DIA 30.

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    Nada tenho a declarar neste dia tão escuro, tão negro, tão triste, eu quero apenas o silêncio, calmo silêncio, aterrorizante silêncio.

Não quero o mar com suas ondas
Não quero as ondas em meus pés
Não quero a sombra me acolhendo
Não quero o som dos pássaros
Não quero a brisa que assopra
Não quero palavras ao vento
Não quero nada
Não quero o medo
Não quero a angústia na alma
Não quero sofrer
Não quero chorar
Não quero mais
Não quero
Não

    Basta a tristeza deste dia anjo ledo, basta isso é nada mais, talvez eu diga adeus, talvez anjo ledo, talvez.

( Lembranças )

    Você estava entre as colunas de mármore do templo de Afrodite na primeira vez que a vi, magnífica como um anjo ledo, vestida de beleza e banhada pela luz do sol.
    Tuas vestes de linho fino, longas lívidas e transparentes, permitia que a luz do sol delinear as curvas de seu majestoso corpo de inegável perfeição. Quase enlouqueci ao vê-la ali próximo da fonte. Naquele instante meu coração foi tomado pelas chamas do amor, chamas que ardiam no mais profundo da minha alma, chamas de um descomunal amor de primavera.
    Naquele instante uma lágrima solitária nasceu de meus olhos, e o meu coração começou a bater completamente descompassado, com as mãos em meu rosto pasmo eu não acreditava que diante de mim estava à face do amor.
    Minha vida mudou depois daquele instante, nunca mais seria a mesma, passei a frequentar o templo de Afrodite regularmente, na expectativa de vê-la novamente.
    Dias depois lá estava você, próximo a fonte do amor, sua face emanava formosura, suas vestes eram mais alvas que a neve; e em seus negros cabelos havia uma tiara de flores do campo. Definitivamente na terra não há nada mais belo que este anjo ledo.
    Eu me escondi atrás das colunas de mármore, fique observando a minha deusa da beleza, talvez seja ela a própria Afrodite personificada, meu coração estava rendido ao seu amor, rendido a perfeição daquele corpo, anjo ledo sem asas que arrebatou a minha alma e aprisionou meu coração. Os seus negros olhos são como chamas a infiltrar dentro de mim, inescapável sentimento dominador.
    Eu não sei o nome dessa ninfa, quero apenas chamá-la de anjo ledo, por ser a mais bonita forma feminina que os meus olhos já viram, ela sempre está no templo de Afrodite, quando não está na fonte do amor, está no jardim primavera, brincando entre as flores e lhes causando inveja com sua beleza e perfume.
    Sou um observador de sua majestade augusta, um espião do templo, um poeta sem nome perdidamente apaixonado, trago comigo um amor sem igual, e nas minhas palavras o hidromel dos deuses, embebidas do mais puro amor.

Flor do amor,
De olhar tentador,
Roubastes o meu coração,
Deixando-me em aflição,
Sei que vou te amar,
Com toda minha força te amar,
Por toda minha vida te amar.

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