Regra número 2
Um bom crush é aquele que te irrita, mas você sabe que te deixar mal não é a real intenção.
Minha mãe recebeu uma ligação do hospital horas depois a chamando para ir ao pronto socorro ajudar vítimas de um atropelamento que havia acabado de acontecer. Eu não estava nem um pouco feliz pelos acidentados, mas pensei que teria paz durante algumas horas, sem tê-la gritando no meu ouvido (que doía) que eu não deveria ter quebrado o nariz do filho do prefeito.
Para o meu completo azar, tão rápido quanto ela saiu a campainha tocou novamente. Como se não pudesse piorar, Fleuriah escutou e saiu do quarto roncando em direção a porta.
Eu fiquei com preguiça só de pensar em vê-la correndo para o lado de fora da casa, e mais ainda de me imaginar a perseguindo pelas quadras.
― Ninguém veio ver você! Pode sair daí! ― disse brava. Ela apenas roncou para mim e voltou a encarar a porta, aguardando uma brechinha para correr pela rua.
Me levantei com um suspiro e a peguei no colo, a deixando sobre o sofá, por ser o único lugar de onde ela não pulava. Depois, peguei minha chave - sua porquinha em miniatura -, e destranquei a porta. Para o momento ficar ainda pior, Shawn estava empoleirado já limpando os pés no tapete, quase ensopado e pronto para me fazer companhia.
Ele certamente não seria uma boa companhia.
― Minha mãe te mandou vir aqui. ― supus irritada, rolando os olhos ao observá-lo. Minha cabeça inteira doía de tanto fungar e meus olhos já lacrimejavam de tanto ter espirrado naquela tarde.
― Claro. Você está de castigo. ― Shawn afirmou com toda certeza. Ele terminou de limpar as lentes dos óculos em suas mãos na camisa por baixo do moletom e quando os colocou no rosto me enxergando nitidamente fez uma careta ao notar meu estado. Eu teria questionado ele ter me encarado daquele jeito, mas apenas lhe dei as costas e segui para o sofá novamente.
― Você não precisa me lembrar disso. ― voltei para debaixo do edredom quentinho, emburrada enquanto debochava repetindo baixinho suas palavras em meio a caretas. Ajeitei Fleuriah em meu colo e fiz carinho em seu focinho, o observando entrar e trancar a porta. De quebra, ainda deu risada do meu chaveiro pendurado.
― Ficou louca? Saiu mesmo debaixo dessa chuva? ― ele se aproximou vindo até onde eu estava e me encarou incrédulo.
Tentei respirar fundo sem fungar, mas isso deixou meus olhos ardidos e resultou em uma interminável serie de espirros. Também respondeu sua pergunta.
― Foi apenas um detalhe. ― respondi indiferente. Me ajeitei no sofá depois de passar a manga do casaco pelo nariz e estiquei o braço, pegando um dos meus cadernos de anotações espalhados pela casa e minha caneta de tampa rosa ― Pelo menos já terminei minha primeira teoria. ― sorri, esfregando mais uma vez os olhos marejados ― Será que vai acabar tão rápido assim? ― me questionei baixinho.
Shawn se sentou ao meu lado e tirou minha porquinha do colo, fez carinho em seu vestido de princesa e em seguida a colocou no chão. Ela se acomodou nos pés dele e deitou ali, quietinha, enquanto ele esticava o pescoço para espiar o que já havia em meu caderno.
― 'Eu nunca mais quero assistir Romeu e Julieta'? ― ele leu debochadamente um dos trechos grifados de rosa. Assenti, também entre risadas.
Pelo menos ele não leu a parte "nunca mais dar moral pra homem algum, eles sempre desapontam", ou senão eu teria que explicar todos os adjetivos que já havia atribuído ao Romeu.
― Shakespeare que me perdoe. ― suspirei. Eu gostava dessa peça. Não tanto quanto A megera domada, mas realmente gostava ― Esse Romeu foi bem decepcionante. ― comentei enquanto rolava os olhos. Shawn continuou me observando mesmo quando eu terminei de falar e seu semblante não mudou por um segundo sequer ― Que foi?
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Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)
Teen FictionAudrey Harvey sempre teve suas letras favoritas do alfabeto e desde criança insistia em escrevê-las no antebraço, dia após dia. Em um momento de insanidade, após discutir com a mãe, ela sai de casa e no estúdio mais próximo decide tatuar os traços q...