Aquele garoto estranho de cabelos loiros nunca foi com a cara de ninguém na escola, não porque era mal-encarado, mas as pessoas já o excluíam e julgavam só pela aparência. Era melhor falar o necessário, e andar sozinho, do que escutar as piadinhas sobre seu jeito de se vestir, pois gostava de usar roupas um tanto quanto apertadas para seu tipo físico, ou sobre a cor amarelada das suas madeixas. Sempre achavam que era descolorido, apesar de ser natural. Se não queriam falar com ele, ótimo, também não fazia questão.
- Luke! – gritou Arzaylea do outro lado da rua; uma das poucas e únicas amigas verdadeiras suas. Ela não se importava com essas opiniões pré-forjadas. Era realmente uma menina doce e gentil.
- Lea, tudo bem? – disse Luke quando a menina chegou ao seu lado.
- Sim, Luke, o Calum e o Ash estão indo comemorar nossa formatura em um bar aqui perto, você não quer vir também?
- Num bar? Mas a faculdade só começa daqui a duas semanas! Vocês já querem encher a cara?
- Temos de celebrar o fim do ensino médio, Luke! E o Calum não bebe! Vamos, vai ser divertido!
Bufando, mas concordando com a "lógica" dela, Luke acompanhou a amiga até o tal bar. Nem acreditava na mudança que estava acontecendo nas suas vidas; já estavam indo para a faculdade, e para sua surpresa, soube hoje ser a mesma, também, as opções da cidade eram escassas. Quase todos os jovens da cidade dirigiam-se para lá. Ao menos estava aliviado, não chegaria lá sem conhecer ninguém.
No bar a comemoração foi rápida, mas divertida. Os amigos conseguiram rir bastante, e nem chegaram a pedir tantas bebidas assim como haviam pensado, e para Luke isso foi um alívio; ele nunca gostou muito de se embebedar por nada. Comeram os petiscos divertindo-se com as histórias desde o primeiro ano - falando assim, parecia séculos que haviam saído da escola.
- Luke, para qual área você vai na faculdade? – perguntou Ash tomando outro gole do seu copo.
- Vou tentar análise de sistemas.
- Lucas – interrompeu Calum – Você não tem muito cérebro para fazer cálculos.
Luke encarou o moreno sério, e virando o rosto respondeu, sarcástico:
- Eu posso não ser tão bom quanto a miss perfeição, mas eu sei mexer com máquinas e computadores muito bem.
Calum sorriu ajeitando o cabelo.
- É o que veremos... Afinal, estamos na mesma sala...
- O que?? – exclamou Luke após cuspir um pouco da bebida, tossindo em seguida.
- É, eu também estou nessa faculdade, lembra? Mesmo cursando medicina, algumas das nossas aulas vão ser juntas.
- Ah! Eu também, Luke! – comentou Arzaylea, alegre, esticando os braços para o alto.
- Mas Lea, você vai fazer culinária. – disse o loiro com a sobrancelha erguida.
- Sim, mas eu tenho aulas de economia, então vamos poder nos ver em algumas delas!
- Ei Ash! E você, vai tentar o que?
O maior deu outra golada esvaziando o copo e o pousou na mesa, parecia um tanto quanto envergonhado.
- Vou fazer direito...
Os três se surpreenderam com a revelação repentina dele, afinal, ele nunca falara muito sobre seus gostos, ou preferencias de carreira, mas Arzaylea logo contornou a situação com a sua inocência, que às vezes vinha a calhar:
- Ótimo Ashy! Você vai ser um excelente advogado!
- Mas Ash – interrompeu Luke – Porque direito? Eu sempre achei que você levava jeito para esportes.
- Por causo do meu avô... Onde nós morávamos, ele sofreu muitas injustiças, e a lei não funcionava pra gente como ele. Eu quero tentar mudar isso.
Luke sorriu para ele propondo um brinde. Ash sempre foi justo e mais ainda: gentil, apesar do seu tamanho e aparência; uma imagem dizendo completamente o contrário de sua personalidade. Calum era o nerd certinho, sempre enchendo seu saco, mas ao menos, sabia que podia contar com ele para falar de seus problemas ou pedir ajuda. E Arzaylea, bom, ela era a boba alegre do grupo, mas sempre nas horas ruins tinha os melhores comentários, capaz de te alegrar até em um enterro. É, ele havia encontrado bons amigos, apesar de tudo.
Os copos titilaram uns nos outros e os quatro riram felizes, com a nova etapa de suas vidas, talvez estivessem um pouco receosos, mas isso era normal. O mais importante, era sempre seguir em frente.
Já era quase meia noite, quando Luke voltava para casa. Ele e os outros deixaram Arzaylea na sua, e agora cada um seguia seu caminho. Se espreguiçou com um pouco de cansaço, mas talvez estivesse meio bêbado também.
Virando a esquina de uma rua, já próximo ao seu bairro, escutou um ronronar estranho vindo de trás de uma lata de lixo. Dirigiu-se à ela e olhou curioso atrás do lixo empilhado ao seu lado, até encontrar um pequeno gato branco, mas com a pelagem bem suja, lambendo a pata ferida.
Aproximou-se do animal que chiou com sua presença, e mesmo com alguns arranhões ao estender a mão á ele Luke conseguira pegá-lo.
- Calma, afobado eu só quero ajudar! – disse como se ele pudesse entendê-lo.
O gato se remexeu um pouco em seu colo até finamente se ajeitar nele, aproveitando o calor do peito de Luke. O rapaz sorriu quando o bichano se acalmou fechando os olhos, e continuou até chegar em casa.
Deitou o gato na mesa da cozinha, onde tratou de suas feridas as enfaixando. Recebera novos arranhões pois ele era bem arisco, e depois de ter vários cortes nas mãos, pode, por fim, ver o animal se aquietar de vez.
Pegou um pano velho e levou para o seu quarto, onde arrumou no chão um cantinho para ele, junto a uma tigela de leite.
- Será que tem alguém te procurando? – perguntou fazendo carinho em sua orelha, vendo-a descer para o lado e erguer-se ao ser solta, enquanto ele sorvia o leite rapidamente – Você não parece ser um gato comum.
O animal pareceu ter voltado o olhar para Luke o encarando. Isso o assustou um pouco, mas ficou aliviado quando ele tornou a beber o leite. Ele era mesmo diferente.
Deitou-se na cama, exausto. A janela estava entreaberta e um ventinho o incomodava um pouco, mas estava com preguiça de levantar para cerrar o vidro. Enrolou-se no cobertor a fim de espantar a sensação de frio afofando o travesseiro.
Estava quase caindo no sono, quando ouviu um som alto em seu quarto. Abaixou o cobertor destampando o rosto para ver o que era; o gato não estava mais lá, apenas a tigela vazia. Tentou ergue-se, mas não pode, um peso o impedia de se mover livremente. Voltou os olhos sonolentos para cima e foi quando viu aquele homem, vestindo um roupão branco, curvado sobre ele no colchão.
Soltou um grito rápido o abafando em seguida, pois seus irmãos ou seu pai poderiam escutar. Quem diabos era aquele cara?!
Tinha os olhos verdes e penetrantes, quase como uma floresta escura e densa, cabelos da mesma cor, bagunçados, porém mais claros. Um corpo robusto e forte, muito bem definido por sinal, pois suas roupas eram bem finas revelando melhor os contornos dele. E tinha um sorriso enorme estampado na face.
Luke o encarava sem saber o que fazer. Pedir ajuda? Talvez desse tempo de chegar até a porta. Não que fosse indefeso, mas preferiria evitar uma confusão maior no meio da noite, talvez desse para o levar até a saída. A voz rouca e potente daquele estranho, porém interrompeu seus pensamentos.
- Você é um cara bem estranho... E também corajoso. – disse ele, encarando os olhos de Luke.
Tomando fôlego, o loiro tirou as mãos da boca.
- Quem é você?! – perguntou ainda espantado, mas firme.
- Isso depende. – ele sorriu ainda mais, fazendo a espinha de Luke se contorcer - não de medo – Eu tenho muitos nomes, cada um me chama de um jeito, do que você quer me chamar?
- C—como??? – Luke se engasgou reparando agora o quão alto tinha retrucado. Olhou para a fresta de sua porta, e graças a Deus ninguém apareceu no corredor. Tornou a encarar aquele homem.
- Do que você tá falando?! – num estalo, lembrou-se da tigela de leite ao seu lado – E o que fez com meu gato?
O homem riu histericamente, preocupando Luke. Por impulso, levou suas mãos a boca dele, impedindo que o som se prolongasse e causasse um estardalhaço. Como era escandaloso!
Segurando o pulso do loiro começou a afastá-lo, deixando o olhar mais determinado. Passou a língua por entre as frestas dos dedos sugando a ponta de alguns deles com a feição mais serena, sedutora... Luke ficou paralisado com aquilo. Não sabia se ficava acuado, ou pior: se tinha gostado daquela sensação nova e deliciosamente prazerosa. Sem perceber, seu rosto começava a ficar vermelho, ardendo.
Com a mão dele já afastada o homem aproximou-se um pouco mais, fazendo-o se exaltar um pouco.
- Meu nome é Michael Clifford.
- Mi.. Micha...Mai-Michael?...- Luke se enrolou um pouco até pronunciar aquele nome difícil. Ele era, definitivamente, estranho.
- Isso. – falou, passando a ponta de seu dedo de leve nos lábios do garoto, deixando-o sem reação alguma – Estou retribuindo por ter cuidado tão bem de mim.
Abaixando-se para perto de Luke, ele agarrou a parte de trás de sua nuca calmamente, descendo sua boca de encontro a dele. Tocou-lhe de leve, primeiro, para depois se afogar num beijo longo e demorado. As línguas se debatiam, como se uma tentasse sobrepujar a outra numa luta sem fim. O ar faltava, mas mesmo assim ele não parou. Engraçado, tinha gostado do sabor daquele loirinho. Sorriu no meio das carícias, quando percebeu que o rapaz não havia lutado nem por um segundo com ele. Pôs a mão por debaixo da sua blusa alisando seu peito; reparou nos mamilos enrijecidos, ele estava ficando excitado. Deixou outro sorriso escapar no meio do beijo.
Luke estava em estado de choque. Como assim agradecê-lo?! Nem o conhecia! Mas depois daquele beijo não conseguiu pensar em mais nada. Foi tão rápido, tão intenso, tão... Maravilhoso. Aquela voracidade com a qual o tal de Michael apossava-se de sua boca o deixara em um frenesi intenso. Seus lábios moviam-se por si só e a língua não o obedecia; estava a mercê daquele homem; e ainda sentiu o volume crescendo por debaixo de seu pijama.
Chegando a cabeça para trás o maior cessou o beijo, divertindo-se ao ver o garoto por reflexo impulsionar o rosto para frente pedindo por mais. Quando percebeu, Luke se retraiu mais ainda na cama, corado.
- Até que você leva jeito. – falou mostrando o sorriso para o loiro.
- Quem... O que você é?... – sua respiração ainda estava falha, mas sua consciência voltava aos poucos.
- Eu? – ele riu mais uma vez – Eu sou apenas um gatinho inocente.
Após aquilo, Luke apenas se lembra de ter fechado os olhos, e dormido, muito profundamente. Acordou na manhã seguinte com o despertador tocando infinitamente. Espreguiçou-se coçando um pouco o peito.
Ao se lembrar da noite passada, levou a cara até o travesseiro. Ele tinha beijado outro homem, um homem estranho, desconhecido; mas o pior de tudo: é que tinha gostado.
Esfregou o cabelo com força tentando esquecer daquilo. Tinha sido um sonho, com certeza. Um cara não ia entrar assim no seu quarto sem mais nem menos no meio da noite e fazer aquelas coisas com ele. Levantou da cama, procurando por “seu gato”, mas não o via em lugar nenhum. Desceu para tomar o café, dando bom dia a sua família e os interrogando sobre o bichano, mas ninguém o tinha visto pela casa, ou sabiam de algum animal por ali
.
Tinha certeza de ter pego o gato, afinal, o pano e a tigela de leite vazia ainda estavam em seu quarto. Bufou sem entender mais nada indo tomar seu banho e trocar de roupa; precisava ir para o trabalho de meio período na lojinha.
No balcão, olhava para o movimento fraco pensativo, questionando-se sobre a noite anterior.
- Luke! – sua chefa gritou – Leva essas caixas para os fundos da loja!
- To indo! – retrucou, ainda avoado.
Depositou os papelões perto da lata de lixo e parou de costas por um instante na mureta. Parecia preocupado com alguma coisa, como se algo da noite passada não se encaixasse. Fechou os olhos, e logo foi invadido com as cenas daquela noite. O beijo era o assunto mais repetido nos pensamentos. Mesmo sendo um sonho, tinha sido incrível. Nunca havia beijado alguém daquela forma, ainda mais um homem... “Eu sou apenas um gatinho inocente.”Ah! Tinha recordado da frase! Num susto, levou a mão na testa se dando um tapa. Será que era isso?! Mas como?! Era impossível! Aquele cara... Poderia ele ser?... Bom quem sabe, coisas esquisitas assim acontecem o tempo todo, mas aquilo... Pensar em uma pessoa capaz de virar e se desvirar em um animal, era fantasioso demais! Balançou a cabeça pensando o quão bobo era, e o quanto parecia com uma criança agora; precisava parar de assistir tanta televisão com Ben.
Já estava prestes a voltar à loja, quando a voz rouca tornou a retumbar nos seus ouvidos. Virou-se, surpreso, até ver aquele homem, ali, na sua frente, dessa vez, trajando uma jaqueta de couro preta, calça jeans e um par de coturnos, o cabelo mais ajeitado, deixando-o muito bem aparentado por sinal, mas ainda com aquele ar de superioridade; sorria encarando o garoto.
- Vo-vo-você! – exclamou o loiro apontando o dedo à ele, fazendo o outro rir.
- Sim, eu mesmo. – respondeu chegando mais perto.
- Mas isso é... É impossível!!!
- Ah! Mas coisas impossíveis acontecem o tempo todo, basta saber onde procurar. – piscou para ele, abraçando a cintura de Luke, o que obviamente, deixou o loiro mais nervoso ainda, e com as bochechas vermelhas.
Tentou se livrar daquele aperto, mas o tal Michael era forte. Pois as mãos em seu peito, como se isso fosse evitar de se aproximarem ainda mais, e só se conteve pois alguém poderia ver o tumulto dos dois.
- Você foi muito bonzinho cuidado de mim, garoto. – ele esticou a manga do casaco mostrando o braço enfaixando; o mesmo no qual o gato estava ferido.
De boca aberta, Luke o fitou duvidoso e confuso.
- Como isso... É possível? – perguntou, finalmente, mais centrado nas suas ideias, ou melhor, abestalhado por elas.
- Eu te conto tudo se você quiser... Mas vai ter um preço.
Engolindo seco, Luke, abusando de sua coragem, ousou perguntar:
- Qual preço? – Michael sorriu.
- Por enquanto...
Ele abaixou dando outro daqueles beijos na boca carnuda de Luke, tirando o ar do rapaz mais uma vez. Passou a língua pela dele, abusando dos seus espasmos. Mordiscou de leve o lábio inferior na volta, vendo como ele se perdia fácil nos seus braços; sorriu mais ainda.
- Isso basta. – completou a frase.
Absorto, o loiro conseguiu empurrar aquele homem levando o punho á sua boca e a esfregando; tinha se deixado levar de novo. Começou a andar na direção da loja, mas o que estava pensando?! Nem o conhecia! Como pode falar daquela maneira com ele?
- Eu vou te pegar quando você sair do expediente! – gritou Michael colocando um par de óculos escuros, e saindo dali, com as mãos nos bolsos da jaqueta.
O loiro tentou não ouvir, mas suas palavras chegaram depressa demais em seus ouvidos, como um baque. Seu coração disparou acelerado com aquilo, receoso e vibrante.
Mas... Pinguins têm coração?

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Lucky Cat • Muke • Larry
FanfictionEra fim da noite, Luke chegava em casa como de costume, preparando-se para um novo ano na faculdade. Até encontrar em meio a sujeira da cidade um gato branco perdido... °•○* Esta fanfic não me pertence *○•°