A pessoa mais rica do mundo

40 5 1
                                    

Coloquei CBJR pra tocar no som do carro e segui em direção a praia do futuro.

Mais precisamente na Avenida Zezé Diogo.
Estava tranquila ouvindo música e tentando mentalizar o mantra
"VOCÊ NÃO VAI COMETER GAFES".

Desde o nosso telefonema mas cedo, não havíamos mais nos falado.

Mas eu tinha o endereço já decorado.
Eu ia me perder? SIM, eu ia me perder. Mas, eu daria um jeito.

Alguns tempo depois cheguei na frente de uma casa bonita, com muros de pedra bastante altos.
Por fora havia plantas na calçada.
Estacionei, observei e tinham vários outros muros iguais.

Fui procurar pelo número.
Não achei.
Parei de frente ao meu carro.
Acendi um cigarro.
Fiquei observando aquela rua.

E como por encanto, não passava nínguem. Em minha companhia só o barulho do mar que ficava bem próximo.

Ao observar aquela rua, com suas casas bonitas, de muros de pedra altos, e muitos coqueiros.
Eu me senti um nada.

O que eu poderia oferecer a Rafaella?
Uma casa minúscula no subúrbio?
Um carro popular?
Uma vida que ela não era acostumada a levar?

Ah não! De fato eu era menos, bem menos do que ela merecia.

Bateu aquela insegurança de que mesmo se eu trabalhasse a vida toda, jamais daria uma vida de luxo pra ela.

Parada alí, fumando meu cigarro, Eu pensei que alí não era meu lugar.

Meu lugar era no meio dos meus amigos tomando cerveja no bar do Chico.
Meu lugar era no meu pequeno condomínio no subúrbio.
Meu lugar era em qualquer lugar, onde eu me sentisse nivelada a minha condição financeira.

Não pude conter a minha frustação e deixei cair uma lágrima.

E aquela lágrima me fez perder por um momento a vontade de encontra-la.
Aquela lágrima me fez querer ir embora dalí, apagar o número dela e esquecer que ela existia.

Porque pelo menos assim ela encontraria alguém do seu nível.
Não eu, uma mera mortal, cheia de defeitos.

Ela era muito pra mim.
E nisso eu, por um minuto desisti dela.
Por puro medo, e insegurança. confesso.

Já havia passado alguns instantes que eu estava ali, envolta aos meus pensamentos e já ia embora antes que me vissem.
Pensei:

"Vou bloquear o número dela e adeus.
Ela já tinha uma imagem de que eu era uma filha-da-puta mesmo. Uma a mais, uma a menos, não faria diferença."

Mas, quando algo têm de acontecer, tudo e todas as forças do mundo conspiram para que aquilo aconteça.

É como se você ultrapassasse galáxias, ésferas, tempos, espaços e milênios para viver exatamente aquilo.

Ao abrir a porta do meu carro, me sentindo um completo lixo.
Um fracasso ambulante.
Cabisbaixa e sem direção...ouço a voz mais linda do mundo:

-"HEY AMOR! AINDA BEM QUE VOCÊ CHEGOU VIDA".

Olhei para um dos portões de madeira trabalhada.
E lá estava ela. Perfeita.
Cabelos amarrados em um rabo de cavalo, de vestidinho branco, e chinelo de dedo azul claro.

Ao me ver, abriu um sorriso e os braços.

Alí foi o momento em que a vida me ensinou que eu era a pessoa mais rica do planeta.
Não por ter dinheiro, ou uma casa na praia, ou por ter um carro importado.

Até depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora