O táxi andou lentamente, sentia os segundos escorregando pelos meus dedos. Finalmente chegou, paguei o que devia ao homem que me olhava feio. Meu peito doía, estava pesado e difícil de respirar. Eu não queria perder o Otabek. Por que porra eu me aproveitei dele bêbado? Sentia vergonha e medo. Sentia nojo do meu próprio corpo. Passei pelo saguão do hotel abraçando meu tronco, tentando esconder a nudez e evitando que meu corpo despencasse ali.
—Senhor?! O senhor precisa de ajuda? – a atendente dirigiu-se a mim. Me deixe, por favor! Apenas levantei a mão e fui compreendido. Não quero falar com ninguém.
Entrei no elevador e me abracei mais forte. Tudo acontecia em câmera lenta. Eu sentia dor no meu âmago, meus olhos ardiam. As portas se abriram, me arrastei até o meu quarto. Entrei, escorei na porta tentando puxar ar e escorreguei. A culpa me corroía. E se eu estivesse iludindo o Beka? E se ele estivesse magoado? Ele queria transar? Eu forcei a situação, não? Ele estava bêbado! Mas que porra! Eu não consigo respeitar? Ele me respeitou e cuidou da última vez, quando eu estava bêbado, porque eu não consegui fazer igual? Foi tão errado. Foi tão bom. Me senti tão completo e único.
Meu celular começou a tocar, me tirando do devaneio e me assustando. Peguei o aparelho e a tela indicava “DJBeka”. Ele está bravo, certeza. Ele nunca me liga. Aproximei-me da cama e me permiti escorregar para o chão, me afundando em lágrimas. De todos os meus erros, esse fora o pior? E se ele quiser me bater? E se ele achar errado também? O celular apitou, uma mensagem.
DJBeka: Yura, me atenda, por favor!
O desespero começou a me corroer. Ele só quer conversar, certo? Ele me chamou de ‘Yura’, está tudo bem, não? Assustei com meu celular tocando novamente e o mesmo nome aparecendo na tela. Não, não está tudo bem. Nada está bem. Abracei o celular forte, como se fosse um pedido para que ele parasse de tocar e fizesse silêncio. O eletrônico apitou mais uma, duas vezes. Não olhei. Permiti sentimentos negativos me tomarem e corroer a minha alma. Não conseguia puxar ar, apenas chorar. Soluçava e tremia. Estou com tanto medo. Alguém? Alguém me ajuda.
Otabek me odeia! Porra! Eu sou horrível! Eu sou um amigo horrível! Um amante horrível!
O celular se silenciou. Ele desistiu de mim, o que eu estava esperando? Sério? Ele merecia tanta coisa melhor. Uma moça linda, que amasse ele. Uma pessoa que não se aproveitasse dele. Uma pessoa que assumisse quem realmente é. Não um covarde como eu. Eu...
— Me perdoa Beka. – desbloqueei o celular.
DJBeka: Me responda Yura, por favor!
DJBeka: YURI PELO AMOR DE DEUS!
DJBeka: Me atenda, é sério.
DjBeka: me perdoa, meu amor.
DjBeka: Yura, pelo amor do que é mais sagrado, me atenda. Por favor!
13 ligações perdidas.
A última fazia 20 minutos. Ele desistiu.
“Meu amor”.
A frase fez meus olhos arderem de novo, ele não merece isso! Ninguém merece conviver com a falha que eu sou, que me tornei. Eu não mereço ele. Eu não quero o perder, mas eu não o mereço. Eu não quero deixar de vê-lo. Eu não quero sumir da vida dele como sumi da vida de Demyan. Não quero que meu avô o odeie. Eu quero ele. Eu quero meu Otabek. Eu quero viver tudo que eu não pude, sonhar e ser feliz, mesmo sendo errado. Eu não me importo mais que esteja errado, não quero que doa mais. Eu quero ser o que eu quiser, me permitir sorrir e beijar aquele que faz meu coração acelerar.
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One more night - HIATOS
FanfictionYuri Plisetsky é um jovem recém formado no curso de sonhos do avô. Vive uma vida que não escolheu e luta diariamente contra ensinamentos que lhe foram impostos quando criança. Yuuri é seu amigo de faculdade e depois do casamento com o Piloto Victor...