O inesperado pode acontecer

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-Então é você a famosa Ekedjí que canta samba depois dos candomblés de Fortaleza!? O prazer é todo meu, sua fama já corre longe hein?! Já chegou na roda dos amigos da turma de antropologia (falou rindo)

Enquanto ela sorria, milhares e milhares e milhares de borboletas no meu estômago brotaram do nada, e de puro nervoso dei uma risada.

-Bom, a Ekedjí pode até ser eu mesma, mas a fama é bondade sua. Tomara que isso me traga bons frutos, porque dinheiro ainda não trouxe! -rimos juntas.
-Bem, se não trás dinheiro, trás outras coisas. Todos os olhares no samba eram seus, notei vários na sua direção, inclusive de minha amiga mais recatada. (Notei uma risada maliciosa)

-Que isso! Deve ser impressão sua. (Justifiquei, tentando fugir daquele assunto)

-Hum,sei. De qualquer forma posso pedir uma música exclusivamente para mim Ekedjí sambista? (Me fitou em tom desafiador)

-A vontade. Mas continue bondosa porque meu repertório não é tão vasto.

-Quero a música "A loba" da Alcione. Reflete exatamente esse exato momento. (Me olhou fixamente e abriu um largo sorriso, daqueles que apareciam as covinhas e o olhos ficam apertadinhos)

-Seu desejo é uma ordem, hoje essa música será sua. (Falei me sentindo o próprio Johnny Depp no filme Don Juan de Marco)

-Prove. (Falou realmente me desafiando)

-Agora! Vamos entrar? (Falei)
-Vamos...

Todo meu nervosismo de antes sumiu como por encanto.
Me senti segura, talvez pelo fato de está um pouco alta, ou por ela ter me desafiado a cantar uma música que eu já havia cantando tantas vezes que já sabia a letra de côr e salteado. Entramos juntas na varanda onde o povo já havia sentado e curtiam um samba canção sem nenhuma empolgaçao.

-VENHA CÁ COISINHA LINDA DE MAMÃE!!! -falou minha Yá um pouco "alegre" assim que me viu!-CANTE UMA MÚSICA PRA MIM, QUALQUER UMA DO DIOGO NOGUEIRA!
-Ok Yá, a senhora que manda!
O grupinho se animou, e os convidados também...

Puxando um banco alto e me sentindo loiro, alto e bonito igual o Diogo Nogueira puxei o samba: (verdade Chinesa)

"Era só isso que eu queria da vida, uma surpresa, uma ilusão atrevida que me dissesse uma verdade Chinesa, com uma ilusão de um beijo doce na boca...".

Levei o samba até o final e emendei, falando igual Xande de Pilares: Segura, segura, segura! Que agora atenderei um pedido especial e exclusivo. " A loba".

O grupinho entendeu e desceu ao tom da música. Olhei pra ela e o sol já quase nascendo naquela hora...
"Sou doce, dengosa, pólida. Fiel como um cão, sou capaz de te dá minha vida, mas olha não pise na bola, se pular a cerca eu detono comigo não rola. Sou mulher de me entregar de corpo e alma na paixão. Mas não tente nunca enganar meu coração. Amor pra mim, só vale assim: Sem precisar pedir perdão".
E ela, não desviava o olhar de mim nem por um instante.
Depois de muito tempo eu entendi o porquê ela pediu exatamente aquela música, e não sabia que a letra dela seria o maior desafio da minha vida amorosa.

O sol já estava alto e todos aproveitando o jantar de Sábado que virou churrasco de Domingo sem sair do lugar. Mais convidados que se foram na madrugada, retornaram trazendo cervejas, carnes e a festa continuava muito animada ao som de pagode agora já no aparelho de som de um dos carros na garagem, chuveirão ligado. Animação de uma tipíca manhã de Domingo.
Eu por outro lado havia parado de beber a tempos e agora já ajeitava as coisas pra ir embora, sempre dando uma olhadinha lá fora.
Estava no barracão ajeitando as roupas do candomblé quando ela apareceu no portão principal.
-Clara? Vim me despedir. Obrigado pela recepção maravilhosa, o xirê foi lindo e o jantar ótimo, seguido do samba que foi muito animado.

Até depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora