. Algo nele me arrepia e me faz tremer como se estivesse com frio, mas com tantos casacos acho meio improvável que seja o vento que corre pelas ruas agora a essa hora. Meus lábios estão entreabertos e sinto uma vontade súbita de correr para longe dele.

Seus olhos escuros me olham como se lessem a minha alma. Eles me atravessam como facas e me sinto como se estivesse perante a uma divindade que sabe do meu passado. Ele me lembra daquele incidente, aquele que chamam até hoje de acidente temperamental, o que Kimmy tentou solucionar, mas o rancor ainda permaneceu. Eu nunca tive medo, mas desde pequena um único me assola. Não do escuro, ou do bicho papão, eu tenho pavor a borboletas. Sim, o singelo ser que bate asas por aí encantando a todos me causa fobia. O que sinto ao vê-lo, e notar que ele é tão parecido com aquele incidente, me causam tanto medo quanto uma borboleta.

Sua aura é sombria, como uma noite negra, e fria como o dia de hoje. Sua roupas escuras e seus olhos escuros, tudo nele me lembra uma borboleta, uma borboleta negra. O primeiro adjetivo que eu daria a essa borboleta é morte. Ele é como um anjo, um anjo estupidamente lindo, porém mortal, que busca as almas que estão condenadas a morrer. Tenho vontade de correr como uma criança de sete anos e me esconder embaixo da cama de medo. Ele tem um olhar calculista sob mim, e depois de tanto observa-lo com um provável terror estampado em meu rosto notei que ele já havia me soltado e me olhava com um sorriso presunçoso e curioso ao mesmo tempo.

— Desculpe-me. — Oh céus ele fala tão bem. Sua voz e tão sonora e aterrorizante ao mesmo tempo. — Não queria te assustar.

— Tu-tudo bem. — Estou me sentindo como meus suspeitos diante de uma coação.

— Você está bem? — Ele olhou para mim e para a direção em que a bicicleta foi.

— Oh!... Oh sim, sim, sim. — Eu me sinto uma adolescente de quinze anos e não uma mulher com vinte e sete.

— Okay — Ele sorriu do meu provável exagero de palavras. Deus ele é como o inferno na terra, esse homem conseguiu passar de sombrio e assustador para mim, para algo doce com um simples sorriso. Seus olhos tem uma doçura inigualável quando ele sorri, eles se curvam como os lábios se curvam em um sorriso.

— Meu café! — Lembrei-me do meu pobre amigo e olhei para o chão. O copo de plástico estava estilhaçado na calçada úmida pela garoa e agora suja da bebida. — Droga. — Exasperei frustrada.

Butterfly - Monsta XOnde histórias criam vida. Descubra agora