DIA 1.

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Os meus olhos tristes se perdem no infinito azul do céu, a expressão desoladora da minha face revela uma alma cansada e atormentada. Uma brisa suave começa a soprar neste momento, enquanto eu, continuo aqui, sentado no meio do nada, com o olhar perdido no infinito azul deste mar.
Meus dias se arrastam vagarosamente, nada mais faz sentido, tudo se esvai como o orvalho da manhã, sou apenas um poeta, um prisioneiro das palavras, encarcerado nas grades de versos sem rimas, riscados na tábua do meu coração.
    Daqui a alguns instantes o dia dará lugar a noite, e este fim de tarde melancólico será engolido pelos braços negros da noite, daqui a poucos minutos, todas as luzes se apagaram, e a minha alma adormece nas trevas de uma noite sem luar.
    De angústia se consome o meu coração, tristeza sobre tristeza, a alma inquieta, sem ter lugar, medo e pavor, incertezas corroendo por dentro; não vejo esperanças, só existe o medo e o pavor de dentro para fora. O que eu sou senão a própria face da melancolia, o reflexo da dor estampada no meu ser que aos poucos desfalece. Eu sou o medo, de tudo e de todos; medo da vida, medo de amar, medo de respirar, medo de responder, medo de me calar, medo de falar, medo do próprio medo figurando em mim. Eu não sei mais quem sou, ou o que eu um dia fui, ou o que um dia vou ser; sei apenas, que nada mais sei desta minha rude vida. Sou como nuvens sopradas por ventos impetuosos, sem saber para onde vai, sem saber de onde vem, apenas caminho errante pelas areias da praia.
    De angústia se consome o meu coração, talvez eu não seja mais poeta, talvez já não exista mais palavras bonitas dentro de mim, talvez hoje seja apenas mais um dia cheio de dúvidas e inúmeros porquês. A Itália já não é mais a mesma, suas ruas já não são tão belas, suas praças já não são tão floridas, suas esculturas estão distorcidas. Ou é isso, ou é o meu olhar de poeta louco que está defeituoso. Talvez Bernini seja o culpado, talvez o seu olhar de perfeição seja a causa de tanta beleza imperfeita em cada pedaço magnífico de pedra esculpida. Sei que sou louco, já me disseram e não me importo com isso, loucura faz parte de todos os seres humanos, é a força motriz que os move, é uma pena que poucos possam admitir tal maravilha, de que na verdade, somos todos desfigurados. Que me digam o contrário todas essas esculturas sem voz.
   Prefiro o silêncio da ilha, o isolamento neste novo mundo, nesta nova terra chamada Brasil.
A tristeza não tem tamanho,
Não tem forma,
Não tem cor?
Não tem cheiro,
Não tem nada.
A minha tristeza não tem tamanho,
Não pode ser medida,
Não pode ser ignorada,
É grandiosa,
É sem limites,
A minha tristeza é a sua também,
É de todos,
E não é de ninguém,
É de um poeta louco,
Que não sabe amar.

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