DIA 5.

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     Certamente que hoje não é um dos meus melhores dias, chove forte lá fora, é a primeira vez que chove aqui na ilha desde que eu cheguei, não gosto muito de tempestades, principalmente dos trovões, tenho pavor de trovões, e eles não param, a chuva parece mais forte agora, as correntezas formadas pelas águas da chuva parecem pequenos rios, levam consigo todo tipo de sujeiras, ao mesmo tempo que vai deixando pelo caminho outras tantas. Neste momento estou na minha velha cadeira de balanço, na varanda da casa observando a chuva cair, é fim de tarde e devido às nuvens, está tudo escuro, de forma que os raios cortam o céu de um lado a outro, um terrível espetáculo.
    Quando eu era criança, morria de medo de chuvas fortes, meu irmão mais velho, o Gustavo, brincava dizendo que ia me jogar na correnteza, para que ela me levasse embora, quantas vezes escondi em baixo da cama de meus pais. A chuva também me fez lembrar do dia da morte da mamãe, era um domingo, chuva muito, mamãe teve um infarto na cozinha da nossa casa, nunca vou esquecer aquilo.
   Já é noite, está bem frio agora, sinto falta de alguém para me aquecer, de alguém para conversar, de uma boa companhia. As vezes penso que estar nesta ilha não tenha sido uma boa idéia, mas enfim, aqui estou, e não pretendo voltar atrás agora, o que está feito está feito, não tem como voltar atrás.
Meu único amigo aqui é meu diário, ele é meu confidente, o guardião dos meus segredos, nos falamos todos os dias, sem falta.
Não costumo me atentar aos dias, mas hoje, justamente hoje, domingo, se comemora o aniversário de um certo anjo ledo, que conheci lá na Itália, que saudades dela.
    Mas não posso fazer nada, eu estou distante dela, e principalmente, de mim mesmo.  Quando penso nela, eu penso no amor, e o amor é uma rosa, o amor é o seu perfume entrelaçado entre os seus espinhos, o amor é a cor rubra de cada pétala, é o vigor do caule verde ao vermelho intenso no cume da flor.
    O amor é um pássaro que pousou em minha janela, soprou em meus ouvidos versos de um sentimento proibido, me disse que por isso eu seria poeta. O amor é esse pássaro do destino, de cores reluzentes, de canto que encanta, o amor é essa saudade doendo lá dentro da minha alma, no mais profundo do meu coração. O amor é qualquer coisa maravilhosa demais que eu não compreendo; o amor é esse tudo cheio de nada, é essa indefinição tão bem definida, afinal, o que é o amor?
    O amor são sonhos loucos de poetas insanos, é o brilho ofuscante do luar, é o cintilar de cada estrela, é o desmedido desejo da alma que sonha.
O amor... Talvez eu não o conheça; mas talvez eu já o conheça, talvez eu já o tenha visto pelas ruas de Gênova, talvez eu já o tenha visto no brilho dos teus olhos, na graciosidade da sua face, na perfeição de seus lábios, na sonoridade da sua voz, nos negros fios de seus cabelos, talvez eu já o tenha visto em você.
    O amor é você que não tem nome, que passa por mim todos os dias, acenou timidamente com meus olhos, você responde, estou te amando no silêncio da minha alma de poeta.

Como é grande esse amor,
Que me consome por dentro,
Como é bom esse sentimento,
Desnudando meu coração.

Os meus negros olhos que o diga,
Se as minhas lágrimas falassem,
As minhas incontáveis lágrimas,
Se elas se transformam em palavras,
Os livros do mundo inteiro,
Não as comporta.

Como é grande o que sinto,
Digo a verdade e não minto,
Esse amor me consome,
Lentamente dia após dia,
Até se transformar,
Em chamas flamejantes de amor.

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