24. Coisas fantásticas são possíveis

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A partir desse capítulo e no próximo, a narradora deixa de ser a Memê e a narração é feita em terceira pessoa. Só avisando, pra não ficar confuso.

*

Lançando um olhar ao redor Newt sentiu-se transportado ao passado, naquela tarde em que havia visto Memê pela primeira vez, alí, bem naquela caverna enorme e funda que ele via adiante, e pensar que havia sido absolutamente por acaso. Perseguindo outra pequena criatura ele simplesmente havia escalado as paredes íngremes do que parecia ser apenas um pequeno monte, e totalmente distraído simplesmente havia escorregado numa pedra solta e rolado ribanceira abaixo, caindo para o outro lado, onde então avistou uma abertura estreita, sentindo sair dela um sopro de ar fresco embora ela estivesse imersa em total escuridão. Ele poderia ter simplesmente levantado e escalado novamente para ir embora, mas, a sua curiosidade... sua maldita curiosidade... A criatura que ele se perseguia já havia desaparecido e ele mesmo já se havia esquecido dela, mas a curiosidade. O que poderia haver lá embaixo? Seria uma gruta? Ou uma caverna? Ele jamais poderia imaginar que era a caverna onde Memê vinha escondendo-se há bem 500 anos, ele jamais poderia imaginar que alí dentro encontraria o Animal Fantástico que desde a infância permeava seus sonhos, não podia imaginar que lá dentro encontraria o grande amor de sua vida. E quando ele pegando de sua varinha de dentro do bolso do casaco continuou a descer, deslizando pela encosta abaixo até que avistasse uma abertura maior e deslizasse por ela para dentro da escuridão, dissipada apenas quando invocando o feitiço "lumos maxima" sua varinha acendesse-se e tornasse o interior da caverna claro como o dia, ele não podia imaginar que, vários anos depois estaria voltando alí de novo para devolver a joia que iria encontrar naquele dia.

Piscando os olhos, subitamente comovido, Newt olhou ao redor mais uma vez tentando lembrar-se quanto tempo fazia, e mentalmente condenando-se por ser tão absurdamente distraído a ponto de haver-se esquecido. Seriam três ou quatro? Ele sentiu-se confuso, e suspirou: Não importava. Apenas ergueu o braço e arregaçou a manga da camisa devagar, pondo-se a observar as cicatrizes largas que Memê havia deixado nele com as garras aquele dia, e exatamente como ele já havia dito a ela uma vez, ele novamente suspirou baixinho, ao que descia a manga da camisa novamente:

- Eu... Eu faria tudo de novo. Eu faria tudo de novo, ainda assim.

E baixando o rosto ele começou a andar na direção onde havia deixado a mala, e abrindo-lhe a tampa, calmamente ele colocou para dentro um pé, depois o outro, entrando por ela, deixando-a aberta ao que desceu as escadas. Não havia mesmo criatura viva a milhas e milhas de distância, exceto caça inofensiva. Memê havia sido sábia ao escolher aquele lugar perdido no mundo para viver. Dificilmente outra pessoa se atreveria a ir tão longe e chegar alí. Afinal, não havia no mundo dois Newt Scamander.

Aproximando-se do cercado de Memê ele assoviou para o filhote, oferecendo-lhe o braço esquerdo estendido, e este, que naquele dia era uma pequena fênix de plumagem levemente dourada, levantou voo para vir pousar obedientemente no braço de seu pai, ao que Memê adiante, naquele dia uma corça de pêlo castanho claríssimo, ergueu-lhe também a cabeça, olhando-o fixamente com os olhos miúdos e muito negros e tristes, e alisando o dorso emplumado do filhote, de olhos baixos no chão, Newt falou para ela:

- Memê, venha. Chegamos.

E voltando-lhe as costas ele pôs-se a tomar o caminho da saída devagar, sendo seguido por ela, que seguia-o devagar também, e assim que chegou à entrada, ele subiu levando o filhote, e assim que Memê pôs a cabeça para fora, ele ajudou-a a sair, pegando-a de leve pelo peito, e saltando, ela pela primeira vez pisou o chão do mundo real depois de uma infinidade de dias. Mas embora soubesse que era o correto ir, Memê vacilou por um momento, voltando-se para trás assim que avistou a caverna onde escondera-se por tantos anos, desejando ver o rosto de Newt ainda mais uma vez, mas ele evitava olhá-la, com o braço esquerdo dando apoio ao filhote pousado e com a mão direita beliscando de leve o tecido marrom da calça que vestia, trocando o peso de um pé para o outro o tempo todo, e ele começou a dizer a ela, com voz pausada e num tom tranquilo:

Presa na Mala de Newt ScamanderOnde histórias criam vida. Descubra agora