DIA 2.

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    Meu coração é um navegante angustiado nas turbulentas águas desta vida, eu sou apenas um marinheiro sem experiência, sem saber para onde navegar. O dia está indo embora, e a noite o abraça com toda a sua força, eu continuo aqui, sentado no meio do nada, a minha frente apenas o som do mar, com suas ondas quebrando na beira da praia, as águas geladas molham meus pés já cansados.
Procuro em meus pensamentos um certo sorriso de anjo ledo, as lembranças daqueles momentos de prazer, dos instantes de descontração, mas o que eu sou senão um velho lobo do mar, um solitário na areia da praia, procurando no reluzir das ondas, a doce luz que ilumina meu coração, enquanto meus olhos cheios de lágrimas se derramam nas águas do oceano.
    As lembranças são semelhantes às ondas do mar, vêm e vão, trazendo algumas coisas já adormecidas, e levando outras para as profundezas das águas do esquecimento. Lembranças são como o vento, soprando na memória as desventuras de nossas vidas, os nossos momentos de dor, Amor , e angústias.
   Desde aquela tarde em que você partiu, eu nunca mais fui o mesmo, naquele dia resolvi me afastar do mundo, das pessoas e da sociedade, agora vivo assim, isolado na ilha solidão, cercado pelas ondas do mar e pelos animais selvagens da ilha, sou mais do que um simples velho isolado, sou um prisioneiro de mim mesmo, dos meus próprios medos , dos meus anseios, de minhas neuroses.
    Sou um poeta solitário, escrevendo na areia da praia os seus versos de solidão, até que vem as ondas e arrastam todos eles para as profundezas sem fim, hoje é apenas mais um dia comum onde o nada é a novidade principal.
     As vezes, eu espero desesperadamente pelo amanhecer, não sou o tipo que aprecia a noite, não sou do tipo boêmio, apesar de ser poeta, não sou filho da lua, e tão pouco a tenho como musa inspiradora, raramente saio a noite, só em caso de grande necessidade, sempre foi assim desde Gênova, é não pretendo mudar agora.
    Espero com ansiedade pela luz do sol da justiça, espero com grande expectativa por ele, sou filho do dele, sou filho da luz. Acontece que, de uns tempos para cá, não tenho dormido bem a noite, no máximo três horas de sono, e o motivo, para ser sincero não sei. O silêncio é absurdamente perigoso para mim, há qualquer coisa nele que não compreendo, um mistério talvez, todas as vezes que faz silêncio, minha consciência desperta, consciência acusadora, me dizendo o tempo todo aquilo que não quero ouvir, dizendo sem ter palavras, sussurrando no âmago do coração.
    Me sinto muito solitário agora, e, não consigo entender o motivo de tanta solidão quando na verdade estou cercado de pessoas imaginárias, visões e delírios, ou de fato são reais? Eu não sei o que está acontecendo, é inquietante estar só no meio de uma ilha cheia de fantasmas, às vezes nada mais tem importância para mim, as vezes tudo tem importância para mim.

O olhar inocente daquele menino
Refletia o céu com todas as suas cores
Cores que explodem a todo instante
Faiscando para todos os lados
Ao estridente barulho dos rojões.

As pequenas mãos do menino sobre a face
Boquiaberto sem nada a dizer,
Sentado em um banco de concreto,
Do ponto mais alto de uma cidade qualquer,
Admirando o festejar dos homens ocos,
Transeuntes do mundo bêbado
Espalhados para todos os lados.

Do alto da cidade alheia, e de barriga vazia,
O rosto dele estava pálido, a fome era intensa,
Lágrimas de quem não tem sonhos
Apenas uma dor dentro da alma
dilacerando seu coração amargurado
Aquele menino solitário,
Contemplou a virada de mais um ano
Um ano que passou sem muitas esperanças
E outro que chega também sem esperanças.
Aquele menino era eu,
Aquele menino sou eu,
Aquele menino é o que sempre serei.

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