Capítulo 7

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1988

Burro pode ser encontrado no dicionário como indivíduo de curta inteligência, imbecil, asno. Aquele que é pouco inteligente, bronco, estúpido. Todos esses adjetivos me representam no exato momento. Todos os exemplos adultos que tive durante a minha infância dizem que uma pessoa educada tem que ser pontual, quase um britânico. Estou parada em frente há um quadro em tamanho real de uma obra da era barroca. O restaurante 1988 é tão extravagante que me sinto deslocada no ambiente. Dou graças por gostar de música clássica e estar relaxando ao som da melodia enquanto observo o enorme quadro de braços cruzados.

Antes de sair de casa busquei o significado da determinada palavra e estou me sentindo estúpida por ter aceitado tal convite. Jantar com alguém que mal falei, apenas troquei meras palavras. Estou deixando meu trabalho, uma noite que poderia ser proveitosa estudando a morte de Lisa e agora o assassinato de Kyle para estar aqui, esperando alguém que talvez nem venha. Quando cheguei em casa Lia ainda não estava lá, aproveitei meu momento sozinha, e como uma jovem imatura me vejo fazendo algo que mais parece burlar uma regra de segurança. Garanto que se Ariah, a única que sabe dele, estivesse lá, ela teria me impedido de cometer tal loucura de vir até aqui.

— Madeleine.

Escuto meu nome dançar entre a língua e os lábios da voz forte e agora reconhecida por mim em meio à multidão. Soa tão suave e melodioso, apesar de seu timbre másculo, que sinto um arrepio ao ouvi-lo chamar-me com tão graciosidade na pronúncia. Não me surpreendo mais com tais reações instintivas que ele me causa, apenas me deixo levar pela brisa inebriante que ele lança sobre mim sem o meu consentimento. Viro-me e deparo com seu dorso forte envolto por terno e camisa, diferente do homem que vi com casacos pesados e suéter, mas sem perder todo o glamour que lhe é natural. Sorrio fraco, ainda tímida por estar tão simples em meu vestido preto de corte reto e sem nenhum decote ou apetrecho.

— Oi — Minha voz sai quase como um miado baixinho, enquanto aperto mais o casaco de lã, que está entre os meus braços cruzados, contra meu corpo.

— Você poderia ter ido para a nossa mesa. — Ele esboçou um leve sorriso e colocou a mão nos bolsos da frente da calça social.

— E-Eu não sabia — Me atropelei com as palavras. — Então preferi esperar.

— Tudo bem. — Ele deu de ombros. — Só acho injusto uma dama esperar em pé.

— Oh, imagina. Estou acostumada a ficar em pé a maior parte do tempo. Faz parte do meu trabalho. — Ele assentiu.

— Vamos? — Indicou para o salão de mesas e seguimos.

O aroma dos pratos que me pareciam saborosos fizeram meu estômago protestar, mas para minha sorte o burburinho das conversas disfarçou tal gafe. Se Lia houvesse escutado com toda certeza me repreenderia e jogaria o fato contra mim, dizendo que ela tem toda razão quando pede para que eu me alimente, e não, eu não a desmentiria. O garçom puxou a cadeira para mim e sentei-me, Hyunwoo se sentou do outro lado da mesa redonda e pegou um cardápio. Mal tive tempo de perceber o que ele pedia ao garçom por estar tão absorta analisando seus traços faciais como se buscasse memorizar cada linha e cada falha para que eu não esqueça.

— Pedi um vinho tinto. — Ele tirou-me dos meus devaneios. — Espero que goste.

— Sim. Gosto mais do tinto do que do branco.

— Estou feliz que você veio. Eu geralmente sempre levo um fora, ou sempre sou deixado esperando, sendo que a pessoa nunca vem.

— Então é comum você salvar mocinhas ou mocinhos de serem atropelados pela bicicleta de jornaleiros? — Ele riu e eu senti um aperto em meu abdômen. Seu sorriso é tão glorioso que é impossível descrever.

Butterfly - Monsta XOnde histórias criam vida. Descubra agora