DIA 3.

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( Lembranças)

    O que esperar de um dia extremamente frio, de um dia onde a cama tem um poder incrível sobre o nosso corpo, é como se eu estivesse amarrado por correntes poderosas, mas infelizmente eu tenho que levantar, tenho que criar coragem e ir a luta, me animar. Vou fazer um café bem gostoso, comer uma suculenta fatia de pão caseiro feito por uma senhora que mora aqui perto, e depois ir para redação do jornal, não gosto muito de comentar a respeito do jornal, eu nem sou um jornalista de verdade, fui convidado por um amigo, eu tenho uma coluna onde publico minhas crônicas as segundas - feiras e nas quartas também, nos demais dias ajudo o redator com a elaboração de algumas matérias, não é o tipo de emprego que eu desejo, mas ajuda a pagar as contas e de certo modo, facilita ter o meu nome em um jornal, me ajuda na divulgação dos livros.     Semana que vem tenho que ir na editora e tratar dos assuntos referentes ao meu novo livro de poesias, " Flores " O editor gostou, elogiou bastante, mas para mim ainda falta algo, sei lá, não consigo explicar, leio os meus poemas dezenas de vezes, troco palavras e versos a todo momento, e ainda sim, depois de publicado sempre me arrependo de não ter modificado um pouco mais, essa minha obsessão pela palavra certa, pelo verso correto, isso me deixa maluco. Deve ser coisa de escritor mesmo, conheço muitos colegas assim, até piores do que eu. Agora são exatamente oito horas da manhã, terminei de passar o café, quase tudo pronto, no meu velho rádio a pilha uma música bem agradável, em minha velha máquina de escrever um poema inacabado, acho que vou terminá -lo aqui mesmo no meu diário, se ficar bom reescrevo na máquina, o poemas fala do fingimento, de como nós somos fingidos o tempo todo e todo tempo.

Fingimos a dor
Fingimos o amor
Fingimos o medo
Fingimos a paixão.

E quando a fingida sombra noturna
Se sobrepor a minha sombra fingida
Ela ficará eternamente oculta.

Tudo converge ao fingimento
A fala do burguês
O pensamento alheio
E a promessa do político
Tudo é perfeito fingimento.

Fingimos aquilo que queremos ser
E o fazemos com muito esmero
Não por vontade fingida
Mas, por mera necessidade de fingir
Afinal, tudo é fingimento.

Fingimos de olhos abertos
Fingimos de olhos fechados
Fingimos enquanto dormimos
Fingimos estando acordados
E quando estivermos cansados
Teremos então percebido
Que tudo o que fizemos foi mero fingimento.

    Lembro-me de quando eu era jovem, Lembro-me perfeitamente daquela face mais brilhante do que as estrelas que neste momento contemplo. O seu olhar, ah... Como eu poderia esquecer aquele olhar, maravilho como a noite escura.
     Lembro-me das tuas macias mãos tocando meu rosto, Lembro-me com dor na alma, Lembro-me do calor da sua pele, ah.... Como eu poderia esquecer aquela pele que queima, incendeia o peito inteiro, hoje estou velho, atormentando por todas essas recordações, sou apenas um barco sem rumo, Vagando ao léu nesta ilha solidão.
    Levanto - me do lugar onde estou, me retiro para minha humilde cabana, feita de tijolos vermelhos, muito aconchegante, adoro o silêncio que faz aqui, é absoluto, silêncio de paz. Abro a porta do meu pequeno palácio, bem ao centro, está uma pequena mesa de madeira, minha cama fica mais ao lado esquerdo. Aqui passo meus dias de reclusão, dias inteiros de recordações, sempre caminhando, às vezes na areia da praia, às vezes mais afastado dela. Meu dias nessa ilha não tem hora certa, faço tudo o que me vêm na cabeça. E as lembranças… São como as ondas do mar…

As ondas do mar,
Se derramam silenciosas na areia da praia,
Suas espumas todas esbranquiçadas,
Dobrando - se por sobre as ondas,
Rodopiando como uma saia,
Águas nuas que não sabem amar.

Ondas de águas geladas,
De um imenso azul fim,
Ondas sem destino navegando errantes,
Ondas de poetas loucos e amantes,
Oceano infinito dentro de mim,
Despertando quimeras adormecidas.

Ondas de pura beleza,
Netuna flor do mar,
Labirinto de angústias e dor,
Alcatraz do aedo sofredor,
Falam que ainda não aprendi amar,
É só me expresso em versos de tristeza.

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