As sagradas regras do amor

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         *CONTINUAÇÃO*

A não ser por uma palavra.

Ela que agora me fitava totalmente atenta, perguntou:
- Qual palavra?
Respondi de imediato.
-Infiel.
Agora passo a fazer minha defesa sobre isso, se você me permitir. Não tenho porque ser fiel ao que não existe. Afinal, sou solteira e durmo com quem bem entender.
Quando e se um dia eu encontrar uma pessoa que me prove que merece a minha fidelidade, serei fiel de bom grado. e falo fiel não só na presença. Falo fiel a tudo. Na presença e na ausência, na forma de falar com outras mulheres, no respeito total e absoluto. Porque apesar de tudo, da minha má fama, eu nunca cheguei a amar de fato alguém. Me envolvi com mil pessoas sim. Mas amar sem o menor resquício de dúvidas, ah minha cara! Ainda não. Mas ainda tenho esperança de encontrar alguém que me faça mudar. De alguém que tenha essa coragem, e que me ame de verdade, porque eu sei que não será uma tarefa nada fácil. Exije paciência e muito amor. E amor minha linda é uma mercadoria cara, e eu não espero de pessoas baratas.(conclui)
-Você é um desafio Clara. Um desafio interessante.(ela falou olhando nos meus olhos, quase tocando a minha alma)
-Você pagaria pra ver Rafaella?
-Pagaria. Mas com os dois pés atrás. Até poderia acontecer, mas não sei se você passaria por uma prova de fogo. (Ela olhou pro lado e chamou o garçom.)
-Prova de fogo? Como assim? Seja mais espécifica.(falei)

O garçom chegou na mesa e ela pediu uma garrafa de água,copo com limão e gelo. O rapaz anotou o pedido e saiu.

-Não sei se você estaria disposta a mudar o seu mundinho. A sua vida de solteira, tudo o que você vive apenas para ficar comigo.
Afinal mal nos conhecemos, mas é inégavel o interesse de ambas. Como também é inegável como uma mexe com a outra, desde o primeiro dia na casa de Paulo.
Eu não conseguia parar de olhar pra você e nem você para mim. Fui embora sem aproveitar o jantar, apesar da insistência dos meus amigos de ficar, apenas Guilherme ficou feliz com aquilo. E o outro casal foi porque queriam aproveitar a carona. Mas eu estava tão encabulada de ficar olhando pra você, e você pra mim que achei melhor ir embora. Você não sabe, mas deixei o Gui e o casal de amigos em casa e voltei lá. Mas você já não estava.
Eu não sei o que está acontecendo, mas você mexe comigo. (Abaixou a cabeça)
Aproveitei o silêncio dela e falei...

-Eu também não sei o que está acontecendo. Mas eu não tenho mais forças pra ficar longe de você. (Sabe aquele carinho de dedo que a gente faz somente com quem amamos?)
Toquei seus dedos totalmente entregue nas mãos daquela mulher linda que estava a minha frente. E naquele momento se ela falasse que a prova de fogo era pular da ponte para provar o quanto eu a queria, eu teria feito. Mas ela somente falou:
-Não fique mais longe de mim. (Ela me falou olhando nos olhos por alguns instantes)

Aquele momento foi cortado pelo garçom que nos trouxe a água.

-Qual é a prova de fogo Rafa?(perguntei)
-Você está disposta a enfrentar Clara? Tem certeza? Você ainda pode sair daqui e seremos boas amigas. (Falou fazendo beicinho)
-Algo me diz que você vale a pena.

Ela sorriu e eu ganhei a noite. Ou quase.

-Bom, então vamos então ver no dá.
É o seguinte. Essas são as regras:

01. Durante um mês você não vai ficar com ninguém. Nem beijinho, nem uma pegada de mão, nem trocar sms de madrugada com ninguém a não ser comigo.
02. Sexo nem em pensamento.
03. Sem farras, sem bebida e prometa que vai pelo menos diminuir a quantidade de cigarro, notei que você fuma muito e isso é uma forma de suícidio.
04. Seus horários irão mudar. Pois eu exijo que nos vejamos pelo menos 2 vezes durante a semana e passemos um tempo juntas nos fins de semana.
05. Não estamos namorando, estamos nos conhecendo e ninguém tem nada a ver com nossa vida. Discrição é a alma de qualquer relacionamento de sucesso.
06. Você vai sair de casa pro trabalho e do trabalho para casa, sem paradas pra beber depois de uma noite toda acordada.
07. Com a religião eu não posso ditar nenhuma regra, mas se precisar sair me avise antes.
08. Nada de amiguinhas, sou ciumenta e admito isso.
09. Vai dá mais atenção a sua família e a sua mãe. Enquanto conversavamos você mencionou que estava com saudade dela, mas não tinha muito tempo. Mas tempo pras farras tem? Vamos mudar isso tambem.
E 10. E o mais importante.
Apartir de hoje, você terá em mim, uma amiga, uma confidente, uma companheira. O que é meu é seu e o que é seu é meu. Menos os nossos corpos apesar do nosso desejo gritar uma pela outra. Mas ainda não é a hora certa.
Ao término desse mês se você ainda tiver disposta e ter cumprido todas as regras certinho.
Lhe prometo que serei sua. De corpo e alma. E não se preocupe, porque as regras que ditei para você, se aplicam a mim também.
Topa? (Falou sério como quem acaba de ditar uma lei)
Confesso que dei uma suspirada, uma tonteada, e rí de nervoso, mas adoro um desafio e amo mulheres que tomam rédeas da situação, sem querer Rafaella acabou me instigando mais ainda, olhei sério para ela e falei:
-Topo.
-Tem certeza Clara? Pense bem. Mas pense agora.
-Tenho. (Falei aceitando o desafio)
-Ok. Temos um trato então. Já está tarde e você precisa descansar e eu também. Você me deixa em casa? Vim a pé.-Sorriu.
- Claro. (Chamei o garçom, e pedi a conta)
O garçom veio em seguida e me entregou a nota, peguei o cartão e já ia entregar quando ela pegou a conta e disse:
-Ei, não...o que é seu é meu e vice e versa lembra? Pagamos a nossa conta juntas.
Nem acreditei naquilo. Geralmente era eu quem arcava com todas as despesas. Peguei o dinheiro no bolso da bermuda e ela dividiu a conta. Pagamos e saimos em direção ao meu carro.
Ela conversando e sempre que podia passava a mão no meu cabelo.
Entramos no carro e ela perguntou se podia por uma música. Repeti o que ela acabara de falar.
"O que é meu é seu" lembra? -Ela apenas sorriu.
Ligou o rádio e a primeira música que tocou, se tornou entre outras a nossa música. "Para tu amor" Juanes.
Poucos instantes e seguindo a instruções dela, chegamos na frente da sua casa.
Era uma casa enorme, de muros baixos pintados de amarelo clarinho com branco. Com portões brancos. Ví um simpático casal de velhinhos sentados na varanda superior. E na parte inferior um belo jardim até a entrada principal da casa.
Mas não descemos do carro. Ela observou o casal de velhinhos e falou:
-Estão me esperando, são meus avó paternos. Em breve você irá conhece-los. E não se preocupe. Minha família sabe e respeitam minhas escolhas.
Preciso ir. Pôr aqueles pombinhos para dormir. Digija com cuidado tá cabeção? Não acelere demais e tente dormir. Quando chegar em casa, me avise por favor. (Falava enquanto fazia cafuné na minha cabeça e eu me senti igual a mingau, mole, dengosa...)
Me deu um abraço e quando eu já ia tentar um beijo, ela falou com a voz doce e suave no meu ouvido.
-Daqui a um mês serei sua. Promete que vai me esperar?
-Prometo...(falei quase chorando já sentindo a falta dela)
Ela me puxou e me deu um beijinho suave e demorado...na testa.
Lentamente saiu do carro, abriu o portão me deu tchau e entrou.
Dei partida e saí.
Alí naquele carro estava a pessoa mais feliz desse mundo.
Alheia aos olhares daquele rapaz de coração machucado que olhava de longe meu carro se distanciar.









Até depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora