DIA 17.

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    Hoje eu vi uma pessoa, isso mesmo, uma pessoa, quando eu caminhava pela praia; isso me deixou bastante assustado. A coisa toda se deu da seguinte maneira:
" Como estava uma manhã muito agradável, fui fazer a minha caminhada costumeira a beira da praia. A princípio nada vi, mas de repente, a uns vinte metros de mim, lá estava aquela figura esguia, sem camisa, parada de costas para mim; fiquei observando, no início pensei que fosse o senhor que fica no cais da ilha, mas não era, essa figura estranha era mais alta do que o senhor lá do cais. Ele então começou a caminhar, lentamente, me coloquei a segui-lo, sempre mantendo uma distância segura para que ele não percebesse que eu o seguia; caminhamos por volta de meia hora, em momento nenhum ele olhou para trás. De repente, ele parou, eu também parei; ele virou o rosto levemente para o lado contrario do mar, assustado me escondi para que não fosse visto, eu continuava a observá-lo. No momento em que fechei os olhos para limpar o suor do meu rosto, veio a surpresa; aquela figura estranha desapareceu, simplesmente desapareceu; eu o procurei por todos os lados, nada encontrei, e o que mais assustou é que nem pegadas dele havia na areia, é como se ele nunca tivesse passado ali. Seria ele um fantasma? Uma visão? Ou mais um dos delírios de minha mente doente? Eu não sabia o que pensar."

    Retornei para casa, confesso que muito preocupado, pela primeira vez me questionei, se realmente era certo o que eu estava fazendo, me isolando do mundo naquele lugar estranho. Talvez seja esse o momento de sair um pouco dessa ilha, pegar o barco no cais e ir até a cidade mais próxima, ter contato com pessoas de verdade, ter diálogos com pessoas de verdade. Era isso o que eu faria, não me custaria nada tentar me socializar, ver de perto a alma humana.

A sombra esguia estranha,
Caminhando na areia,
Sombra alheia,
Sombra medonha.
Vestes rasgadas ao vento,
A passos curtos sem direção,
No meu peito o coração
Batia temeroso sem entendimento.
A sombra esguia,
Fúnebre e sombria,
Desapareceu tão de repente.
Caminhou sem deixar pegada,
Seria o reflexo de minha doença?
Vagando sem esperança.

 ( Rascunho prosa-poético )

    Então foste tu, ó coração maldito, tu que de contínuo feres a minha alma, afligindo-a com angústias intermináveis. Foste tu, ó coração maldito, que me enganavas o tempo todo, foi tu o perverso coração; tu que roubastes a alegria dos meus lábios, és tu que provocas as minhas lágrimas, estou cansado de sofrer.
    De gritar já não aguento mais, o mundo desabou sobre os meus pés, não suporto mais a dor que me corrói por dentro.
    O que eu mais desejo neste momento, ó coração pérfido, é apenas derramar muitas lágrimas, quero que o meu ser se acabe em tristeza profunda, quero caminhar nesta praia de dor até não ser mais visto; traiçoeiro sentimento que me desnuda.
    Crave em meio seio à adaga cruel, as lâminas de todas as espadas, craven para sempre em meu peito, vida desventurada e cheia de venenos.

Hoje quero apenas a solidão,
Embriagar-me no cálice da dor,
E gritar de amor,
No silêncio vermelho de meus olhos.

    Não compreendendo este mundo complexo, com todas essas pessoas confusas e distantes, não compreendo este mundo que existe dentro de mim, eu mesmo o criei e confesso que não o compreendo; não quero mais viver nele.

Que sejam essas,
Minhas últimas palavras poéticas,
Que nenhum mortal,
Leia outro verso meu,
Este poeta hoje morreu para o mundo,
E talvez ele nasça para si mesmo.

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