Letra I (parte 1)

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Regra número 6

Um bom crush é aquele que te livra das maiores furadas.

Eu passei o fim da madrugada na casa de Shawn, e quando levantei para a aula no dia seguinte vi o quanto aquele esforço não havia sido nem um pouco válido. Cameron não merecia nem um milésimo do meu precioso sono, e pensar que eu havia ido até lá com intenções que envolviam ele me fazia querer bater com a cabeça na parede.

A melhor parte da minha noite havia sido ganhar o anel, que eu não tirava nem por um segundo do dedo. E também, claro, poder dormir na cama de cima do beliche, que era do seu irmão, Seth, e estava vazia desde que ele havia se casado e mudado de cidade alguns anos atrás.

Esse era um dos motivos para eu amar dormir na casa do meu amigo. Adorava a adrenalina de dormir no alto, subir aquelas escadas e passar a noite inteira olhando para o teto cheio de estrelinhas brilhantes. Olhar para elas sempre me acalmava, e era para lá que eu corria todas as vezes que me sentia no ultimo estagio da tristeza: aquela que eu admitia.

Aquilo podia ser considerado infantil e por muitas vezes já foi quase retirado dali, mas eu sempre dava um jeito de insistir para deixarem. Shawn nunca fez questão de pedir que tirassem. Eu também, nunca disse diretamente que queria aquilo ali, mas acho que ele sabia o quanto era importante para mim, apesar de não ser exatamente meu.

Durante a aula de Geografia, eu agradeci por Shawn estar comigo e ser minha dupla. Eu pude cochilar em seu ombro o tempo quase inteiro e ele me acordava com um beliscão na barriga quando o professor estava para me pegar dormindo.

Meu amigo, por outro lado, parecia bem mais disposto que eu. Com certeza sua cabeça não doía tanto quanto a minha e seus olhos não estavam pesados, péssimo resultado da mistura álcool e choro.

Quando os tempos de aula chegaram ao fim, eu o deixei sozinho para ir ao banheiro rapidamente. Depois de deixar uma das divisórias, lavei as mãos e joguei uma água no rosto, resmungando baixinho quando notei que não havia papel para me secar do lado de fora. Esfreguei os dedos nos olhos para espantar um pouco do sono, mas não adiantou muito. Porém, mesmo assim, quando sai do banheiro encontrei com Shawn e Tiana, minha cabeça trabalhou o máximo possível para prestar muita atenção. Pelo olhar dele, aquela conversa não se parecia em nada com algo que ele gostaria de ter.

― Eu já te pedi desculpas, o que mais você quer que eu faça? – ela questionou em um tom emburrado ― Eu não soube como reagir na frente da Abby... me desculpa. ― eu a ouvi admitir enquanto me aproximava dos dois.

Shawn logo me notou e a pouca atenção que ele dava para Tiana desapareceu imediatamente. Ele ergueu os ombros para o seu pedido e murmurou algo como 'tanto faz' logo quando eu cheguei ao encontro deles. Eu a ignorei completamente, passei um braço pela sua cintura e apoiei a cabeça no ombro do meu melhor amigo, seguindo em direção ao seu carro.

― Tiana insistiu muito para você esquecer a vergonha alheia que sentiu dela? ― perguntei em tom baixinho. Shawn me acompanhou na risada fraca, assentindo.

― Sim. Pelo menos ela não pediu o livro de novo...

Eu concordei assentindo com a cabeça completamente pesada de sono.

Eu só pude respirar aliviada quando entrei no carro de Shawn, relaxando todo o corpo no seu estofado. Ele fez todo o seu ritual de colocar os cintos metodicamente, ajeitar os espelhos, porém, antes de ligar o carro, seu celular vibrou insistentemente próximo ao cinzeiro cheio de moedinhas.

Eu já estava acomodada confortavelmente no banco do carona, mas soube que algo diferente estava acontecendo quando ele não olhou rapidamente a tela e voltou a atenção ao carro. Shawn continuou encarando o telefone com o cenho franzido, até que minha curiosidade foi maior que minha preguiça.

Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora