Capítulo 15

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Jardim do Éden

O asfalto está molhado, úmido pela chuva forte de pouco tempo atrás. Ainda estava na mercearia da avenida quando a enxurrada começou. Seguro a sacola de papel pardo contra o peito e sigo pela calçada a caminho de casa. O chão se assemelha muito a como estou por dentro. Totalmente inundada e encharcada pelas minhas próprias lágrimas internas. Estou em uma mistura de ódio, dor e sofrimento desde que conversei com Cléo. Não consigo tirar as coisas que ouvi na segunda-feira da minha cabeça. O 1988, o poeta de Kimmy, as flores favoritas, o cartão de H e a revelação deste como um empecilho na vida de Kimmy. Por que ela estaria tentando se afastar dele?

Já é sexta-feira novamente. Hoje faz sete dias da morte de Tom. Será que encomendaram uma missa para sua alma? Eu deveria ter feito isso, talvez redimisse um pouco da minha culpa por sua morte. Kihyun não me parece religioso e nem acho que com toda sua atual arrogância vá se preocupar com isso. Está frio, mesmo com o casaco grosso. A noite é rigorosa e nada amável com quem está do lado de fora. Minhas botas de cano curto fazem um barulho engraçado conforme ando até a minha casa. Olho para baixo e vejo minha sombra sendo refletida pelos postes e pelas luzes vermelhas do trânsito. Os faróis fazem a água acumulada brilhar em uma cor única no chão. Uma fina garoa retorna e vejo a mesma brilhando, conforme a luz bate em si, e descendo até o chão para deixá-lo mais úmido e escorregadio.

Volto a me concentrar na sombra, minha sombra, na sombra Madeleine no chão. Ela parece grande, mas minha estatura é baixa, ela parece forte, mas sou frágil. Não só frágil no sentido de força física, mas frágil como um todo, de forma interior principalmente. Escuto passos e vejo uma sombra ainda maior me seguindo. Meu coração bate rápido. Adentro a mão ao casaco e seguro a arma que está presa ao cós do jeans. Uma mão segura em meu braço me virando e aponto a arma para o rosto do indivíduo.

— Ei, calma Madeleine. — Hyunwoo levantou ambos os braços.

Afasto-me dele. É instintivo. Todo aquele desejo de querer, todos os pedacinhos que uni para ter a certeza de que queria ele por perto se quebraram. Guardo a arma engolindo um choro. A força que me atraia para ele, como aquela lei de Newton, agora me repele para longe como um imã de polos iguais quando aproximados. Só que de iguais não temos nada.

— Não faça mais isso. — É a única coisa que consigo dizer. Viro-me e volto a caminhar.

— Ei, Madeleine. Eu queria conversar com você.

— Não temos nada para conversar.

Ele segurou meu braço com força me virando outra vez, e em seguida me arrastou para a pequena viela, um singelo atalho para chegar a minha casa. Porque eu não ia pegar o atalho? Eu sempre procuro o caminho mais difícil das coisas. Tentei me desvencilhar de seu aperto, mas não consegui. Coloquei a sacola no chão assim que ele me soltou e empurrei o peito do mesmo na tentativa falta de afasta-lo de mim.

— Por que você faz isso? — Estou gritando. A histeria parece ter saído do fundo da minha alma. — Por que você faz da minha vida um jogo? Como os jogos da Danger? Quando eu acho que estou seguindo o caminho certo vem algo e fala: — Engrosso a voz. — Não Madeleine sua burra, você está errada. — Gesticulo com o indicador.

— Do que você tá falando? — Ele ainda está incrivelmente calmo.

— Eu tô falando que a minha vida é uma droga. Eu deixei de dar uma chance para o cara que gostava de mim a uns bons anos para "tentar" te entender e quem sabe... Sei lá. — Não quero admitir de cara o problema maior. — Aí, de repente, Scott está morto. Eu ia te contar isso de outra forma, mas quer saber? Eu estou pouco me importando agora. Eu achei que fosse você quem houvesse assassinado ele. Aí eu descobri no laudo da morte que não era possível. Depois veio o acidente da Kimmy, agora Tom. Eu estou confusa, frustrada. O delegado deve estar querendo me demitir e sabe por quê? Você sabe Hyunwoo? Porque a burra da Madeleine aqui está totalmente desfocada do caso por problemas amorosos. É isso mesmo! Eu, a coração de gelo, estou assim por sua culpa.

Butterfly - Monsta XOnde histórias criam vida. Descubra agora