DIA 13.

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     O sol se levanta com lentidão no horizonte, despontando toda a sua majestade, e os seus raios primeiros faíscam os seus matizes na face do mar, de repente, tudo fica dourado parecendo um mar de ouro puro, em silêncio contemplo o espetáculo de mais uma manhã na ilha solidão, embora eu não esteja tão só, as mais belas aves me fazem companhia, espalhadas pelas árvores de toda a ilha, todas elas cantam lindamente; belas canções ao surgir da aurora.
    Se o paraíso de Adão não foi neste lugar maravilhoso, certamente que este lugar ficou entre uma das escolhas divinas, nada é mais majestoso, simplesmente perfeito, palavras não podem traduzir tal beleza, por mais inspirados e belos que sejam os meus versos, ainda sim são insuficientes para descrever esse lugar.
    O som das ondas quebrando nas pedras, os pássaros, enfim, tudo aqui é um quadro da perfeição, talvez até demais. A única coisa que me assusta é a ausência de certo anjo ledo, seria este anjo real? Ou fruto da minha imaginação, da minha loucura, da minha mente esquizofrênica.
    Estou condenado nesta situação, a reclusão, as constantes visões com o anjo ledo, o preconceito das pessoas que não compreende minha doença, às vezes quando me deparo diante do espelho, me pergunto se tudo isso é real, se está valendo a pena.
    Sinto falta do meu anjo ledo, este paraíso sem o meu anjo ledo não é um paraíso, é apenas uma prisão cercada de água para todos os lados, sou apenas um poeta enlouquecendo solitário em uma ilha deserta.

O tempo foi cruel e carrasco,
O tempo foi escasso,
De repente tudo mudou,
De repente tudo passou.
Passou o tempo da fantasia,
Passou o tempo da alegria,
E este velho coração,
Batalha no peito sem emoção.
Vivi em função de amar,
Mas quem vai me explicar,
Este sentimento tão cruel.
A minha alma é cheia de medo,
Chora a ausência do anjo ledo,
O tempo não volta mais.

    Já é noite na ilha, silêncio absoluto, estrelas vagam no céu, no coração( lembranças de minha Itália ).
    Estrelas que no firmamento cintilam, estrelas errantes, testemunhas silenciosas de minhas lágrimas sem fim. Luz do luar que reflete em pequenas gotículas de angústias, o meu desespero escondido.
    Caminho pelas ruas desertas de uma cidade sem nome, meu destino é incerto, apenas caminho nestas ruas romanas, sem ter para onde ir, sem nunca querer chegar, sem nunca querer voltar, apenas caminho cabisbaixo e contemplativo nestas pacatas antigas.
    Tenho um universo inteiro de questionamentos dentro de mim, um universo inteiro de incertezas, um universo inteiro de tristezas profundas e amores platônicos, palavras que nunca vão ser pronunciadas. Minha vida é confusa e complexa, sem sentido, sem razão, apenas vou caminhando nas estradas desta vida para cumprir minha pena de viver.

Estrelas que no firmamento cintilam,
Estrelas sem pudor e sem medo,
Estrelas sem pecado e nem culpa,
Estrelas andarilhas e belas.

     Meus olhos, ó, estrelas; são indignos de contemplá-las, a sua beleza de majestade infinita estende-se com doçura no céu. Mas sou apenas um vulto poético, arrastando pela vida seu saco de versos tortos, tentando inutilmente desnudar dos prazeres desta vida. Esse sentimento tão perfeito e complexo é a causa de minha insanidade, da minha insensatez, este sentimento confuso e perturbador é o dosador de minhas lamúrias diárias.
    Apenas fecho os meus olhos, comprimindo cada lágrima minha, e continuo a caminhar por essas ruas romanas, a esmo, sem ter hora para chegar, quero apenas caminhar um pouco mais, sem palavras nos meus lábios, que, de cerrados como estão se fazem um túmulo de silêncio.

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