Letra S (parte 5)

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Regra número 7.5

Um bom crush é aquele que consegue te aliviar quando você coloca para fora tudo que sente por ele.

Eu sempre tive um fraco por tudo que me mostrasse o quanto eu era importante para alguém. E, naquelas duas semanas, isso era exatamente o que eu havia experimentado. Da melhor maneira.

Eu abri meus olhos para ver como Shawn continuava o mesmo em relação a mim, mas era como se ele houvesse se transformado em outra pessoa, mesmo eu sabendo, o que havia mudado era a forma como eu o olhava.

Ele continuava surgindo do nada com presentes aleatórios e suas frases carinhosas. Ele ainda baixava meus jogos favoritos no seu celular e me desafiava a ganhar dele. Ele ainda deixava que eu escolhesse minhas músicas favoritas para tocar. Ainda éramos os mesmos melhores amigos de anos antes, com o mesmo carinho, paciência ― ou não paciência ―, mas a diferença era que vez ou outra, nós nos encarávamos por algum tempo exagerado; depois, sorriamos; e então, quando nos dávamos conta estávamos ocupados demais com um beijo. Ele também havia adquirido o habito, que eu adorava, de me enviar músicas dizendo o quanto aquela ou outra combinava comigo.

A última, que estava no replay do meu celular desde a noite passada, era Wild Things, da Alessia Cara. Eu já havia ouvido aquela música uma centena de vezes, porém, quando eu recebi sua mensagem ela de repente ganhou um novo significado.

Shawn enviou: Ouvi essa música hoje à tarde. Acho que ela se parece com você.

Cada estrofe que eu já sabia de cor ganhou mais graça, e ao deixa-la no replay para ouvi-la repetidas vezes era como se sempre trouxesse algo novo escondido para que eu identificasse.

Aqueles sorrisos, aquele sentimento, o hábito que eu havia adquirido de olhar por longos segundos e sempre me pegava lançando para Shawn... era assustador.

Enquanto cantarolava a letra que eu já havia decorado e tocava no meu fone ― mais uma vez ―, assim que sai da aula eu passei em frente ao mural onde as fotos de todos os alunos que iriam ao baile estavam. Eu corri os olhos rapidamente procurando pela minha e de Shawn que certamente estaria ali, e depois de afastar alguns alunos que insistiam em tapar minha visão, eu finalmente encontrei.

Shawn e eu erámos os quartos no meio da segunda fileira e a foto que Brick havia tirado, diferente do que eu havia imaginado, não era uma em que nós nos beijávamos. Era o momento em que ele zombou perguntando se eu lamberia sua bochecha e eu gargalhei com o rosto quase colado ao seu, ambos de os olhos fechados.

Ao ver a imagem, eu senti o mesmo amarro no estomago daquele dia. Foi impossível não sorrir ou não sentir o carinho que havia naquela foto. Quando me lembrei do quanto as coisas haviam mudado exatamente naquele momento, a queimação no peito aumentou ainda mais. E aquele era um dos melhores sentimentos do meu dia, até aquele momento.

Aquilo certamente era obra de Lynn. Eu precisava agradece-la.

Ao lado das fotos, havia um enorme pôster roxo convidando para o baile. O horário e a frase indicando o ginásio da escola eram em letras amarelas grandes e garrafais.

Quando eu li mais uma vez e me dei conta de que naquele fim de semana tudo teoricamente deveria acabar, eu murchei em um instante.

Para começar, aquele plano deveria ser para ajudar Shawn a encontrar sua garota misteriosa até o dia do baile, mas até aquele momento ela sequer havia deixado pistas. E pensar nisso era ruim porque, 1) eu sabia que a qualquer momento ela podia aparecer, e 2) eu não queria que ele tivesse que escolher entre ela ou eu para o baile.

Onde as coisas loucas estão (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora