Paparazzo
A semana se arrastou como um jabuti, e com ela pilhas de relatórios, interrogatórios, buscas por fichas criminais e tantas outras coisas que não me levaram a nada mais uma vez. A conversa com Arlo não mudou muita coisa, só me reafirmou que Lisa e Kyle não se viam a um bom tempo, ou pelo menos o tempo em que Arlo estava casado com Lisa. Talvez o assassino tenha achado que Lisa havia sobrevivido, ou simplesmente em seu estado maníaco matou ambas para satisfazer sua loucura.
Depois de relutar algumas boas horas olhando para o telefone, com o estômago embrulhado ao associar a semelhança de Mattew com Hyunwoo, e repassar várias vezes a memória em que ele diz que conhece a Black Danger em minha mente como um videoclipe, toquei em chamar. A mulher que atendeu do outro lado da linha me fez perder a voz, até se identificar como caixa do local, eu não sei o motivo do meu iminente ciúmes ou receio momentâneo. Marquei meu encontro com Hyunwoo para hoje, sábado. Mas como não vou arriscar ir sozinha com ele, mantive o meu plano de levar Kimmy comigo, e o mesmo não hesitou quando avisei da minha companhia.
Fechei os arquivos guardando cada qual em seu armário jogando os papéis amassados dos esboços de esquemas de ligação para o crime de Lisa, que não me levaram a nada, no lixo. Prendo uma imagem do logotipo da Black Danger, no caso a libélula, no meu mural que agora contém a foto de Lisa e Kyle, de Kihyun e de alguns outros homicídios. Termino de organizar os papéis e pego minha bolsa encostando a porta da sala. Scott estava escorado na mesa de um dos outros funcionários, sua expressão estava estranha para mim há alguns dias. Acenei para ele como sempre fiz durante todos esses anos antes de ir embora, mas ele apenas virou o rosto. Não me lembro do que fiz ou disse, apenas sei que ele não fala comigo a uns bons dias.
Ignoro o fato e sigo em direção à saída. Ando a pé algumas quadras, já que deixei meu carro em frente à igreja no centro, o que não é muito longe daqui. Aliás, a pequena cidade tem tudo muito perto, as únicas coisas que são relativamente distantes são as atrações ilegais que ficam nas antigas estradas. Ariah disse que precisava ir a um templo religioso para pedir bênçãos amorosas e eu não neguei seu pedido de buscá-la para irmos para casa juntas. Escutei o barulho de um flash de fotografia e olhei para cima, no telhado do prédio de dois andares tive tempo de ver um vulto negro desaparecendo. Estagnei em meio à calçada olhando para o alto enquanto sentia um frio surgir na espinha dorsal, respirei fundo ignorando e apenas segui meu caminho mais uma vez. A sensação de alguém continuamente atrás de mim me fazia hora ou outra olhar para trás em meio ao movimento das pessoas na calçada larga.
A praça e a igreja já estavam próximas, me misturei em meio às pessoas e apressei o passo, como em uma marcha, mudando para uma breve corrida que se tornou acelerada conforme o pânico de uma perseguição surgia, até a escadaria do templo religioso, subindo de forma apressada tropeçando no último degrau e quase caindo de cara no chão. Ariah me segurou pelos braços com os olhos também arregalados, me virei ignorando a sua expressão e procurando na multidão quem me seguia ou se era só paranoia minha. Na esquina vi um homem de capuz escuro com as mãos nos bolsos e uma mochila virar de forma apressada. Meu coração batia mais que escola de samba em época de carnaval. Seu corpo alto e forte me trazia a sensação de reconhecimento, como se já houvesse o visto antes.
— Você está bem?
— Sim — Respondi voltando minha atenção para Ariah. — Lembra? Coordenação motora nunca foi o meu forte. — Dei uma desculpa esfarrapada e ela assentiu.
Descemos as escadas mais uma vez e seguimos até o carro. Desliguei o alarme e adentrei sentando no banco do motorista e ela no carona. Minha pulsação ainda estava rápida e estou me perguntando se o barulho do flash que escutei partiu daquele homem. Porém a probabilidade é mínima já que o flash veio do alto de um prédio e ele me seguia das ruas. Esse homem não seria um felino para conseguir pular de tal altura sem quebrar um osso e ainda me perseguir com tanta rapidez. Dei partida e coloquei o carro em movimento seguindo a avenida principal que nos leva para casa. Ariah aparentava estar agitada. Deixei minhas preocupações de lado e me fixei em saber as dela.
— Acendeu bastante vela? Ou vai apelar para São Longuinho? — Ariah riu.
— Não. Minha vela não quis acender e quando acendeu a praga apagou.
— Praga?
— É — Ela deu de ombros. — Um idiota que nem na casa de Deus é capaz de me respeitar.
— Você? Falando "casa de Deus"? Ariah, você odiava ir para o culto com a sua mãe. Foi por isso que você desistiu de ser cristã e se tornou budista, vive meditando a cada cinco minutos. — Ri enquanto ela tentava não rir ao meu lado.
— Okay. Você venceu. — Ela ficou em silêncio. — Ele tentou me beijar. — Pisei no freio e pela minha sorte não tinha nenhum carro atrás. Arrumei meu cabelo que foi para frente com o solavanco e Ariah me olhava com os olhos saltados.
— É o quê? — Indaguei em um tom alto e desesperado.
— Admito. Ele era bonito. — Revirei os olhos e voltei a conduzir o veículo pela avenida.
— Eu achei que era algo sério.
— Mas é sério! — Ela cruzou os braços como uma criança do primário fazendo birra.
— Então denuncia. — Exasperei.
— Você e as suas paranoias.
Respirei fundo e engoli em seco o nó que formou em minha garganta com tal comentário. A imagem de Mattew sobre mim ficou estampada em minha visão e apertei o volante cega do ódio que carrego comigo afundando um pouco mais o pé no acelerador. Ariah se voltou para mim analisando minhas expressões e se prontificando a intervir rapidamente.
— Não... — Ela tentou se corrigir ao notar minha postura. — Não é isso que eu quis dizer.
— Mattew. Tudo que vocês dizem me ligam a Mattew. Se eu digo que um homem é feio é culpa de Mattew, se eu só tive romances frustrados é culpa de Mattew, e agora porque eu digo a minha amiga para denunciar um cara que tentou agarra-la na igreja e culpa de Mattew também? — Meu tom de voz estava alto e totalmente alterado.
— Mady — Ela disse em um tom baixinho como se clamasse para que eu me acalme.
— Que se foda Mady. Eu cansei de ser tratada como a coitadinha que foi estuprada pelo padrasto e que nunca teve coragem de falar isso em voz alta. Eu cansei de ser tratada como a frágil, a debilitada, a com problemas psicológicos. Se você quer saber eu saí com um cara esses dias e eu vou sair com ele de novo. Eu estou me dando muito bem com ele para sua informação. — A parte do sair é verdade, já a do me dar bem não posso dizer o mesmo.
Ariah me olhava assustada e sinto que a magoei. Respirei fundo mais uma vez tentando conter um choro.
— Você... Você finalmente conseguiu dizer. — Só agora notei que aquilo que sempre evitei pronunciar escapou dos meus lábios de forma tão natural. Meu rosto aqueceu e meus olhos arderam conforme tentava manter as lágrimas ali.
— E-Eu... É eu disse. — Dei de ombros mudando de faixa e entrando na rua do condomínio.
— Estou feliz que esteja tentando mais uma vez. — A voz dela era quase vazia de tão baixa após minha explosão de gritos.
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Butterfly - Monsta X
FanficSinuoso, ele é como uma nuvem negra. Uma fumaça que se dizima antes mesmo que eu o toque. Arredio e cheio de mistérios somente ele é capaz de trazer tantos desencontros a minha vida. Desde pequena um único medo me assola. Não do escuro, ou do bicho...