25. É AQUELE DITADO: VAMOS FAZER O QUÊ?

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Assim que se levantou naquela manhã de sábado Kaius se lembrou do quanto havia imaginado ele e Lívia indo juntos ao baile de Boas Vindas para os estudantes da IER. Agora tudo parecia distante demais.

Kaius só havia ido para a escola naquele dia porque a presença contaria para os professores, e também porque ele não queria ficar em casa se amargurando e pensando na cerimônia de luto do seu avô na próxima semana. Ele seguiu andando pelo corredor e avistou Pietro tendo o que parecia ser uma conversa muito séria com aquele garoto excluído, David. Ele seguiu pelo corredor e encontrou Lorenzo escorado em seu armário mexendo no telefone.

- O que a gente vai ter que fazer aqui hoje? – Kaius perguntou para o amigo.

- Acho que nada. – Lorenzo levantou a cabeça olhando para ele. – Eles contrataram um pessoal pra organizar tudo lá no ginásio.

- Então porque somos obrigados a vir hoje?

- Pra sentirmos que somos importantes? Tem algumas pessoas ajudando a fazer algumas decorações.

Kaius não conseguia expressar o quanto aquilo parecia ser uma bobagem.

De repente Alec apareceu no corredor, ele sorria tanto que Kaius quase se sentiu contagiado pela felicidade dele.

- Vocês não imaginam a maior. – Ele falou. – Eu estou namorando.

- O quê? – Kaius ficou assustado com a notícia, ele nem sabia que o amigo estava saindo com alguma garota.

- Eu estou namorando com a Nicole, da minha sala. A gente tava saindo.

- Aquela Nicole? – Kaius perguntou, ele havia visto que Nicole, uma garota que eles haviam feito uma brincadeira de mau gosto no passado estava de volta a escola.

- Ela mesma. – O sorriso de Alec diminuiu consideravelmente. – Ela não sabe sobre aquilo, ou sobre eu ser um bruxo.

Kaius queria falar que eles não deveriam começar um relacionamento se Alec pretendia esconder coisas dela, mas como Kaius havia agido como um maníaco ciumento com Lívia ele sentiu que não era a melhor pessoa para dar conselhos sobre relacionamento.

- Parabéns cara! – Lorenzo falou dando um meio-abraço em Alec.

De repente quando Kaius abriu a boca para dizer a mesma coisa o som alto de uma explosão veio do lado de fora da escola, e uma fumaça de poeira começou a se espalhar pelo corredor.

- Vamos sair daqui! – Ele falou e seguiu na frente guiando os amigos.

Do lado de fora Pietro correu até eles com cara de assustado.

- O que foi isso? – Lorenzo perguntou.

- A sala da diretoria. – Pietro esticou o braço indicando a fumaça densa que saía pela janela da diretoria no segundo andar.

Kaius olhou em volta e percebeu que todos os seus colegas faziam a burrada de correr em direção ao incêndio. Mas quando ele pensou em gritar algo para eles não fazerem isso o garoto sentiu uma dor infernal vinda da parte inferior do seu braço começando do pulso e indo até a dobra. Kaius olhou para o braço e percebeu que pequenas feridas apareciam nele fazendo com que sangue escorresse lentamente.

- O que é isso? – Pietro disse quase sussurrando e quando Kaius virou o rosto ele percebeu que acontecia a mesma coisa com os amigos.

- Isso são palavras? – Alec falou, seu rosto estava vermelho.

- Espero que não seja o que eu estou pensando. – Lorenzo falou e Kaius sentiu que havia raiva em sua voz.

Kaius voltou a olhar para o seu braço e percebeu que as feridas haviam parado, e agora havia uma mensagem que eles constataram ser a mesma no braço dos quatro quando leram juntos:

Os próximos a explodirem serão vocês se não tirarem o diário daquele cofre agora.

- É o diário. – Alec falou, como se precisasse dizer em voz alta para acreditar se aquilo era mesmo verdade.

Meia-hora depois Kaius estava sentado no sofá da sala de estar da casa de Alec ao lado de Lorenzo enquanto olhava para o seu braço. As feridas nos braços dos quatro haviam desaparecido no caminho da escola até ali, mas o garoto ainda sentia um tipo de queimação no local, e tinha medo de perguntar aos amigos se eles sentiam o mesmo.

Kaius levantou o rosto e olhou para o caderno de capa acolchoada azul encima da mesa de centro, quando eles haviam chegado ali os quatro subiram até o sótão e tiraram o diário do cofre.

- O que a gente vai fazer agora? – Pietro foi o primeiro a quebrar o silêncio que se instalara entre eles.

- Acho que devemos confiar um nos outros. – Alec falou.

- Como assim? – Lorenzo disse cruzando os braços.

- Vocês quer dizer que devemos contar os nossos segredos? – Kaius perguntou e Alec assentiu.

- Vamos falar o que colocamos nesse diário, e com a força que ele vem mostrando acho melhor também falarmos sobre o que ele pode usar contra nós. – Alec esclareceu a situação.

Houve outro longo silêncio entre eles até que Lorenzo disse algo.

- Eu começo. – Ele falou. – Basicamente eu coloquei que meu irmão pode se tornar um renegado, porque ele tá usando magia adversa... Não sei se tem alguma outra coisa que ele possa usar contra mim.

Kaius se segurou para não fazer uma cara de espanto – e ele sentiu que Pietro e Alec também fizeram o mesmo – há tempos ele não ouvia Lorenzo comentar algo sobre o irmão, e agora de repente ele aparecia com essa notícia.

- Eu agora. – Alec disse. – Eu coloquei que minha mãe pode estar viciada em remédios, ela ficou muito abalada depois da morte do meu irmão – ele tratou de explicar logo. – Mas acho que agora, depois dessa ameaça, ele pode me ameaçar usando Nicole.

Kaius automaticamente olhou para Pietro pensando que o amigo iria querer uma explicação já que Alec não havia contado para ele que estava namorando, mas Pietro estava com os olhos fixados no chão, obviamente nervoso com toda essa situação.

- Eu coloquei o fato de que eu menti para Eric quando ele me pediu para falar com Lívia que gostaria de sair com ela ano passado...

- Espera um pouco, o Eric fez você fazer isso? – Lorenzo perguntou. – Todos nós sabíamos que você gostava dela, até o Eric.

- Agora eu sei disso, mas naquela data eu convidei ela pra sair. E depois que Eric morreu eu fiquei desconcertado com a situação... é uma história meio longa. – Kaius respirou fundo antes de continuar falando. – Agora, eu acho que o diário vai usar o fato da minha família estar falindo para me chantagear.

Kaius percebeu a surpresa nos rostos de Alec e Lorenzo – Pietro ainda estava encarando o chão – e ficou feliz que eles não comentaram nada sobre esse segredo.

- Pietro? – Alec falou e o garoto levantou o rosto assentindo.

- Eu coloquei lá que eu sou um aureado. – Pietro disse, e continuou antes que os amigos comentassem algo. – Mas não se preocupem, eu sou de um tipo que tem cura e já estou em tratamento.

Kaius estava tentando processar toda a informação que o amigo acabara de passar para eles quando Pietro se levantou e falou:

- Mas eu acho que ele vai me chantagear usando o fato que... o fato que... Eu sou gay.

Dessa vez não houve tempo para processar nada. De repente o diário se abriu sozinho e os amigos se aproximaram da mesa para ler a mensagem que aparecia lentamente na mesma letra horrorosa que eles se lembravam:

Que fofos vocês compartilhando segredinhos, pena que eu apareci pra quebrar o clima. E acho melhor a nossa relação continuar em segredo, ou eu dou um jeito de quebrar vocês!

Pequenos Garotos Maus - Livro 2: PerseguidosOnde histórias criam vida. Descubra agora