16. O milagre do amor

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Exatamente sete dias depois desse dia, Newt atrasou-se terrivelmente para vir acompanhar minha última metamorfose e eu aproveitava para, dentro do abrigo, observar a mim mesma enquanto pensava. Eu desconfiava que algo impossível havia acontecido, mas eu precisava que ele me dissesse, porque eu na verdade não podia ter certeza; e já havia algumas horas que eu estava lá escondida, ligeiramente encolhida, esperando pelo momento de ouvir à voz dele e estranhamente também temendo esse momento, porque eu não sabia o que ia acontecer.

E quando finalmente eu ouvi a voz dele, preciso dizer que sobressaltei-me um pouco:

- Memê! Memê! Eu estou terrivelmente atrasado, me perdoe! Já são quase três horas da tarde, mas, por isso eu amo tanto ficar aqui dentro... sair é tão... cheio de complicações... - eu o ouvia, mas não tinha coragem de colocar a cara para fora. Parecendo excitado com tudo o que havia-lhe acontecido, Newt continuava a falar sem parar - Você não vai acreditar... A criatura que eu trouxe hoje... deu-me um trabalho inacreditável até agora há pouco; imagine você que estava com uma das patas dianteiras feridas e, para que eu conseguisse aplicar os unguentos foi um verdadeiro suplício - e de repente, parou para sorrir, e sua voz aproximava-se de onde eu estava - Imagine quando ele ficar adulto... Mas... Mas onde está você? - sua voz hesitou um instante - Memê?

Lentamente, muito lentamente, coloquei a cara para fora do abrigo, e ele olhou-me feliz, abrindo um sorriso:

- Olá! Vejo que hoje poderemos conversar mais uma vez - mas eu havia estacado onde estava, e ele de repente olhou-me com dúvida, ficando sério - O que foi? O que há? Algo errado?

- É que eu... Eu não sei bem o que sou hoje - eu balbuciei, do mesmo lugar - Eu acho que sei, mas... Eu jamais fiquei assim antes em toda a minha vida, então não tenho certeza.

- Ah, oras, Memê, saia daí, vamos - ele sorriu, gesticulando para mim de forma contente - De tímido aqui já basta eu, não é? E eu sempre digo a você que nenhuma, absolutamente nenhuma de suas formas jamais será monstruosa aos meus olhos, então não se acanhe. Venha - e gesticulou novamente.

Mas ainda assim demorei um pouco até sair completamente de onde estava, ao que, ao ver-me, o sorriso em seu rosto desvaneceu-se desaparecendo muito aos poucos enquanto ele descia os olhos muito abertos por mim, que subitamente começaram a piscar seguidamente enquanto seus lábios abriam-se mas quedavam mudos, e no momento seguinte ambos já estavam marejados de lágrimas quando ele finalmente ergueu os olhos para meu rosto novamente, ao que ele sussurrou baixinho, com voz trêmula:

- Oh meu Deus... Por Merlin... Eu achei... Eu achei que isso nunca fosse acontecer...

- Hoje é meu dia como o quê? - perguntei-lhe meio hesitante, enquanto segurava um braço com a outra mão - Eu só... Eu só queria que você me dissesse.

- Como humana! - ele sorriu - Hoje é seu dia como humana! - e apressadamente ele veio até mim, aproximando-se, enquanto descia o olhar por mim inteira, de forma encantada - Você... Você está simplesmente perfeita. Simplesmente maravilhosa. Oh! - e ao que pôs-se ao meu lado, ergueu a mão direita e a colocou sobre o meu rosto, de forma incrivelmente terna enquanto olhava-me nos olhos, e subitamente uma lágrima escorreu por seu rosto, à qual ele rapidamente retirou de sobre a face com a mão livre, e muito sem jeito sorriu pra mim, que sorri-lhe de volta ao que ele baixou os olhos sem jeito e, como se somente então se houvesse dado conta, ele de repente removeu a mão grande de sobre a minha face e começou a apressadamente retirar ao próprio paletó, ao que dizia - Oh, bem, nossa, você... Você está nua - e colocou-o delicadamente sobre os meus ombros, puxando-o delicadamente por sobre o meu peito, onde eu segurei-o com ambas as mãos - Sim, assim está melhor!

Presa na Mala de Newt ScamanderOnde histórias criam vida. Descubra agora