E os sete meses restantes passaram-se em absoluta paz dentro da mala de Newt Scamander. Eu seguia faminta e comia e dormia muito, o peso e o tamanho do filhote que crescia dentro de mim deixando-me semana após semana com maior preguiça de ficar movimentando-me demais, e quanto mais aproximava-se o dia do parto, mais eu preferia ficar tranquila em meu cercado, tranquilamente sentada ou deitada, tirando um cochilo enquanto Newt continuava viajando pelo mundo coletando novas criaturas e informações para o seu livro que normalmente escrevia à noite sob a luz das lamparinas de luz amarelada. Nas vezes em que assumi formas meio-humanas, especialmente quando híbridos de sereias, passávamos mais tempo juntos, às vezes sentados no pier, com os pés ou a ponta da cauda dentro da água e eu, sentada entre as pernas de Newt, apoiava as costas em seu peito enquanto ele agradava-me à barriga redonda com ambas as mãos grandes enquanto beijava-me tranquilamente o ombro e o pescoço, e a vida alí ao seu lado era boa e pacífica. Era feliz.
Até que houve uma madrugada em que acordei antes do sol nascer ao que sentia um desconforto enorme. Era então uma grande tigresa branca e estava deitada de lado, por causa do tamanho da barriga incômoda, e com um rosnado baixinho ergui a cabeça, espreguiçando as patas. Tentei virar-me, mas o desconforto só cresceu, e a custo ergui-me sobre as patas dianteiras, pressentindo que agora estava perto de meu filhote nascer, e tentei novamente deitar e dormir, mas não consegui. Aquela manhã não quis alimentar-me, e Newt ficou enormemente preocupado, olhando-me com semblante tenso, apoiado sobre o comedouro intocado, enquanto, estirada sobre a relva verde sob a sombra de uma árvore, eu apenas respirava, meu diafragma aflito estendendo e distendendo-se ao desconforto que apenas crescia. Eu gostaria de dizer que estava bem, pedir-lhe que não se preocupasse, e era péssimo não ser capaz disso, apenas olhando-o com meus olhos claros que piscavam silenciosamente, a cauda longa abanando-se de muito leve, e ele aproximou-se andando devagar, agachando-se ao meu lado e pondo delicadamente uma das mãos sobre o meu flanco:
- Memê, amor... O que você tem? Por que não quer comer? - e olhamo-nos em silêncio por um tempo, até que ele desviasse o olhar para minha barriga e levasse a mão até ela, tocando-a de leve - Está perto, não está? - apalpou-me de leve a barriga, como se tentasse sentir o posicionamento do bebê dentro dela - Será que nasce hoje? - olhou-me nos olhos - Antes do meio-dia? - e de repente ele mordeu o lábio, franzindo de leve as sobrancelhas, ao que disse baixinho - O que aconteceria se você estivesse no meio do parto ao meio-dia e dez, Memê? - e olhou-me nos olhos novamente, tremendo de leve sobre o joelho que o apoiava agora no chão - Vai... Vai dar tudo certo, não é?
Eu gostaria de poder responder-lhe que sim, mas eu também não sabia o que poderia acontecer, eu na verdade não sabia como seriam essas coisas nem que pudesse comunicar-me com ele para dizer, mas o que mais me entristecia era não poder apaziguá-lo, dizer-lhe para ficar tranquilo, que tudo ia ficar bem. Então ergui a cabeça como pude, e lambi-lhe a mão que apalpava-me o ventre antes de deixar novamente a cabeça pender para trás, ao que Newt sorriu de leve, vindo-me acariciar então à cabeça entre as orelhas.
- Eu... Eu só gostaria que você pudesse me dizer que está tudo bem, ou se você precisa de algo - num só movimento ele deixou-se cair sentado, os joelhos apontando-se para cima, sem retirar a mão de entre minhas orelhas - Eu gostaria tanto nesse momento que houvessem livros sobre partos de metamorphosusvelticcus para que eu tivesse estudado com antecedência. Bem, logicamente eu já presenciei partos de criaturas na vida, mas... mas esse é o meu filho que está nascendo... Acho que é normal eu estar nervoso, não é?
Olhei-o de relance antes de fechar os olhos e esticar-me sobre a grama, muito incomodada com o desconforto que agora começava a virar dor, minha respiração aumentando ainda um pouco mais, e entreabri a boca, a exalação escapando entre as presas longas e afiadas, e Newt disse baixinho:
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Presa na Mala de Newt Scamander
FanfictionSabemos o quanto Newt ama seus Animais Fantásticos, e o quanto ama cuidar deles e protegê-los... Mas e se ele encontrasse um espécime raríssimo e muito especial, tão, mas tão fantástico, que fizesse a afeição dele transformar-se em outra coisa... E...