6. VOCÊ AINDA TEM AS LEMBRANÇAS DELE

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Na manhã seguinte, quinta-feira, Kaius estacionou o carro no mesmo lugar de sempre no estacionamento da escola e tentou pensar em um bom motivo para entrar na escola, ele com toda certeza não queria ver Lívia – porque sabia o que sentiria se a visse: saudades e arrependimento por ser um maníaco controlador – e de qualquer forma ele não precisava das notas da escola, já que um dia herdaria os negócios da família, mesmo que tirasse zero em todas as provas de matemática.

De qualquer forma Kaius decidiu encarar a realidade e saiu do carro andando em direção à entrada da escola, ele colocou uma das alças de sua bolsa sobre o ombro direito e tentou parecer que não havia passado a noite inteira acordado. Ele entrou na escola e depois de passar em seu armário para pegar os livros das matérias que teria aula no dia caminhou em direção a sua sala, mas parou no meio do caminho quando viu Lívia e suas amigas conversando com o Luís Wagner na entrada da sala. Kaius então voltou a andar, o mais depressa que podia, e seguiu para o banheiro, mas parou antes de entrar ao ler o aviso na porta de que o banheiro (ainda) estava interditado – aquilo era culpa dele, a ultima vez em que Kaius estivera naquele banheiro fora depois que Lívia resolveu que eles tinha que terminar o namoro; Kaius ficara tão nervoso que fizera o cano de todas as torneiras estourarem, e também as privadas. Ele causara bastante prejuízo.

Kaius se virou respirando fundo já pensando que teria que passar em frente à sala caso fosse ao banheiro do segundo piso, e que teria que encarar Lívia – e Luís – caso entrasse para a sala. Kaius então sentiu o telefone vibrando no bolso da sua calça jeans escura e o pegou rapidamente, ele atendeu assim que viu que era seu pai quem ligava.

- Kaius – seu pai falou assim que ele atendeu. – Venha para o Hospital Central...

- Aconteceu algo com a minha mãe? – Ele perguntou interrompendo o seu pai, como fora ele quem ligara, o garoto logo imaginara que havia acontecido algo com sua mãe.

- Não, a sua mãe está bem. É o seu avô, ele passou mal e precisou ser internado.

Kaius saiu apressado em direção à saída da escola.

- Eu nem sabia que o vovô havia chegado a Rosalinda! – Do lado de fora ele correu até o seu carro.

- Nem eu, por algum motivo que ainda não sei, ele estava hospedado no Marte – O Marte era um grande hotel de Rosalinda –, isso já faz três dias. Uma camareira o encontrou caído no chão do quarto esta manhã... Venha logo filho, qualquer outra coisa eu te explico quando chegar. – E então desligou o telefone.

Kaius entrou no carro e tirou rapidamente o paletó vermelho com o brasão da IER. Ele arrancou com o carro saindo rapidamente do estacionamento e quando já estava na rua acelerou ainda mais.

Quando finalmente chegou ao Hospital Central, Kaius estacionou seu carro na primeira vaga que encontrou – provavelmente era alguma especial para algum funcionário do hospital – e saiu apressado para o grande prédio coberto por vidros do chão ao teto.

Kaius encontrou o pai assim que entrou na sala de espera, ele conversava com uma mulher negra, alta e com os cabelos amarrados em um coque, como ela usava um jaleco branco, o garoto logo imaginou que ela era uma médica.

- ...Por causa da sua pressão sanguínea. – Kaius chegou já no fim do que a médica falava. – Nós estamos fazendo o possível por ele, mas infelizmente não posso negar que ele está em grande perigo. Logo eu volto para dar a vocês mais informações. – Ela falou e saiu andando.

A mãe de Kaius estava com o cabelo ruivo encaracolado amarrado de qualquer forma o que indicava que ela saíra apressada de casa sem ao menos se arrumar. Kaius passou o braço sobre seu ombro e junto com o pai os dois andaram até o sofá e se sentaram.

- O que aconteceu afinal? – Ele perguntou.

- Seu avô sofreu um ataque cardíaco. – Sua mãe respondeu. – Aparentemente ele não estava tomando os remédios de controle da pressão.

- A médica também acredita que ele estava sobre muito estresse. – Seu pai completou.

- Como o senhor descobriu que ele estava aqui? – Kaius perguntou ao pai.

- A camareira usou o telefone dele para me ligar logo depois de chamar o socorro, o meu número estava salvo nos contatos de urgência... E eu pedi para que o trouxessem para cá. – Ele ficou em silêncio por um tempo.

- Seu pai resolveu pedir que você viesse porque seria bom para o seu avô te ver assim que acordar... Você sabe o quanto ele é ligado a você. – Sua mãe falou apertando sua mão que ainda estava sobre o ombro dele.

Kaius ficou lá sentado ao lado da mãe, esperando por mais noticias. Vez ou outra seu pai se levantava e ficava andando de um lado para o outro, impaciente. Quase uma hora e meia depois uma enfermeira veio avisar que o avô de Kaius precisou ser levado para realizar uma cirurgia urgente. Kaius sentiu que sua cabeça iria explodir – e ele sabia que se não fizesse nada para parar com a dor de cabeça, logo algum cano sob o piso da sala de espera estouraria.

O garoto andou até o lado de fora do hospital e ficou lá sentado sobre o capô do carro, respirando ar fresco, para que a dor de cabeça passasse. O avô de Kaius também era um integrante da Aqua, e era o bruxo que mais tinha orgulho de sua família, segundo o próprio Kaius. O garoto se lembrou de quando era bem pequeno e seu avô o levava para pescar. Ele sempre ficava encantado como seu avô movimentava a água do rio para atrair os maiores peixes.

- Devemos pegar apenas os maiores. – O velho homem sempre dizia, e Kaius completava com ele: – Se pegarmos mais do que a natureza nos dá, logo não sobrará nada!

Quando Kaius viu que seu pai saía apressado do hospital e seguia em sua direção, ele logo soube que as noticias não eram boas. Ele pulou do capô e andou apressado até estar de frente ao pai.

- Seu avô não conseguiu completar a cirurgia. – Ele disse sem expressão alguma no rosto.

- Como assim ele não completou a cirurgia?

- Seu avô está morto Kaius!

Kaius sentiu como se seu pai tivesse lhe dado um soco na barriga, ele se virou de costas para o pai e precisou se esforçar para respirar porque sentiu como se seus pulmões de repente parassem de funcionar; ele sentiu uma leve vibração em seus pés e logo soube o que era...

- Kaius se controle ou fará toda a encanação sobre o estacionamento explodir!

- Eu preciso de um tempo, pai... Acho que vou para a Casa da Magia, consigo me acalmar quando estou na biblioteca.

- Tudo bem, logo os anciãos viram buscá-lo. Qualquer coisa eu te ligo.

Kaius se apressou até seu carro e em um minuto seguia pela rua tentando se controlar ao máximo para não acabar batendo o carro.

Pequenos Garotos Maus - Livro 2: PerseguidosOnde histórias criam vida. Descubra agora