A Ladra e o Cego

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Capital Reino do leste: Earny

Ela corria com toda a velocidade que tinha, o vestido de gala roxo rasgado na altura das coxas, os passos ecoando pela rua de pedra da capital. Qualquer um que a olhasse correndo de relance poderia pensar algo como "Ela deve ter sido expulsa do baile" ou "Ela deve ter tomado um fora de alguém", mas, ela não estava correndo por esse motivo, o motivo dela estar correndo estava a cerca de 200 metros atras dela, a guarda real, que a perseguia.

A jovem na casa dos 17 anos de cabelos curtos e pretos, pele branca, olhos castanhos, um sorriso de relance no rosto e apenas um singelo pensamento na cabeça. Onde se esconder.

Ela corria descalça e via a frente uma esquina, não poderia se dar o luxo de perder um segundo pensando e logo virou para a esquerda. As ruas estavam praticamente desertas naquela madrugada, talvez fosse em parte por causa do baile que havia bagunçado a cidade.

Príncipe do reino estava buscando uma princesa – coisa bem clichê e sem relevância – e uma ladra como ela não poderia perder essa incrível chance de entrar em um castelo. Com ajuda de seus comparsas ela sequestrou uma nobre, roubou um vestido, invadiu o baile e... Evitou de toda forma qualquer pessoa que parecesse querer falar com ela, exceto o príncipe que foi falar com ela. De forma resumida e simples poderia se dizer que ele havia gostado dela, ela pedia para ele a levar até seu quarto, coisa que fez sem pensar, foi inicialmente suspeito o príncipe sumir na festa, mas logo os guardas deixaram isso para lá lembrando do "histórico" de vezes que o príncipe havia "sumido" com uma convidada de alguma festa, baile, ou em dias normais com uma empregada.

No quarto ela usou seu maior dom feminino, seu punho. Após nocautear o príncipe ela procurou todas as jóias do príncipe – qualquer coisa que parecia preciosa – e enfiou na bolsa. Logo ela saiu da festa pela porta da frente com um sorriso alegre de quem havia acabado de achar um tesouro debaixo da cama, isso chamava a atenção dos guardas que se perguntavam por que o príncipe não tinha saído do quarto ainda se a acompanhante dele já havia, alguém foi olhar e chegamos no presente. Ela rasgando o vestido e correndo e cavaleiros e guardas correndo bem atrás dela.

A jovem ladra olhou para os lados enquanto corria pela rua, estava próxima ao centro da cidade. Era uma área mais residêncial, tinha várias casas e pequenas lojas ao redor dela das mais diferentes formas e cores.

Um bom lugar para se esconder, só preciso de um esconderijo.

Ela pensou. Viu uma janela aberta numa pensão, sabia que se tratava de uma pensão pelo grande letreiro de madeira acima da casa verde clara dizendo "Pensão Magnólia". Ela poderia entrar num pulo já que a janela ficava a aproxidamente um metro do chão, parecia uma ótima ideia e assim fez, correu para a janela, apoiou as mãos no parapeito se impulsionando para frente, caiu dentro do quarto e fechou a janela de uma vez o mais rápido que conseguiu.

Os guardas nesse momento paravam na esquina e procuravam a direção que ela havia ido, eles se dividiam indo um grupo para cada lado.

A ladra dava um sorriso curto e se encostava na parede se deixando descansar por um momento enquanto soltava um suspiro aliviado. Se levantou e olhou o quarto, um quarto bem simples, uma cômoda e do lado da cômoda uma cama vazia, uma porta na frente, uma tábua claramente solta no chão. O quarto tinha cheiro de mofo e parecia tremendamente medíocre, era realmente bem simples.

Andou até a porta e olhou para fora do quarto, no corredor havia um jovem indo em direção ao quarto, cabelos pretos e uma franja cobrindo seus olhos, branco como neve, praticamente quase um albino, pouco mais alto que ela, usava um pijama branco.

Droga! Ele vai me ver.

Ela recuava de uma vez e pisava numa tábua solta – aquela tábua solta – e caia de costas com tudo no chão, soltava um gemido de dor e pensava imediatamente.

Ferrou!

O garoto entrava no quarto, fechou a porta e pisava ao redor dela e se sentava na cama sem notar ela.

Depois disso ela ficava com um sorriso tremendamente forçado em seu rosto e uma gota de suor escorrendo de sua testa.

Ele é cego?

Virou a cabeça para olhar para o garoto sentado na cama, forçou o olhar tentando ver além da franja escura e conseguiu ver com dificuldade que ele estava com os olhos fechados.

Ele é sonâmbulo... Que sorte!

Colocou uma mão no chão e se apoiou para levantar quando foi atingida por um travesseiro sobre a cabeça, foi tão repentino que ela gemeu alto e se afastou ainda sentada no chão para longe da cama.

  - Você está acordado?!

  - Sim! Eu estou sua... Sua.. Estranha! – Ele respondia erguendo firmemente o travesseiro enquanto se levantava.

  - Calma! Calma! Eu... – Ela disse a primeira coisa que vinha a mente – Sou a camareira noturna!

  - Camareira? – Ele perguntou abaixando um pouco o travesseiro.

  - Sim! Camareira! Não te avisaram sobre isso?

A ladra levantou e colocou uma mão sobre a cabeça enquanto o garoto cego – só assim para cair na mentira dela. – ficava em silêncio pensando.

  - Não... – moveu o travesseiro da esquerda para direita acertando o ombro dela.

  - Ei! Pare com isso!

Ela segurou o braço dele e o encarou mesmo que o jovem não pudesse ver ela.

  - Pare com isso, se não eu te – ela sentia puxar o braço dela, virar o corpo a jogando no chão com força num golpe semelhante a um golpe de karatê.

Ela ficava no chão  de costas com as pernas sobre a cama e um semblante de espanto, se perguntava qual o problema do cego, não, não era essa pergunta. Quais eram as chances dela apanhar para um cego? Não, também não era esse seu pensamento. Seu pensamento era "Por que diabos estou apanhando para um cego?!".

Ela apoiava a mão no chão se levantando.

  - Bom golpe. Me pegou desprevenida, olha agora – erguia a cabeça, olhou para o garoto, uma expressão de espanto tomou forma em seu rosto, uma gota de suor escorria de sua testa.

- O-O que está fazendo com essa espada? – Ela perguntou claramente supresa.

Ele é algum tipo de ex-soldado de guerra?! Não... Ele teve ser um assassino esquisito! Não. Faça. Movimentos. Bruscos. Não. Faça.

  - To me defendendo de uma esquisita. – Ele a respondia com sinceridade mesmo isso sendo parcialmente óbvio para ele.

  - Olha... Eu não sou esquisita. Sabe, você me parece legal, se abaixar essa arma podemos fazer – Era interrompida.

  - Não quero nada com você, você fede a suor.

Os dentes da ladra rangiam enquanto um sorriso bem forçado em sua face e um turbilhão de raiva em sua mente, não pelo truque não ter funcionado, afinal das contas ela não poderia usar sua aparência para enganar ele, um cego, mas sim por ele ter ofendido ela descaradamente.

  - É bem difícil correr quase uma cidade inteira e não suar. Senhor cego.

  - Yokonami.

  - Yokoahn? – Ela repetiu fingindo não ter entendido.

  - Yokonami.

  - Não entendi. Yukunamo? – Se preparava mentalmente para puxar sua adaga e afastar a katana dele.

  - Yokonami.

  - Ahhh, Yokonami! – Ela se impulsionou contra ele e bateu a adaga na katana a desviando um pouco e correu para a porta.

Agora só preciso sair!

O pensamento dela era interrompido quando sentia um corpo sobre o seu, Yoko saltava sobre ela a segurando pela cintura e fazendo com que ela batesse a cara na porta, para isso ele acabou soltando a sua katana.

ELE É ALGUM TIPO DE SUPER CEGO?

  - Pode me chamar de Yoko. – levava sua mão esquerda ao braço da mão que segurava a adaga e sua outra mão até o ombro dela. – Senhorita invasora. E só pra deixar claro, eu não sou casado.

  - Ley, meu nome é Ley e não me importo com isso!

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