Tudo pode e de fato muda

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Os raios de sol entravam pelas brechas da janela, anunciando que fazia um calor considerável naquela manhã, quase meio-dia de um Sabádo.
Me revirei na cama, procurando o celular, com cara de ontem. E sem encontra-lo abri os olhos tentando lembrar onde estava, ainda tonta pela bela farra da noite anterior. Rí sozinha, por perceber que estava em casa. O quarto estava vázio a não ser por mim mesma que ainda nem havia me recuperado da enorme ressaca que me encontrava.
Cabelo muito embaraçado, rosto com marcas do lençol, cama bagunçada, roupas pelo chão. Um belo exemplo de alguém que chegou em casa na madrugada após tomar todas as bebidas do mundo.
Aquela era a minha vida. Noitadas intermináveis, muita bebida, muitos amigos, muitas mulheres, nenhum compromisso e muito menos responsabilidades, a não ser com meu trabalho de supervisora de caixa em uma casa noturna, minha religião, comigo mesma e com uma gatinha angorá de pêlos brancos apelidada pelos amigos de farra de "Mingau".
Procurei em vão o celular pela cama, e já estava prestes a pegar no sono novamente quando ele começou a tocar. Estava no chão por debaixo da calça jeans...
Visualizei o nome da minha Yalorixá e tive de atender.
Esquecendo totalmente o combinado que havia feito com ela...
-ALÔ! ISSO É MALDADE ME ACORDAR NO MEIO DA MADRUGADA...(falei dando uma risada)
-MADRUGADA? CADÊ A VERGONHA NA CARA? MISTUROU COM A BEBIDA E ENGOLIU TODA ONTEM? DESDE CEDO TE ESPERO PRA PODERMOS SAIR PRA FESTA NA CASA DE PAULO. (falava entre risos e quase vontade de me trucidar) ESQUECEU QUE COMEÇA AS 15:00hs E JÁ SÃO QUASE 13:00hs? AINDA PRECISAMOS NOS ARRUMAR E IR, VOCÊ SABE QUE É LONGE.
-AI YÁ, NÃO QUERIA IR, TÔ COM DOR DE CABEÇA E...(menti)
-E NADA! COMBINADO É COMBINADO E NÃO ME FAÇA PASSAR RAIVA...SE AJEITE E VENHA PRA MINHA CASA, ALMOÇAMOS, NOS ARRUMAMOS E VAMOS TODOS JUNTOS. FIZ ATÉ COMIDINHA PRA VOCÊ, ESTOU TE ESPERANDO, TCHAU.
Só ouvi o tú-tú-tú da ligação. Não me deixou nem arranjar uma desculpa para não comparecer a tal festa.
Olhei pra um lado, para o outro e não havia jeito. Mesmo se estivesse em um leito de hospital, ela me faria ir.
Levantei da cama, mas senti que minha alma ainda estava deitada alí deitada, sem nenhum ânimo e resmungando muito me encaminhei para o banheiro tentar tomar banho pra acordar os "sentidos" que ainda não haviam voltado para o corpo.
-Bom dia mingau! Quem é a gatinha mais linda da mamãe? Ela me olhou com aquele típico desdem felino e nem me deu atenção, parecia que estava com raiva de mim por te-la deixado praticamente a noite inteira sozinha.
-Eu hein!!! Que mau humor! Parece até que é você quem está de ressaca... Quer comidinha pra amar a mamãe de novo?
Miau!! Desceu do sofá e correu pro pratinho se enrolando nas minhas pernas.
O celular começou a tocar e era ela... de novo!
-EU POSSO TOMAR BANHO? (respondi rindo muito)
-POR FAVOR! E POR FAVOR NÃO DEMORE, SÓ LIGUEI PRA ME CERTIFICAR QUE JÁ ESTAVA ACORDADA.(risos)
-RELAXA, VOU CONTRA A VONTADE, MAS VOU ASSIM MESMO! TCHAU.
-TÁ! TCHAU!...(desligou)

Coloquei o celular calmamente para carregar, procurei uma roupa leve, sem pressa alguma, com o real intuito de me atrasar.
Não queria ir aquela festa.
Não por está de ressaca, ou querer aproveitar um dos meus únicos sábados de folga do mês fazendo outra coisa sei lá. Mas algo me chamava aquela festa.
Depois de escolher a roupa pra sair e consequentimente a roupa para a festa de candomblé, enfim entrei no box, e cantarolando Lulu Santos "Todo mundo espera alguma coisa, de um sabádo a noite". Jamais imaginaria que aquele sábado iria mudar completamente a minha vida.
Depois do banho me animei, cantando e me vestindo para sair. Mingau só me observava preguiçosa do sofá.
-Vem dá um beijinho na mamãe mingau? Não? Mamãe vai sair e não demora...Se comporte hein?(conversava com ela enquanto pegava um suco na geladeira)
Peguei a mochila com roupas, celular, as chaves do carro, dinheiro e cigarros. Me certifiquei de fechar as portas, janelas e saí, entusiasmada não sabia com o quê.
Na garagem, meu carro estava numa total bagunça, rí de desespero pois iria chegar na festa com o carro sujo e como uma boa libriana, detesto passar uma imagem de desleixada.

Resolvi que depois de almoçar ia passar em algum lava-rápido e dá uma ducha nele, pra melhorar um pouco a imagem.
Entrei, liguei o som dei partida e saí.
Sabe quando algo dentro de você manda uma espécie de alerta e você só não sabe qual aréa da sua vida vai mudar?
-Espero que não seja na minha aréa sentimental. (pensei alto)
A muito tempo desisti de me apaixonar, de me dá o luxo de viver algo com alguem, de me entregar...e quando tentava um  relacionamento sempre me machucava,ou machucava a outra pessoa.
Relacionamentos fálidos, vida de solteira, farras, totalmente inerte a qualquer sentimento mais profundo. Pensei em como tão bom seria me apaixonar por alguém enquanto ouvia uma música melancólica naquele dia de sábado tão ensolarado no calor de de Fortaleza.
-Ihhh(falei pra mim mesma) larga isso, você é muito feliz sozinha, só você e sua vidinha, então enjoy! (Tentando me convencer disso) Troquei bruscamente a música no rádio pra uma mais animada.

Estacionei na frente da casa da minha Yalorixá, desci ao som das palavras dela:
" AINDA BEM QUE JÁ CHEGOU, ATRASADA, MAS PELO MENOS VEIO..."
-Oi Yá, tudo bom? tô morta de fome. Tem o quê pra comer? (Rindo)
-Bom, comida não falta, vai lá na cozinha e sirva-se, depois vai pro quarto do Felipe e se arruma, quero você decente hoje...
-E quando fui indecente? (Falei)
-Nunca. Mas é sempre bom lembrar (rindo alto ela me respondia animada).
-Yá (falei) que tal sustarmos essa festa de candomblé e irmos para praia comer camarão? Tá um sol tão lindo...
(A negativa foi geral dos que lá estavam)
-NÃÃÃÃO MESMO!!!! A festa vai ser linda e não quero perder nem por todo camarão do mundo! Apesar da proposta ser tentadora.(ela falou fazendo cara de triste)
Pelo menos tentei né?(pensei).
-Vou me arrumar então. Mas já vou avisando que irei passar no lava-rápido pra dá um up no meu carro que está terrivelmente sujo.
- Tudo bem, só espero chegar antes de começar. (falou enquanto se maqueava).

                                                                                       ***

Até depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora