Regra número 9
Tenha um crush com você mesma, porque, no fim, sempre somos nossa melhor escolha.
O dia 24 de dezembro chegou rápido. Em meio a alguns dias sem falar com Shawn nada mais que o imprescindível, afinal ele se esquivava até mesmo quando eu perguntava o educado 'tudo bem?', a data mais especial do ano chegou.
Eu gostava do natal, sendo sincera. Na lanchonete, era um dia que passávamos conversando bobeiras, brincando e devorando doces enquanto preparávamos os pedidos encomendados. Até seus pais apareciam por ali nessa data e eu adorava como sempre era defendida por eles das gracinhas de Sean e Shawn. Eu também me distraia com a minha parte favorita: fazer os embrulhos e rir das tentativas horríveis dos dois. Eu adorava esse costume.
Porém, o dia 24 daquele ano foi um em que passei toda a manhã pensando em alguma maneira de puxar assunto com Shawn sem ser atingida por um dos seus foras gratuitos. Eu não estava nem um pouco habituada a isso. Esse foi o grande motivo para a data daquele ano ser tão singular de todos os outros.
A parte da manhã havia sido cheia e eu já estava exausta sem nem chegar a metade do dia. Tínhamos preparado alguns dos doces já encomendados, mas faltava uma boa parte para ser finalizada e embalada. O clima naquele ambiente não era pesado, mas também passava longe de ser acolhedor como sempre. O que preenchia o lugar era uma Playlist de Sean, que ninguém se opôs. As palavras que trocávamos eram poucas, e as risadas, então, quase inexistentes.
Eu saí para o almoço por volta das duas da tarde e cheguei em casa quase congelando devido a neve que caia. Me desfiz do casaco o deixando ao lado da porta e aumentei a temperatura ambiente no controle, batendo os pés para afastar o frio. Minha mãe já me esperava com o prato pronto na mesa, enquanto se desdobrava para terminar nossa ceia. Eu havia a ajudado na noite anterior, pouco, já que havia saído tarde da noite no serviço adiantando as coisas.
― As coisas estão muito agitadas por lá? ― ela perguntou enquanto distribuía biscoitos em formas e os colocava para assar em seguida. Eu dei de ombros, arrumando meu prato.
― A mesma coisa de todo ano. ― comentei no automático preparando o suco em meu copo. Senti os olhos dela pesarem sobre mim e a encarei com o cenho franzido ― O que foi?
― Nada. ― ergueu os braços, sorrindo para mim ― Você só não parece tão empolgada para essa data como em todos os anos. ― questionou discretamente.
Eu soltei um suspiro, espetando com força o garfo no bolinho de soja em meu prato.
― Não fui recebida com um ataque de farinha, como em todos os anos. ― respondi em meio a uma pequena risada forçada, evitando olhá-la. Eu sabia que se a encarasse as lágrimas que estavam presas rolariam sem parar e ir para o mesmo lugar onde Shawn estava seria uma missão quase impossível.
Minha mãe se aproximou com um suspiro e se sentou ao meu lado. Eu não estava esperando por aquele momento de desabafo, porque acreditava firmemente que as coisas se acertariam antes dela tentar a aproximação.
Mas nada se acertou, não.
― Você quer falar sobre o que houve entre você e Shawn? ― perguntou com cuidado, acariciando meus cabelos.
Eu mordi os lábios, perdendo o apetite no mesmo instante. Neguei tentando parecer certa, mas falhei.
Falhei quando meus olhos marejaram mostrando que, apesar de já ter chorando tanto, eu ainda tinha varias lagrimas presas.
Falhei porque ela notou minha reação diante daquelas palavras tão simples, diante da simples menção de um nome que já era tão comum para mim.
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Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)
Teen FictionAudrey Harvey sempre teve suas letras favoritas do alfabeto e desde criança insistia em escrevê-las no antebraço, dia após dia. Em um momento de insanidade, após discutir com a mãe, ela sai de casa e no estúdio mais próximo decide tatuar os traços q...