Capítulo 02

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Ele não podia ter mexido naquela ferida, ele não podia me machucar pela segunda vez em tanto tempo, eu não ia permitir isso. Sempre que brigavam ele dava um jeito de colocar o nome do Henry no meio, como se isso não estivesse morto e enterrado. Eu namorei o Hen durante toda a minha vida, desde os meus 16 anos, foi o meu primeiro amor, ficamos quase seis anos juntos e todos pensaram que íamos nos casar, inclusive eu, meu primeiro erro. Não que ele não tenha feito o pedido, quando eu acabei a faculdade, dupla graduação em administração e economia, ele seguiu o figurino: fez uma surpresa linda no hotel onde nos conhecemos em Gstaad, na Suíça, quando eu estava numa excursão que acontecia todo ano no colégio, e ele viajando com os primos para esquiar. Eu disse sim, claro, ele era o amor da minha vida, e pensei que não ia ter que me preocupar com muita coisa além da festa.

Os meus pais faleceram quando eu tinha oito anos, eu sou filha única, herdei o que podemos chamar de um império, que ficou nas mãos do irmão da minha mãe até eu me formar, até hoje ele me ajuda muito, é o meu homem de confiança, mas aos 21 anos eu assumi um papel difícil, que foi a de administrar não só muito dinheiro, mas vidas que estavam ligadas direta e indiretamente as minhas empresas, e eu fui preparada para isso a minha vida inteira. O Hen tinha as próprias coisas dele para tomar conta, a família dele é uma daquelas tradicionais, que vem lá de centenas de anos, a verdadeira realeza britânica. Eu tenho muito dinheiro, talvez quase tanto quanto ele, mas meu avô construiu tudo, veio do nada... E no dia que anunciamos o noivado para família dele, na casa de campo dos Bennett, o avô dele me chamou para tomar um café enquanto o Hen foi ver algo com os cavalos dele nos estábulos, ele foi muito claro ao me informar que sempre me toleraram na família porque achavam que era apenas uma brincadeira do Henry para afronta-los, mas que eu nunca seria bem vinda, que eu posso ter nascido e sido colocada em um berço de ouro, mas que no meu sangue não corria o sangue nobre, que ele sabia que a minha única intenção com o neto dele era conseguir um sobrenome para limpar o meu.

Bom... Essa nunca foi a minha intenção, eu sempre amei aquele homem da maneira mais sincera e sem ter intenções nenhuma, especialmente em limpar um sangue do qual eu tenho tanto orgulho, o sangue do qual eu sou a única herdeira. As palavras dele ainda ecoam nos meus ouvidos, ainda sinto um frio na barriga quando lembro dos olhos frios e verdes do Conrad, os mesmos olhos do Henry, sendo que os dele tem calor e sempre tiveram muito amor por mim, desde a primeira vez que os nossos olhos se encontraram...

Eu fui fraca, muito fraca, eu sabia que ele amava TANTO a família dele, de um jeito que nenhum deles o amava, e eu nunca o colocaria numa posição de ter que escolher a mim ou a eles... Eu fui fraca, eu fui covarde, eu fui me afastando dele, a nossa relação começou a ficar esquisita, eu comecei a mergulhar no trabalho, a ficar mais fria, a me perder dentro de mim mesma... Claro que ele viu o que estava acontecendo e não conseguia entender o porque de tanta mudança... As noites que antes dormíamos todas juntos, foram se transformando em duas ou uma, mas eu era incapaz de jogar ele contra a própria família.

Então veio o aniversário de 50 anos do pai dele, novamente na casa de campo, e eu tentei inventar qualquer coisa para não ir para lá, mas ele ficou na porta do escritório e só saiu quando eu entrei no helicóptero com ele.

Eu já tinha conhecido o Richard na época, o Henry também, a irmã dele era minha melhor amiga da faculdade e saímos algumas vezes todos juntos para almoçar, ele era um bom ouvinte, e ele e a Marie eram os únicos que sabiam o que estava acontecendo comigo... Veja só, ele disse, meses depois, que desde que me conheceu sempre foi apaixonado por mim, mas mesmo assim ele me dava todo o suporte para eu ficar com o Hen e tentar enfrentar a família... Mas volto pro Rich daqui a pouco...

Nos cinquenta anos do meu ex-sogro, que sempre me tratou com muito carinho apesar dos pais, ficamos nos divertindo, dançando, era quase como se tudo, por uma noite, tivesse voltado ao normal, eu me senti acolhida de novo por eles, me senti mais perto do Henry e acredito que ele de mim. Perto de duas da manhã eu fui para o quarto e ele ficou com os primos, no caminho encontrei com o tenebroso avô e ele veio atrás de mim, voltou a falar as mesmas barbaridades, mas dessa vez incluiu que eu estava traindo o neto dele e ele tinha provas disso.

Eu chorei, fiquei muito chateada, e comecei a arrumar as minhas coisas para ir embora dali, por sorte foi no meu helicóptero que fomos, liguei pro piloto e ele ali me xingando e dizendo o quanto eu era inadequada para família, quando o Henry chegou no quarto, eu já estava de saída, de tão nervosa só gritei que o avô dele era um maluco psicopata, que me destratava e ainda me acusava de trair ele, que eu não ia ficar mais um segundo no mesmo teto que ele.. E assim eu fui saindo, o velho só disse "agora você tem certeza do que eu lhe disse e do que você viu nas fotos, não é? Ela está lhe traindo, por isso que ela não quer saber de você, por isso que ela está indo embora...", nessa hora eu virei, percebendo o que ele tinha feito, todo um jogo de manipulação e mentiras, e eu cai, eu não fui forte, eu não lutei pelo meu amor...

Quando eu abri a boca para contar toda a verdade, o Henry, com o olhar mais triste que eu vi na vida, num misto de decepção e incredulidade, disse "Nem pense em falar nada, eu já entendi tudo, pode ir embora e viver a sua vida... Só acho que você foi covarde comigo e ainda por cima quis me jogar contra o meu avó... Seja muito feliz com o Richard, Eva.".

Eu mandei e-mail, procurei ele, liguei, a frequência foi diminuindo, mas só tentei o último contato um ano depois, ai desisti. Ele não ia acreditar em mim, por mais que eu dissesse a verdade, era a palavra do avô contra a minha e baseado nas mentiras e trama dele...

Eusofri, viu? Sofri feito o cão... Porque eu continuei com ele sem saber comolidar com a família, e o afastamento deu a entender que eu tinha outrapessoa... Depois de desistir, eu realmente comecei a namorar o Richard, quesempre tinha sido um bom amigo e parecia se importar comigo... Mas o final dahistória eu já contei: ficou parecendo que eu trai o Henry, porque no final dascontas eu acabei ficando com o outro, e se ele tinha alguma dúvida de que sefoi ou não traído, mesmo não tendo sido, ele vai morrer achando que foi. Fim daminha linda história.    

A Herdeira EssexOnde histórias criam vida. Descubra agora