3. KAIUS PRECISA ENTENDER O SIGNIFICADO DA PALAVRA "FIM"

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Naquela tarde depois que se despediu dos amigos, Kaius Quartzite não sabia bem para onde estava indo com o carro até que estacionou em frente à casa de Lívia.

No mesmo momento em que olhou para a porta branca de madeira da casa, Kaius se lembrou quando ele e a garota se encontraram na biblioteca da Casa Da Magia dias depois da morte de Eric.

Kaius estava entrando na sessão de diários para pegar o antigo caderno de um dos bruxos da Aqua quando de repente se esbarrou em Lívia. Algumas garotas do clã gostavam de ir até a biblioteca para ler sobre a história de seus antepassados, tinha até mesmo algumas mulheres que trabalhavam lá.

- Oh, me desculpe Lívia! – Ele disse se abaixando e pegando o diário que ele acabara a fazendo derrubar.

- Não tem problema Kaius. – Ela sorriu daquele jeito meio tímido que sempre encantara o garoto.

Kaius olhou para a capa do diário e viu o símbolo da Aeris gravado nele.

- Você tá lendo sobre a história da Aeris? – Ele perguntou, era de se esperar que ela lesse sobre a família elementar de alguém da sua família, mas seu pai era da Ignis e seu irmão mais velho, Jeff, da Terra.

Ela pegou o diário da mão do garoto.

- A Aeris é a família que eu acho que pertenceria se fosse um garoto. – Ela se sentou no chão e começou a folhear o diário. – Pelo menos eu gostaria de pertencer.

Kaius se sentou ao seu lado.

- Por que a Aeris?

- Porque... a Aeris me encanta, a forma como seus integrantes se entregam aos deveres da sua família mesmo sofrendo todo esse preconceito. É de algo assim que eu gostaria de fazer parte.

Eles ficaram em silêncio por um momento até que Kaius sorriu ao perceber que Eric nunca daria certo com Lívia.

- A qual família você acha que pertenceria se não você da Aqua? – Ela perguntou de repente.

- Não sei, na verdade eu sempre pensei que qualquer família seria ótima contanto que... – ele parou ao perceber o que iria falar.

- Contanto que não fosse a Aeris. – Lívia entendeu bem o que ele iria dizer.

- Sim... esse é meio que um pensamento comum de todos os garotos da minha idade.

- Essa é uma coisa que eu não consigo entender. – Ela falou meio que de forma irritada. – Todos do clã têm magia enraizada em seu ser, marcada na alma. Nenhum de vocês garotos conseguem não amar esse lugar – ela indicou para os lados querendo dizer sobre a Casa da Magia inteira – e mesmo assim vocês têm esse preconceito idiota com uma das famílias elementares. E se ela deixasse de existir de repente? Como seria?

Eles ficaram em silêncio; Kaius involuntariamente ficara boquiaberto.

- Desculpe se eu fui meio rude. – Lívia falou abaixando a cabeça.

- Não, você foi incrível. Com toda certeza eu vou começar a ver a Aeris de forma diferente a partir de agora.

Ela levantou a cabeça e olhou para ele sorrindo.

- Você seria uma bruxa incrível! – Ele falou, e então os dois se inclinaram e começaram a se beijar.

Aquilo levou uns dois minutos e depois quando se separaram e começaram a conversar sobre coisas aleatórias, Kaius não conseguiu conter seu sorriso.

Kaius tirou seu telefone do bolso e ligou para Lívia, ele respirou aliviado quando ela atendeu.

- Kaius, por favor, pare de me ligar... Essa sua insistência está me deixando com medo.

- Eu não quero te deixar assustada Lívia, eu só quero conversar. Saia aqui, por favor.

- Você tá na minha casa? – Ela perguntou e Kaius a viu olhando pela janela do seu quarto no segundo andar.

Ele saiu do carro e atravessou a rua indo em direção à casa da ex-namorada, mas assim que pisou na calçada e seguia pelo caminho de pedras que ia até a entrada da casa ele se chocou contra uma parede transparente, Kaius levantou a mão e tocou na barreira e no mesmo segundo sentiu que tipo de feitiço era aquele.

- Por que tem um escudo protetor na entrada da sua casa? – Ele perguntou ao telefone.

Kaius forçou a ponta dos dedos contra o escudo usando magia, mas ele não se dobrou nenhum pouco sequer.

Lívia ficou em silêncio.

- Esse escudo foi feito para barrar a minha aura...

- Sinto muito Kaius, o Jeff chegou ontem e eu contei sobre a gente... e que você estava sendo muito insistente – Kaius ouviu ela respirando fundo antes de continuar. – E você sabe como os integrantes da Terra podem ser super protetores...

- Então ele fez um escudo pra te proteger de mim.

Kaius desligou o telefone e voltou correndo até o carro; ele saiu dirigindo depressa ultrapassando os carros que seguiam em sua frente e por duas vezes quase bateu o carro.

Logo ele chegou até o lago no fundo da propriedade dos Ruby – o mesmo lago que ele, Eric e os amigos vieram no dia da Cerimônia da Descoberta para brincarem de eletrize o alvo. Kaius sentiu falta daquela época em que sua única preocupação era não entrar para a Aeris.

Ele correu pelo espaço gramado até a passarela de madeira ao invés da margem do lago como sempre ia, arrancou os tênis dos pés e tirou o casaco e o cachecol vermelho que usava, saltou dentro do lago e mergulhou na água gelada. Ele nadou indo mais fundo e então parou, abriu a boca respirando e deixou que a água invadisse seu pulmão.

Kaius abriu os olhos e viu alguns peixes nadando perto do seu rosto, ele esticou o braço esquerdo e pode sentir como se os peixes tocassem a sua mão; o garoto levantou a cabeça e pode sentir o calor do sol sobre a água. Se alguém entrasse no rio naquele momento, Kaius poderia senti-lo.

A primeira vez que ele fizera aquilo fora na primeira semana de aula na Aqua, todos os professores haviam se reunido e feito uma piscina natural surgir no centro do espaço gramado no fundo da Casa da Magia, eles disseram para todos os novos integrantes da família entrar e os explicou o que tinham que fazer.

Lorenzo havia entrando ao lado de Kaius, e quando estavam submersos, quando haviam se tornado água, eles puderam sentir todos os seus irmãos que também estavam ali, como se fossem apenas um só.

Se unir a água fazia Kaius sentir que não havia nenhum mundo além daquele, mas naquele momento, ele ainda pensava em Lívia.  

Pequenos Garotos Maus - Livro 2: PerseguidosOnde histórias criam vida. Descubra agora