Caminhei cerca de trinta minutos até chegar a minha quadra. Quando vi o jardim de margaridas que minha mãe fazia tanta questão de cuidar, eu soltei um suspiro que ultrapassava qualquer outra sensação de alívio que eu já havia sentido na vida. Eu mal sentia meus pés, meus lábios tremiam como nunca e eu precisava piscar duas vezes mais rápido do que fazia em dias comuns para conseguir enxergar bem o caminho a minha frente.
Mas, eu finalmente estava em casa. Três horas mais tarde do que deveria, sem explicação alguma, completamente ensopada ― em roupas que não eram minhas ―, e com um celular desligado.
Para o meu azar, naquela tarde minha mãe não estava de plantão e acompanhou toda a cena ao vivo.
Definitivamente, Romeu não valia tudo aquilo.
Enquanto eu espirrava parecendo um pinto molhado no tapete da sala, ela se aproximou depressa com uma toalha e os olhos arregalados.
― Audrey, eu juro que vou te matar se você não morrer depois disso! ― minha mãe gritou enquanto passava a toalha pelos meus cabelos. Dei uma risada, mas ela se misturou a minha série de espirros. Mamãe passou a toalha pelo meu rosto e em seguida me bateu com ela no braço.
― Ei! ― passei a mão pelo nariz, fungando.
― Onde você estava e com o que subornou o Shawn para ele não me contar dessa vez? O garoto não cedeu nem mesmo aos meus bolinhos de chuva de banana! ― comentou incrédula, afinal, falávamos de Shawn ― Ele! Negou comida! ― seus braços cruzados e seus olhos sérios me encararam com impaciência, deixando bem claro o quanto eu estava encrencada.
Não consegui conter o riso ao vê-la tão preocupada. Apesar do frio e de estar completamente ensopada, tentei abraça-la. Ela me empurrou sem delongas.
― Sem chance! Não vai me ganhar no abraço e você está péssima! ― franziu o cenho com força, pegando uma nova toalha no sofá e a enrolando ao redor dos meus ombros ― Onde você esteve? ― disse firme, me olhando com zero paciência.
Soltei um suspiro, apertando a toalha ao meu redor e a esfregando contra o meu ouvido, que começava a reclamar e dar sinais de dor.
― Eu saí com um garoto. ― tentei conter a raiva ao me lembrar do ocorrido ― Aconteceram alguns imprevistos. Ele precisou ir para casa, a mãe dele é babaca, nós discutimos, eu vim embora na chuva.... não foi um dia muito bom. ― dei de ombros. Meus lábios começaram a tremer pelo frio e eu já podia sentir a meia encharcada grudar novamente nos meus pés.
Minha mãe franziu o cenho, me encarando com atenção. Tentei empurrar a raiva para longe, mas ao olhá-la e me lembrar de tudo que havia ouvido, eu sentia vontade de chorar novamente. Acho que ela notou que meu nariz vermelho não era por conta frio.
― Isso te deixou irritada ou magoada? ― ela apoiou seu braço sobre um dos meus ombros, seguindo ao meu lado em direção ao banheiro enquanto fazia careta ao molhar a manga da blusa de lã nova que usava.
― Completa e absolutamente irritada. ― bufei, mordendo os lábios. Eu não ia querer chorar de novo.
― Quer falar sobre isso? ― ela me segurou pelos braços me encarando nos olhos, assim que paramos em frente ao banheiro. Soltei um novo suspiro e neguei duas vezes ― Tudo bem...
― Obrigada. ― sorri fraco, realmente agradecida. O sorriso de Alyna era como o meu, apenas um pouco mais maduro, e quando eu notei seus lábios curvados isso aqueceu meu coração ― Ah, eu usei o soco que você me ensinou. ― comentei casualmente.
― Audrey! ― ela me encarou estupefata. Tive que conter uma risada ― Quebrou o nariz dele? ― perguntou baixinho, quase um sussurro. Eu sabia que ela não sairia sem perguntar aquilo.
Assenti, rindo com vontade. De espirrar.
― Com certeza.
Ela rolou os olhos com uma satisfação reprimida e em seguida esboçou um novo sorriso, beijando minha testa. Sua posição como mãe não a deixava rir como eu sabia que queria, afinal, ela ainda estava com raiva de mim.
― Nada de marshmallows no seu chocolate quente por hoje. Vá tomar banho e se secar, depressa!
Assenti, a abraçando novamente antes de entrar no banheiro.
Mamãe reclamou quando eu a molhei inteira e aumentou a greve de marshmallows para uma semana depois disso, mas ela gargalhou logo em seguida, então eu sabia que estava tudo bem.
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Demorei, mas apareci com um capítulo novo depois de 84 anos! hahaha
Para evitar que essa frequente demora nas atualizações aconteça, já deixei TODO O LIVRO aqui em rascunho no wattpad. Agora é só ir postando. Vou tentar ir atualizando todo fim de semana, dessa vez, sem falta!
Espero que gostem da Audrey e do Shawn (e que detestem o Romeu ainda mais depois desse capítulo!). Me digam o que estão achando!
beijinhos, Ana ♥
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Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)
Fiksi RemajaAudrey Harvey sempre teve suas letras favoritas do alfabeto e desde criança insistia em escrevê-las no antebraço, dia após dia. Em um momento de insanidade, após discutir com a mãe, ela sai de casa e no estúdio mais próximo decide tatuar os traços q...