Até depois do fim

Seguindo as regras

Durante o trajeto de volta para minha casa. Tentei refletir sobre todas as regras.
Sabia que minha vida ia dá uma guinada de 360 graus.
Mas estava disposta a seguir fielmente aquela prova de fogo. E, não...definitivamente não seria nada fácil.
Já estava tão acostumada a minha vida "Desregrada" que seria díficil ter agora, que seguir aquilo tudo.
Mas veio a mente a imagem do rosto dela, seu sorriso, seu toque, seu cheiro, e sua voz no meu ouvido "Me espera", "serei sua".
Tive que me concentrar, pra não perder a direção e causar um acidente.

Meu bairro era enorme. Mas minha casa ficava dentro de um pequeno condomínio. A maioria dos vizinhos se conheciam e eram amigos. Adorava a rua da minha casa. Plana, limpa, muitas árvores, e tinha um parquinho no final dela. Além de ser muito calma e segura. Quando cheguei, acionei o portão eletrônico de longe e já ia pondo o carro na garagem. Quando minha vizinha, uma senhora que era muito amiga de minha mãe me viu e já me chamou.
-Clarinha! Fiz uma lasanha daquele jeito que você gosta. Sua mãe me ligou. Põe o carro para dentro e vem aqui pra conversarmos um pouco. Preciso te contar as novidades. (Falou dona Marta, que era tipo uma nona Italiana, eu a considerava tipo uma tia. Além de ser praticamente da familia até os dias de hoje)

-Ta bom Martinha, volto já já. (Lembrei da regra da Rafa, mas eu estava em casa, então não burlei nenhuma regra) estacionei o carro na garagem, calmamente entrei. Coloquei o celular para carregar. E comecei a digitar uma mensagem pra ela.
"Cheguei em casa tá? Tá tudo bem por aí?" ela não estava online, lembrei que ela talvez estivesse ocupada com seus avós.
Deixei o celular carregando e fui na casa de Martinha. Que já me esperava na calçada.
-Clarinha, sua mãe ligou pra rua toda. (Falou rindo)-ela estava preocupada, falou que tinha sonhado com você, e como você não ligou pra ela, e nem atendia as chamadas dela, me ligou e perguntou se eu sabia onde você estava. Falei que você estava bem e estava na casa de candomblé pois a casa ia dá uma festa, aí ela sossegou. Você está com uma cara ótima, o que houve? (Falou tirando o prato com a lasanha no microondas)
Automaticamente lembrei de uma das regras. Nada Martinha. Estou tranquila, a festa foi um sucesso. E só estou muito cansada, mas terei até quinta de folga. Então dá pra descansar bastante.
-Poxa Clara, poderíamos aproveitar sua folga e ir na cachoeira ou na praia né? (Como ela já era um senhora, quase nunca saía de casa) Oh Martinha, vou ver isso. Se der, vamos sim. Combinamos depois. A partir daí conversamos um pouco. Eu comi, tomei chá que a Marta fez, me despedi e fui pra minha casa.

Ao chegar em casa fui direto pro banheiro. Mingau me acompanhou se enrolando nas minhas pernas.
-Oh meu Deus, que mamãe malvada eu sou né gato? (Sempre chamava a mingau no masculino)-Vem cá gatinho da mamãe. Brinquei um pouco com ela e parti pro banho. Estava muito cansada, mas elétrica ainda. No chuveiro deixei a água morna cair pelos meus ombros, nuca, costas... tomei um banho bem demorado.
Me enrolei no roupão e saí direto pro meu quarto.

Peguei o celular e tinha apenas uma mensagem de Rafaella de dois minutos atrás.

"Perdão pela demora pra responder. Que bom que chegou em casa em paz. Aconteceu uma coisa muito chata aqui. Se ainda não estiver dormindo, me liga".
Imediatamente disquei o número dela. E ela atendeu no primeiro toque.

-Alô, Rafa? Tá tudo bem? O que houve? Algo sério?( falei preocupada)
-Hey, calma. Comigo tá tudo bem.
Você está bem? Chegou direitinho em casa? Já comeu alguma coisa? (Ela parecia tranquila, mas com uma voz meio que triste.)

-Cheguei direitinho. Uma senhora que é minha vizinha, quase uma tia fez lasanha e deixou pra mim, então comi. Mas que voz tristinha é essa? O que aconteceu?

-Ai, assim que você saiu daqui. Eu fui colocar meus avós pra dormir.
Minha mãe me ajudou e eu estava falando com ela sobre você. Quando a campainha tocou lá em baixo. Era o Guilherme.
Minha mãe pediu pra que eu fosse falar com ele e tentar de uma vez por todas por na cabeça dele que não voltaríamos.
Desci e fui falar com ele, mas ele estava transtornado.
Falei calmamente pra não piorar a situação.
Ele começou a chorar, a dá socos no muro, bater no portão.
Ele queria saber quem era a pessoa que me deixou em casa, começou a gritar. A coisa foi tão séria que meu pai e meu irmão tiveram que intervir.
Ele saiu chorando muito. Pedindo pra eu voltar pra ele.
Chamou atenção dos vizinhos por fim, a mãe dele veio busca-lo. Isso me arrasou sabe? Não queria que ele ficasse assim.
Apesar de não ama-lo como ele quer, somos amigos. E essa é uma situação que ele mesmo se pôs. Desculpa eu está te falando isso tudo. Mas achei que você merecia saber o que rola na minha vida. A gente está se conhecendo agora e eu não quero que você pense que eu não te falo sobre tudo o que acontece comigo. Assim como eu quero fazer parte da sua vida, eu quero que você faça parte da minha. Não fica chateada tá? (Falou com a voz tristinha)

- Hey, tá tudo bem. Você não tem culpa. Foi ele quem errou.
E obrigado por me falar. Também quero isso, que sejamos amigas acima de qualquer coisa. Estou aqui pra te ouvir. Mas tem certeza que não preciso me preocupar com a possibilidade de você voltar pra ele? (Tive de perguntar, senão não dormiria direito)

-Como voltar pra alguém que eu não amo? Ainda mais agora que só tenho uma pessoa na cabeça? Você é igual chiclete sabe? Gruda na mente, que saco! (Falou rindo agora)

- Somos nós duas então-falei. Você também não fica atrás. Penso em você a todo minuto. Tudo me lembra você. Queria poder te ver agora, está com você, sentir sua mão no meu cabelo. Poxa que saco! ( rimos juntas) -Aqui, está nas regras que temos que nos ver, pelo menos 2 vezes na semana. Você trabalha amanhã?

-Amanhã estarei de plantão no São Camilo. Estarei de folga na terça. E afinal, quais são seus horários nessa semana mesmo? (Perguntou animada, nem parecia aquela que estava tristinha)

-Apartir de Quinta até Segunda de manhã. Hoje não fui trabalhar e... (Conversamos um pouco e chegou a hora de nos despedir.)

-Obrigado por me ouvir tá? Isso foi extremamente importante pra mim. Prometa que vai dormir agora. Se quiser, você pode me ligar amanhã. Qualquer horário. (Com voz de sono já)

-Prometo que vou dormir e te ligo amanhã sim. Te pego na terça. Vamos sair...mas não vou falar onde vou leva-la. Confie em mim.
Durma bem, se cubra direitinho tá?
(Também ja estava quase caindo nos braços de Morpheus)

Nos despedimos e desliguei.
No celular tinham inúmeras mensagens.
Uma em particular de uma garota que eu nunca liguei de volta, pedindo pra gente se ver.

Quase caindo no sono apenas digitei a mensagem e enviei.

"Delete meu número. Desculpa mas comigo não vai rolar mais nada".

Sabe quando você vai dormir tão feliz, que dorme rindo?
Sonhei com ela aquela noite.
E há muito não dormia direito.