Trabalho de conclusão de curso. Sociologia. Audrey, 2018.
Dentre todas as coisas do mundo, absolutamente todas, a minha menos favorita se chama Primeira impressão. Desde muito pequena, minha mãe costumava ler contos de princesas para mim. Eu adorava a maior parte das histórias, como os castelos, os animais fantásticos, os pozinhos mágicos... Porém, em algumas partes, eu era obrigada a discordar e fazer vários questionamentos.
Por que os heróis sempre venciam?
Os personagens maus nasciam maus ou ficavam assim com o tempo?
Por que as princesas sempre eram tão bonitas? Elas não tinham espinhas ou dor de barriga? Nunca?
Por que os príncipes geralmente apareciam em um momento de desespero para a mocinha?
Nunca tinham uma resposta concreta para mim e eu sempre era obrigada a ouvir o que já era de praxe: Porque sim.
Anos mais tarde, quando decidi colorir meus cabelos todas as semanas com uma cor diferente, eu sempre ouvia a mesma pergunta: Por que decidiu mudar?
Os amigos que me conheciam já há algum tempo, nunca entenderam o motivo para eu, de uma hora para outra, decidir mudar o visual tão radicalmente. Sendo completamente honesta, um cabelo não mudou nada em mim. Eu continuava a mesma de sempre. Continuava amando os filmes do Shrek, me sentindo feliz quando alguém chegava para mim com uma surpresa que eu não esperava, e chorando com qualquer coisa na minha TPM. Foi um ultraje ouvir que provavelmente alguma coisa havia acontecido para eu me 'rebelar' de repente. Como se ser a única garota de cabelos coloridos no bairro me fizesse estranha, e não apenas diferente.
No meu caso, eu só havia tentado descolorir e matizar os fios uma vez, mas quando minhas mexas ficaram completamente roxas, eu adorei o resultado. Nas próximas semanas, eu podia ter todas as cores e, ainda assim, ser completamente eu mesma. Eu aderi a ideia sem pensas duas vezes porque aquilo me fazia bem.
Isso gerou por muito tempo confusão nas pessoas. Quem não me conhecia de antes, depois de um tempo de intimidade, chegava até mim sem jeito para dizer que a primeira impressão ao me ver era que eu, Audrey Harvey, era uma louca sem responsabilidades que apenas tinha um emprego porque esse era na lanchonete dos pais do melhor amigo.
Esse é um dos grandes motivos para eu odiar primeiras impressões.
No entanto, após algumas surpresas da vida, depois de muito tentar colocar na cabeça que não seria assim, acabei sucumbindo ao meu pior terror.
Eu sempre, sempre, durante todos os dias da minha existência, acreditei em coisas que ninguém mais acreditava. E me orgulhava disso. As coisas pareciam mais especiais quando não havia ninguém compartilhando de algo, sem colocar defeito, apenas ouvindo a minha parte, por mais louca que a achasse. Mesmo que não o seguisse, aceita-lo já era um bom começo para mim.
Eu costumava acreditar, quando criança, em alienígenas e fazia questão de mostrar para todo mundo a pequena pedrinha que meu avô me dera, dizendo ter ganhado de um amigo de outro planeta. Sempre fui muito convincente também em minhas palavras, claro. Por algumas semanas, todos na escola acreditaram que Zishje, do planeta Thahwns realmente existia.
Anos mais tarde, eu acreditei que meu melhor amigo Shawn, poderia ser o vocalista de uma famosa banda adolescente, já que eles eram completamente parecidos.
Isso não foi minha culpa, na verdade... Contudo, Shawn quase me matou quando no dia seguinte havia uma comitiva de impressa no seu jardim tirando fotos suas de pijama, depois de eu contar a um famoso jornal adolescente o paradeiro do cantor desaparecido há mais de duas semanas.
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Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)
Teen FictionAudrey Harvey sempre teve suas letras favoritas do alfabeto e desde criança insistia em escrevê-las no antebraço, dia após dia. Em um momento de insanidade, após discutir com a mãe, ela sai de casa e no estúdio mais próximo decide tatuar os traços q...