DIA 9.

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    Nada como um dia após o outro, nada como o silêncio para falar dentro da alma, sou mais discípulo do silêncio do que das palavras, sou do tipo que ouve mais para falar de menos, do tipo fechado, quieto, de poucas amizades, contrariando completamente minha natureza Italiana; para ser sincero, não compreendo a incompreensão dos outros a meu respeito.
Houve um tempo de destruição na minha vida, tempo de crises fortes, me afundei na depressão, perdi quase tudo, embora eu não tivesse nada, mas até esse nada foi embora.
    Lembro-me que no ano de oitenta e dois, período esse que morei em Roma, bem próximo a luxuosa residência papal, naquele ano tive que fazer psicoterapia, foi proveitoso, todavia, o meu comodismo de sempre, derrubou tudo o que eu estava construindo, sem dizer na ..... Bom, prefiro não falar sobre isso agora.
     Anjo ledo dos meus sonhos, o grande amor entre poucos amores, a grande paixão do poeta, Desenfreado sentimento que me trouxe a ilha solidão, que meus versos cantem o meu silêncio em tortuosas rimas, aqui confesso minhas angústias, nas silenciosas páginas de meu diário.

Na imensidão desse mar,
No infinito azul que se perde,
Vejo barcos a navegar,
Distantes da areia da praia,
Sempre ao norte e sem destino,
Neste anil celeste de solidão.

Sou um observador silencioso,
Um poeta solitário,
Catador de palavras ao vento,
Que despretensiosas,
Aprenderam a voar.

Estou preso a este cárcere envelhecido,
Por isso me faço esquecido,
Não desejando desejar,
Mas o coração teimoso,
Ainda mais vai te amar.

Quem sabe um dia,
Estes versos atravesse o mar,
Quem sabe volte a Itália,
Na intenção de te encontrar,
Enquanto isso sou poesia,
Na salobra água desse mar.

( um dia qualquer na Itália. )

  
    Estrelas que no firmamento cintilam, estrelas errantes, estrelas napolitanas, estrelas romanas, estrelas Italianas, testemunhas silenciosas de minhas lágrimas sem fim. Luz do luar que reflete as minhas pequenas gotas de angústias, meu desespero escondido na alma de um poeta sem palavras.
    Caminho pelas ruas desertas sem destino certo, apenas caminho nestas ruas estreitas, sem ter para onde ir, sem nunca querer chegar a algum lugar, sem nunca querer voltar. Quando encontro qualquer coisa ou onde ficar, ali fico a observar, eu apenas caminho cabisbaixo e contemplativo nas minhas incertezas, nas pacatas ruas de uma Itália de pedra, que ainda dorme na madrugada escura.
    Tenho um universo inteiro de questionamentos dentro de mim, um universo inteiro de incertezas, de tristezas profundas e amores platônicos, palavras que nunca vão ser pronunciadas. Mas afinal, as melhores palavras sempre serão aquelas que nunca foram ditas, minha vida é confusa e complexa demais, as vezes sem sentido, às vezes sem razão, apenas vou caminhando nas estradas desta vida para cumprir minha sentença de existir.
Estrelas que no firmamento cintilam,
Estrelas sem pudor e sem medo,
Estrelas sem pecado e nem culpa,
Estrelas andarilhas das madrugadas.
    Meus olhos, perante as estrelas, se tornam indignos de contemplá-las, deliram de amor, a beleza e a majestade infinita no olhar de Larry, estendida com doçura no céu da minha alma. Mas sou apenas um vulto poético, arrastando pela vida meu saco furado de versos, tentando inutilmente desnudar dos prazeres do meu coração.
    Esse sentimento tão perfeito e complexo, é a causa de minha insanidade, da minha insensatez, este sentimento confuso e perturbador, é o dosador de minhas lamúrias diárias em versos tortos.
    Apenas fecho os meus olhos, comprimindo cada lágrima minha, e continuo a caminhar por essas ruas italianas, a esmo, sem ter hora para chegar, quero apenas caminhar um pouco mais, sem ter palavras nos meus lábios, que de cerrados que estão, pela tristeza talvez, em mim se faz um túmulo de silêncio.
    Eu a desejo, mas não sei se ela me deseja na mesma intensidade, talvez seja apenas educação da parte dela aceitar as minhas rosas vermelhas, ou talvez seja amor verdadeiro, talvez seja loucura da minha parte pensar em tudo isso da maneira que estou pensando, mas este sou eu, um ser cheio de questionamentos internos que só os meus diários compreendem.

Desejo com todas as forças do meu coração,
De uma forma sublime,
Sem explicação lógica,
Eu desejo a seiva daqueles lábios,
Em cada sonho meu.

Desejo o toque suave daquelas mãos macias,
Desejo o perfume de rosas que exala de seus seios,
Desejo loucamente como a desejo,

Talvez um dia desses,
Esses meus desejos insanos,
Tornem - se em realidade,
Ou talvez jamais se realizem.

Mas de uma coisa eu sei,
Nunca deixarei de desejar,
Todos os dias vejo você,
Tão perto de mim e distante ao mesmo tempo,
Tão próxima das minhas mãos,
E talvez do meu coração.

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