02 CAPÍTULO - UM DIA TRANQUILO

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RIO DE JANEIRO - 16 DE SETEMBRO DE 2017 - 10:30 HORAS

- Ham! E aí?

- E aí ela sumiu, Dinah!

- Mas isso você já falou. Mimimi ela sumiu.Sinto informa-lhe, doutora - Dinah fazia voz de bebê - VOCÊ PERDEU A GAROTA! - Gritou debochada. - Otária! De onde você tirou Flávio Venturini em um momento como aquele? - gargalhadas.

- Ai! Mi-nha ca-be-ça! Dinah, você definitivamente está ofendendo minha integridade física com esses gritos. Que linguajar é esse? Eu realmente convidei você para um almoço hoje no meu apartamento?

- Sim. Enquanto eu colocava o cinto de segurança em você no carro. Disse assim: "Dinah, não sei viver sem você. Almoça comigo amanhã. No meu apartamento. Chegue às 07:00 horas." Só sei que foi assim. Você tem sorte por eu ter aparecido aqui às 10:00 horas.

Nem em meus piores devaneios eu teria convidado Dinah para este almoço. Motivos: primeiramente, ressaca. Mas com certeza, não convidaria pessoa alguma, porque me "adaptei" à solidão dos fins de semana. Solidão que circulava pelos dias úteis, também. Todos os dias tornaram-se inúteis. Era assim desde que meus pais morreram em um acidente de carro há seis anos. Tive a honra tê-los em minha formatura. Ao seu lado, assumi o posto de advogada no escritório que eles arduamente montaram e trabalharam ao longo de 20 anos. Um mês depois os perdi.

- Você não está remoendo coisas do passado aí não, né? - Dinah me despertou, lembrando-me que minhas amigas não precisam de convite.

- Sinto saudade deles. Sempre sentirei. Desculpa meus sumiços. Tenho passado muito longe de vocês.

- Sei que sente a falta dele, mas você sobreviveu àquele acidente. Sua missão ainda não acabou, Lauren. - me consolou - Desconfio que, Deus manteve esse seu corpo branquelo aqui na terra para que essa sua cabeça oca possa ajudar mais pessoas. - esbocei um sorriso.

- Você sabia que essas pessoas me pagam para isso? - ela fez uma cara de incredulidade que quase me convenceu.

- Não diga?

-Pois é, pois é, pois é. - Gargalhamos juntas.

- E você sabe que eu sei que você dá sua vida nesse trabalho, não sabe?

- Esse trabalho é o que me mantém viva, Dinah.

De repente um barulho ensurdecedor tomou conta do apartamento e ainda incomodadas pelo som, seguimos para o banheiro que era de onde parecia vir o barulho:

- Você não jogou o cadáver daquele periquito pelo vaso não, né? - Dinah indagou quando o barulho cessou.

- Freud está bem vivo, graças a Deus. - Adentramos o cômodo lentamente para fins de uma averiguação segura.

Uma pequena infiltração pôde ser notada na parede acima do revestimento de cerâmica. Aproximamos nossos rostos do vazamento a fim de encontrar uma causa, ao menos, para o estrondoso barulho há pouco experimentado. Perto. Bem perto. O barulho mais uma vez tomou conta do ambiente e nos afastamos abruptamente da parede, tapando nossos ouvidos. Um grito agudo foi proferido do outro lado da parede e a mancha d'água tomou maiores proporções.

- Lauren, o que foi isso?- Dinah ostentava uma face aterrorizada.

- Às vezes parece que você não trabalha com processos criminais ou tem vizinhos - Caminhei para fora do banheiro apressadamente, percorrendo meu quarto, sala.

- Homicídio? Lauren, volta aqui! - Ela tentava acompanhar meus passos.

Direcionei-me à entrada de meu apartamento, saindo rumo ao apartamento vizinho. Um toque na campainha. Dois. No terceiro a porta foi aberta revelando uma adolescente, que presumi beirar os 15 anos. Seu torso encharcado e rosto chateado confirmavam minha teoria.

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