7. LIGADOS POR ALGO MAIS FORTE QUE SANGUE

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Mais tarde naquele dia, Lorenzo saiu apressado da biblioteca da IER quando olhou para seu telefone e percebeu que estava muito tarde, e que não poderia ir em casa antes da aula de magia. Ele fora para a biblioteca no último tempo de aula para fazer uma pesquisa sobre a primeira guerra mundial para um trabalho de História e nem vira o tempo passar, porque a cada vez que se aprofundava mais na leitura dos livros ele se perguntava como os bruxos da época se envolveram durante o embate.

O garoto seguiu andando apressado pela rua que seguia em direção ao centro da cidade, mas então virou à esquerda muito antes de chegar à avenida dos comércios. Lorenzo apressou o passo ao se lembrar de que naquele dia teria aula com o Sr. Friet, que dava aula de Autocontrole, e estranhamente estava quase sempre estressadamente descontrolado.

De repente Lorenzo escutou passos vindos logo atrás e soube que estava sendo seguido, e tudo o que podia pensar era que estava prestes a ser assaltado.

Ele então se virou rapidamente e jogou um feitiço de paralisação que foi rebatido por um escudo transparente que estava embaçado por causa do ataque de seu feitiço. Logo enquanto o escudo se desfazia em frente ao bruxo alto com roupas escuras, o coração de Lorenzo começou a acelerar.

- Frederico... – ele disse baixinho.

Alto, queixo quadrado, cabelos lisos, olhos azuis, barba bem feita; Frederico seria idêntico ao pai de Lorenzo, se não fosse albino.

- Olá irmão, sentiu saudades? – Ele falou e então abriu um sorriso largo e caminhou até Lorenzo.

Antes que o garoto pudesse fazer algo seu irmão o envolveu com seus braços e o fechou em um forte abraço. Lorenzo não podia mentir, era ótimo ter seu irmão ali tão perto, depois de tanto tempo; por um segundo ele quase se esqueceu dos problemas que Fred carregava com ele.

- Você sabe o quanto faz falta para todos nós! – Lorenzo falou quando Frederico o soltou.

- E eu voltarei de verdade, algum dia. – Ele falou com calma, sua voz era forte e reconfortante, bem diferente do que ao telefone, Lorenzo quase se esquecera de como ela realmente era. – Mas agora preciso fazer algo...

- Você ainda não desistiu disso? – Lorenzo se virou e começou a andar, mas um escudo surgiu em sua frente e ele não conseguiu continuar. – Eu havia me esquecido que escudos são sua especialidade.

- Me desculpe fazer parecer que eu estou te perseguindo Lorenzo, mas eu realmente preciso da sua ajuda!

- De nós dois, você é o bruxo que tem os poderes estabilizados. Não precisa da minha ajuda pra nada.

- Preciso sim, porque além da magia eu preciso de alguns artefatos... Artefatos que só poderiam ser pegos por professores da Casa da Magia, ou alunos.

O queixo de Lorenzo caiu, ele simplesmente não podia acreditar que Frederico estivesse pedindo que ele roubasse algo da Casa da Magia.

- Você está louco? – Ele falou quase sussurrando, como se um bruxo qualquer pudesse aparecer por ali e ouvir o que ele dizia. – Eu não vou roubar a Casa da Magia, e nem você irá!

De repente um raio de sol atingiu os cabelos brancos de Frederico e sua cabeça então parecia brilhar. Lorenzo se lembrou quando os dois eram crianças e sempre que iam brincar o pai precisava colocar um escudo de proteção em volta do irmão porque a exposição ao sol podia deixar sua pele muito ferida, com o tempo ele mesmo aprendera a fazer os escudos e fora assim que acabara ficando tão bom com eles.

- Não é roubo... Lorenzo veja bem, eu só preciso usar esses artefatos por um curto espaço de tempo. Assim que eu terminar você os devolve para o lugar em que os pegou.

Lorenzo se virou e jogou um contra feitiço na direção do irmão quando percebeu que ele começara a fazer outro escudo surgir em sua frente.

- Foi ótimo ver você Frederico, mas eu estou indo embora agora! – Ele continuou andando depressa e quando olhou para trás não viu mais o seu irmão.

Lorenzo virou a última esquina e se sentiu mais calmo quando avistou a Casa da Magia e viu vários garotos do lado de fora do casarão conversando, se havia bruxos do lado de fora significava que as aulas não haviam começado ainda. De repente enquanto seguia pela calçada que levava para o estacionamento, Lorenzo sentiu que algo se mexia em sua bolsa e o garoto parou para dar uma olhada; ele abriu o zíper e logo que viu o diário soube que era o objeto que se "mexia" dentro da mochila. Ele pegou o caderno azul e assim que o abriu viu uma frase surgir na folha em branco – era uma caligrafia feia e desajeitada, que com toda certeza não era a letra de Eric.

Eu estou tão entediado, que tal se brincarmos um pouco?

- O que você quer? – Pietro sussurrou para o caderno assim que as palavras desapareceram.

Está vendo todos esses garotos arrumadinhos? Eu quero que você faça pelo menos um deles sentir um gostinho do que é vergonha.

- O quê? Eu não vou fazer isso! – O garoto falou enquanto via a frase sumir como se nunca tivesse havido mancha alguma de tinta naquelas páginas.

Vai sim, porque eu tenho seu segredo! E você não quer que eu o espalhe para todo o clã, seu pai ficaria tão magoado por você ter mentido!

Lorenzo se lembrou quando o diário pedira que eles escrevessem um segredo para que se unissem com o objeto e ele escrevera sobre seu irmão estar envolvido com magia adversa e correndo risco de se tornar um Renegado. No mesmo minuto ele fechou o caderno com raiva e seguiu em direção à entrada da Casa da Magia. Logo ele avistou Caio Felps e imaginou que seria mais fácil fazer aquilo com alguém que não gostasse muito.

Rapidamente Lorenzo balançou o dedo indicador direito e no mesmo segundo a calça e a cueca de Caio foram parar em seus pés e todos que estavam ali na frente da Casa da Magia riram dele. Lorenzo entrou rapidamente dentro do Casarão tentando ignorar as risadas em alto e bom som, e entendeu que apesar de ter um problema em relação ao que o seu irmão planejava fazer, ele tinha um problema maior ainda em relação ao diário, pois estava ligado a ele por causa de seu segredo.

Pequenos Garotos Maus - Livro 2: PerseguidosOnde histórias criam vida. Descubra agora