Luck Game

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O banco do carro estava regulado totalmente para trás. Do lado de fora, os vidros negros impediam qualquer visão de seu interior, mas os movimentos aleatórios da carroceria davam a dica para quem passava perto dele.
Michael tinha a cabeça encostada na parte superior do banco, enquanto Luke, por cima dele, encaixava as pernas em sua cintura, movendo-se às vezes para frente e para trás, quando as carícias do outro eram mais intensas, como se tentasse sair de perto dele; o que não o ajudava muito, pois a pressão naquela parte de baixo de Michael apenas aumentava a vontade de beijá-lo; lambê-lo, apertá-lo... E como ele apertava suas coxas! As mãos grossas seguravam-nas o tempo todo, quase as arranhando, não fosse pela calça jeans.
Já tinham perdido a conta de quantos beijos tinham dado, e quanto tempo cada um havia durado. Tinham brigado quando mesmo? Há dois dias? Nossa! Parecia uma eternidade desde a última vez que fizeram isso.
As mãos ágeis de Michael, já não se aguentando mais, subiram daquelas coxas torneadas para a parte de trás mais carnuda do loiro. O viu chegar à boca para trás saindo do beijo, suspirando ao mesmo tempo quando o fez. Abocanhou seus lábios de novo, enquanto massageava com mais afinco aquela bunda que lhe chamava a atenção todas às vezes.
Levou a mão direita até a cintura dele, puxando um pouco a calça para baixo, revelando o início de suas nádegas; exatamente onde queria. Tocou aquele meio acima de sua entrada, fazendo-o estremecer em seu colo. Rodeou com mais força seus dedos, deleitando-se com os gemidos de Luke próximos ao seu ouvido.
O loiro descansou a cabeça sobre o ombro do maior enquanto ele brincava em seu cóccix; nem sabia que se excitava tanto nessa área, ou talvez fosse porque era Michael; que seja! Não ia ficar para trás: também sabia onde aquele sádico era mais sensível.
Esticou a língua deixando-a mais molenga até tocar o pescoço de Michael. Viu sua cabeça virando para o lado oposto com o repentino movimento, como se tentasse dar mais espaço ali, sabendo que estava conseguindo o provocar. Subiu aos poucos pelos músculos dele, sentindo a pele se aquecer com seu toque, até chegar à parte de trás de sua orelha. Brincou com o lóbulo dela batendo levemente com a língua na frente e atrás, até dar-lhe uma mordida, escutando o gemido do outro.
Ele queria provocar? Tudo bem, Michael também sabia entrar no seu joguinho... O dedo desceu mais um pouco, assustando agora o loiro, mas devido ao espaço pequeno não podia mexer-se muito, ficando a sua mercê. Sentiu a mão dele na frente de sua calça abrindo o botão e depois o zíper dela. Chegou a sua cueca já molhada pelo volume, que foi pego pelos dedos do outro. Segurou um longo gemido enquanto o rosto avermelhava-se mais agora. Ainda assim, era na parte de trás que Michael mais se divertia, descendo e subindo os dedos por cima do pano justamente no meio dela, na parte mais fina do tecido, naquele seu lugar tão íntimo. E o pior é que estava gostando daquilo.
Desceu as mãos até o peito de Michael, subindo por cima de sua blusa; estava mais atrevido hoje, deixando até o outro surpreso, mas devia ser por causa da falta, ou como eles dizem mesmo: é depois das brigas que você revela o que realmente quer fazer. Sentiu o abdômen dele, massageando seus arredores, enquanto ainda mordiscava sua orelha, ou lambia seu pescoço, mas ainda tomava cuidado para não deixar nenhuma marca nele.
O loiro estava animado hoje, e isso deixava Michael feliz; era bom saber como ele gostava de fazer isso. Mas de uma forma estranha sentia-se sempre mais excitado quando era Luke quem fazia essas coisas com ele. O garoto nem era tão experiente assim, e às vezes nem sabia ao certo como era para reagir nessas situações, mas a vontade de agarrá-lo parecia só aumentar cada vez mais.
Pressionou com mais força o dedo sobre a parte de trás de Luke, fazendo-o arregalar os olhos pelo repentino toque, ao mesmo tempo em que soltava um longo gemido em sua orelha; remexia-se no banco, movendo a cintura para os lados, tentando escapar da sensação nova. Talvez fosse melhor não exagerar muito, afinal, já tinha conseguido deixá-lo mais a vontade, não queria o traumatizar de vez.
Depois de divertir-se por uns minutos a mais com as reações exageradas; mas prazerosas dele, Michael levou as duas mãos para frente de sua calça, agora abaixando o tecido da cueca e olhando, de propósito, para baixo, vendo seu membro exposto.
- Estava com tanta saudade assim de mim, Luke? – falou no mesmo instante em que apertou o falo dele.
- Ah! – não deu pra segurar o grito depois daquilo; mas também não deixaria barato.
Puxando a calça de Michael com força, abriu-a o mais rápido que pode, e segurou, sem nem perguntar, a ereção dele, fazendo os dedos subirem e descerem uma única e intensa vez por sua extensão, fazendo o outro soltar um gemido abafado, assim como o dele.
- Pelo visto não sou o único. – retrucou, com o rosto extremamente corado pela sua ação, mas ainda assim satisfeito com o resultado.
Sorrindo, aquele sorriso sarcástico de sempre, Michael prendeu sua cabeça pela nuca chegando-o para mais perto, afogando a boca na dele, fazendo as línguas se debaterem o máximo que podiam. As mãos se uniram na parte de baixo, deixando as ereções juntas, tocando uma à outra, e os dedos entrelaçados movimentarem-se num vai e vem tão esperado, e deliciosamente mais aproveitado por ambos.
Luke sabia que estava ficando cada vez mais envergonhado com aquilo, mas assim como nas outras vezes em que estava com Michael, sua consciência era jogada de lado, entregando-se as carícias dele. Odiava essa parte sua ao mesmo tempo em que não mais sabia como viver sem ela. Talvez estivesse realmente criando uma necessidade pela presença de Michael, mas o que isso importava agora?
Os gemidos abafados pelo beijo iam tomando conta do carro, e mesmo tentando manterem-se escondidos do resto da festa, volta e meia viam pelos cantos dos olhos um ou outro convidado passando perto deles, tentando enxergar dentro do vidro; obrigado pela proteção escura dele.
Michael gostava de ter Luke assim com ele, entregando-se aos poucos, começando a falar e agir mais sobre o que queria com ele. Mas tinha de admitir que a vontade de arrancar a calça dele, e o tomar por completo ali no carro mesmo era grande. Ok, paciência... Ia conseguir mais cedo ou mais tarde...
Os membros foram ficando cada vez mais encharcados com os movimentos acelerados deles. O beijo já havia se descompassado, e Luke já apoiava a cabeça sobre o ombro de Michael, enquanto o outro mordia seu pescoço. E... “Merda!” Pensou Michael; “Esqueci de tirar a blusa... Ah!”
Tarde demais; para os dois. O líquido escorreu logo em seguida juntos com os gemidos mais altos de prazer, dando-os uma sensação de alívio e cansaço. Esperaram alguns minutos antes de se mexerem. O loiro levantou-se o quanto podia sem bater sua cabeça no teto, jogando o corpo para o banco do lado. Fechou sua calça como pode com apenas uma mão vendo a camisa suja na parte de baixo; não pode evitar corar mais ainda com aquilo; tinha se deixado levar pelas emoções... De novo.
Michael ainda arqueava o peito ao abrir o porta-luvas e jogar uma pequena toalha para o garoto. Viu-o remexendo-se meio sem jeito, resolvendo ajudá-lo. Pegou o pano passando por sua mão e pela dele, enquanto inclinava a cabeça para perto, o beijando, tirando sua atenção daquilo.
- É assim que se faz. – brincou com Luke ao puxar a toalha vendo-o ruborizar com seu comentário.
- E-eu sei! – respondeu virando o rosto.
Soltando uma longa gargalhada, Michael abriu a porta do carro para trocar de lado com o garoto. Enquanto ele dava a volta, Luke trocava de banco, colocando a toalha no porta-luvas, vendo alguns pacotes coloridos lhe chamarem a atenção. Pegou um deles por curiosidade vendo seu conteúdo: eram camisinhas.
As maçãs do rosto arderam no mesmo instante jogando-as de volta de qualquer jeito dentro do compartimento. Não que os dois fizessem muita coisa além disso, mas era o normal, certo?... Michael já havia tocado no assunto uma vez... Quando a relação chegasse nesse ponto, ele e Michael iriam... Iriam... Mas onde exatamente a relação deles estava? Tinham começado a sair juntos, conheciam-se há quase um mês, porém ainda assim sentia-se como o único a querer algo mais sério, a preocupar-se com isso. Foi quando conversara com Louis: não sabia o que Michael pensava dele, nem se estava disposto a avançar da onde estavam.
Ouviu a porta ao seu lado se fechando vendo o outro colocar o cinto. Viu sua blusa também molhada na parte de baixo, mas isso parecia não o incomodar.
- Vou te deixar em casa, falou? – comentou Michael já ligando o motor.
- Okay, obrigado.
Tentou parecer o mais natural possível a ele, conversando como se nada tivesse acontecido, afastando seus pensamentos por enquanto. Precisava ter certeza do que queria de Michael antes de confrontá-lo.
Saíram do estacionamento por volta de meia noite e vinte, vendo só agora a festa começando a se animar. Viraram a esquina do bairro, já saindo de vista dos demais.
No gramado do jardim da casa, um homem usando uma calça jeans comum, tênis surrados, e um capuz cinza puxava o celular do bolso, vendo o carro de Michael ir embora. Discou um número rápido, falando em seguida de três toques, com um sorriso nos lábios:
- Senhor? Sou eu. Está confirmado: ele está saindo com aquele garoto loiro.
A uma da manhã já estava na porta de sua casa. Tirou o cinto do carro indo até ela, mas claro, foi acompanhado de Michael até a entrada, só que dessa vez ele sabia que não poderia abusar da boa vontade do garoto.
- Ta entregue. – disse ao pararem para Luke pegar as chaves do bolso; ainda não tinha se livrado da maioria delas.
- Valeu por me trazer, achei que teria de voltar sozinho.
- Quando precisar me liga ué.
- Oh, vai virar meu motorista particular agora?
- Se o pagamento for que nem o de hoje – apoiando seu cotovelo na parede chegou seu rosto mais perto do de Luke – vale a pena.
Ele corou, mais uma vez. Ficava sem jeito com esses comentários maliciosos de Michael, e virou o rosto dele, pondo a mão na frente de sua boca, tentando se esconder.
- Não precisa ficar lembrando.
- Pode apostar Luke: eu vou me lembrar disso muito essa noite ainda...
- C-como pode falar...
Sem ar o garoto foi cortado pelo rápido beijo de Michael ao se distrair. Foi prensado um pouco contra a porta tendo o lábio inferior mordido na volta. Baixou a cabeça arfando apressado depois.
- Até amanhã, loirinho.
- Já disse pra não me chamar assim! – exclamou empurrando o ombro de Michael com um soco, que foi caminhando risonho de costas até seu carro, pondo as mãos dentro da jaqueta ao chegar perto dele; fazia tempo não usava o apelidinho de Luke.
Entrando em sua casa, foi para a cozinha pegar alguma coisa, pois só tinha enchido a barriga de álcool, levando um pacote de biscoitos para o quarto. Ainda ouviu o carro dele arrancando embora dali. “Sádico egocentrista.” Pensou no mesmo instante, com um sutil sorriso nos lábios.
- Para que tantos livros, Simon? – perguntou Ian sentado na sala do templo com o homem de cabelos castanhos à sua frente.
- Eles são a chave do que eu quero, Ian. – respondeu, fechando um grande volume e o pondo sobre a mesa.
Afrouxou sua gravata retirando os óculos e jogando parte de suas madeixas para trás, encarando seu “amigo.”
- Com isso, eu serei capaz de conseguir tudo que sempre quis. – completou.
- Mas para que exatamente o senhor precisa afetar o Michael dessa forma?
- Porque será muito mais fácil sem ele no meu caminho.
- Não acredito que a mente jovem dele seja uma ameaça.
- Ele é mais esperto do que aparenta. – curvando seu corpo para frente ele apoiou os cotovelos sobre as pernas, tampando sua boca – Além do mais, esses malditos poderes de seu clã só atrapalham minha vida; foi quase impossível chegar até onde cheguei escondendo-me dele.
- Mas o senhor foi muito sagaz ao aproximar-se dos pais deles antes de sua morte.
- A confiança de uma criança era mais fácil de conquistar sem um adulto por perto. Como seu tutor eu tive diversas oportunidades para isso, mas como eu disse: os poderes dele sempre interferiam de alguma forma. E hoje em dia, ele é mais astuto.
- Para mim as únicas coisas que ele possuía era essa tal transformação animalesca da qual me falou; fantasiosa demais, admito, mas ainda assim, fascinante.
- Quem me dera ser apenas isso... Seus poderes vão além da mudança de aparência... Mas falemos disso depois. Tenho de guardar estes livros em um local seguro. Vou para casa, e você não se esqueça de comentar da minha visita à ele.
- Sim Simon, como o senhor quiser.
Pondo os óculos de volta e ajeitando o cabelo, Simon caminhou para a saída, tirando seu carro da garagem e sendo acompanhado pelos olhos de raposa de Ian.
O homem de cabelos negros voltou para a casa, terminando de arrumar a sala. Pouco tempo depois ouviu as portas de metal da garagem se abrirem, observando Michael chegar em casa. Ele retirou seus coturnos na entrada, jogando a jaqueta no ombro. Adiantou-se até ele, parando poucos metros à sua frente.
- Boa noite, Michael. – falou recebendo-o com uma rápida reverência.
- Boa noite. – parando por uns segundos para analisá-lo, Michael arqueou as sobrancelhas – Aconteceu alguma coisa?
Os olhos cerrados tremeram um pouco, até encararem a face duvidosa de Michael.
- Nada senhor. Apenas uma visita de Simon. Ele estava preocupado com seu bem-estar já que não se falam há um tempo. Saiu à pouco, pedindo que retorna-se uma ligação à ele amanhã cedo.
- Hmm. Certo... Obrigado. – balançando a cabeça, ele tornou a caminhar para seu quarto – Estou indo dormir, tenho aula amanhã; boa noite.
- Boa noite senhor.
Ainda acompanhando seu andar, Ian respirou mais aliviado quando ele saiu de sua vista. “Realmente...” Pensou recordando-se das palavras de Simon. “Ele é bem mais astuto do que aparenta; arisco, assim como um felino.”
O ônibus chegou à frente da faculdade no dia seguinte, dez minutos antes de sua aula. Luke saltou indo apressado para a entrada do prédio de engenharia, reconhecendo as madeixas azuladas de Michael antes delas; provavelmente esperando por ele.
- E aí. – falou o outro ao vê-lo se aproximando.
- Oi. Nossa hoje cedo quase surtei vindo para cá. – comentou, já andando com ele.
- Por quê?
- Ontem à noite cheguei em casa morto – grande parte por culpa de Michael, mas isso não vinha ao caso agora – deitei na cama e apaguei. Acordei atrasado e vim correndo para a faculdade. No meio do caminho lembrei que tinha de entregar um trabalho hoje. Achei que teria de voltar até em casa, quando vi na bolsa as folhas dos exercícios. Devo ter posto ontem sem perceber, foi muita sorte, geralmente eu sou meio desligado nessas coisas.
- Hmm... Deve ser por minha causa.
- Hã? – indagou estranhando aquele comentário – Você não ta se achando demais não?
- Qual parte da lenda do “gato da sorte” você não entendeu?
- Como assim?
Bufando, Michael começou sua pequena dissertação:
- É como se eu fosse um imã para coisas boas, geralmente quem fica muito tempo perto de mim acaba sendo afetado também.
- Quer dizer que você é tipo, sortudo?
- Não é como se eu conseguisse tudo de graça, sem mais nem menos. Mas, ah, como explicar? – coçou rapidamente debaixo do queixo procurando uma resposta até prosseguir – Minha aura atrai mais coisas boas do que ruins. As probabilidades de algo dar errado só são menores.
- Nossa. Isso parece ser bem útil.
- Ás vezes...
- Pensei que você só pudesse, sabe... Fazer aquela coisa... De gato...
- Ah, achou que o presente de gerações ia ser um clã inteiro que vira gatinho? Fala sério, temos outros poderes além desse, por exemplo, esse da sorte, além dos meus sentidos serem naturalmente mais aguçados.
- Uau, pacote completo não é? – riu- Mas porque não me disse antes?
Dando de ombros Michael jogou o pescoço para o lado o estalando conforme chegavam perto dos portões de entrada.
- Sei lá, é porque geralmente quando eu falo isso para as pessoas...
Parou por alguns instantes deixando Luke curioso, até finalmente terminar sua frase:
- Geralmente quando eu conto sobre isso, as pessoas perto de mim tendem a querer se aproveitar.
Tomando um leve baque com aquilo, Luke pode ver um olhar um tanto quanto distante de Michael. Na verdade nunca tinha percebido até agora, mas ele não falava muito de seus amigos, ou de seus familiares. Talvez por não gostar do assunto, mas vendo-o agora, sabendo disso, pensou ser porque não tivesse sobre quem falar.
Sem importar-se com a multidão ao seu redor; que, aliás, estava mais preocupada em chegar a tempo em suas aulas do que com eles; Luke segurou com a ponta dos dedos a mão de Michael fazendo-o virar-se para ele com as sobrancelhas arqueadas, estranhando aquilo.
- Sabe que... Eu nunca faria isso com você, né? – comentou chegando mais perto dele.
- É eu sei se não nem tinha te contado!
Assustando-se, Luke ergueu o olhar para ele deixando a boca semi-aberta pela surpresa. Ele cofiava tanto assim nele? Quem sabe... Talvez ele pensasse mais sobre isso do que havia suposto. Deixou uma sutil alegria brotar em seu peito, bolando alguma frase rápida para agradecê-lo e expressar sua felicidade, mas parou no instante seguinte, deixando toda a sua visão maravilhada desse momento por Michael desaparecer ao ouvi-lo continuar dizendo:
- Afinal, você é lerdo e bonzinho demais para se aproveitar de alguém.
As veias pulsaram em sua testa, e os olhos se fecharam. Largando a mão dele, deu um soco em seu ombro, passando a caminhar à sua frente.
- Ai! – exclamou Michael pondo a mão sobre o local dolorido – O que eu fiz?!
- Nada! – esbravejou com o rosto corado; como se Michael pudesse ser diferente...
Já subindo as escadas, Michael continuava sem entender o motivo do soco, nem da irritação de Luke, mas pela cara dele era melhor não insistir muito no assunto. No andar do loiro, ele já tinha se acalmado, pois não tinha pelo que brigar com ele, indo até sua sala.
- Ah, e Michael. – falou no meio do caminho antes de se despedir dele – Não se esquece de falar com o Louis.
Fechando a cara, o maior parou na ponta das escadas segurando o corrimão, tremendo as sobrancelhas de raiva, bufando antes de responder:
- É... Eu sei...
- Okay... Te vejo mais tarde então.
Acenando para ele, Luke chegou a sua sala, antes do professor; sorte, de novo. Sentou-se numa das fileiras do meio esperando pelo começo da aula até ver a carteira ao seu lado ser puxada, e Louis ajeitar-se nela. Tinha o lado direito da face um pouco inchado, e um curativo pequeno no canto da boca um tanto quanto roxa.
- Bom dia. – falou virando-se para Luke.
- Louis, seu rosto... – disse com o olhar preocupado.
- Relaxa eu estou bem.
- Mesmo assim, você se machucou por minha culpa.
- Se eu ganhasse dinheiro toda a vez que levasse um soco por causa de briguinha de casal, já teria ficado rico; fica tranquilo porque eu não estou bolado.
- Como pode ficar tão de boa assim?
- Sei lá, costume eu acho. Aliás, não é bom ficar sentindo raiva por algo que já aconteceu. Eu não morri então to feliz. – sorriu, pondo a mão sobre o curativo em seguida sentindo o osso latejar.
- Me desculpe.
Um pouco cabisbaixo Luke voltou-se para frente ao mesmo tempo em que o professor entrava em sala. Louis tentou dizer alguma coisa para o garoto, angustiado com o sentimento de culpa dele, mas o professor atrapalhado com o material da aula já começava a falar sem dar nenhuma pausa sobre a matéria do dia, e resolveu guardar a conversa para mais tarde; afinal, não estava realmente chateado com nada, muito menos com Luke, só precisava fazê-lo entender isso.
Depois de duas longas horas, o professor saiu da classe, dando pouco mais de quinze minutos para os alunos esticarem as pernas antes da próxima começar. O loiro continuou na sala rabiscando qualquer coisa no caderno e adiantando alguns exercícios enquanto Louis ia até as máquinas de lanche rápido pegar um pacote de doces; precisava se esquecer da dor do machucado, e não dava para fumar nem beber dentro da faculdade. O anestésico já tinha perdido o efeito. Puxou as moedas do bolso contando-as, mas se distraiu logo em seguida olhando para a figura de Michael se aproximando dele. Levou um susto de início, chegando para trás e pondo um dos braços na frente do rosto, em guarda.
- Para de frescura, eu não vou fazer nada com você. – disse o outro puxando uma nota e a encaixando na abertura da máquina, apertando os botões.
- Então... Veio até aqui só para... Comer alguma coisa?
- Eu posso? – retrucou sarcástico, vendo Louis baixar a cabeça continuando a contar as moedas.
Depois de um tempo, em que Michael tomava o suco da latinha, Louis finalmente conseguiu o pacote de balas abrindo-o, e pondo algumas na boca pelo canto esquerdo evitando encostar em seu machucado. Sentiu-se um pouco incomodado ao ver Michael o observando durante o intervalo todo, mas resolveu não perguntar nada a ele, até vê-lo dar alguns passos para mais perto, tornando a preocupar-se.
Olhando-o de cima a baixo, Michael deixou as feições sérias e as sobrancelhas arqueadas, visivelmente irritado, até esbravejar:
- Ah! Que merda! Eu não vou fazer isso!
- Hein?! – indagou Louis vendo-o por as mãos dentro da jaqueta, e depois apontando um dos dedos para ele.
- A culpa foi sua, eu não tenho o que fazer aqui! Porque aquele garoto tem de ser tão complicado?!
- Eu... Presumo que você esteja falando do Luke, né?...
Pensou tê-lo ouvido rosnar ao dizer o nome de Luke, mas talvez tenha sido só impressão dele...
- Por um acaso ele... Te pediu para se desculpar comigo?.
Bufando, Michael jogou seu cabelo para trás dando as costas para Louis, mas retornando a encará-lo:
- Não tem chances de eu fazer isso!
Respirando fundo, Louis guardou o pacote de balas, falando com mais calma:
- Olha, vamos fazer assim: eu não quero mais confusão por minha causa, então se ele me perguntar eu digo que você veio se desculpar comigo, ta bom assim?
Desconfiado, o maior o olhou desacreditado daquilo, mas por fim deu de ombros pensando ser a maneira mais simples de resolver aquela situação, pois desculpar-se com o cara que estava praticamente agarrado com Luke daquele jeito estava fora de questão.
- Ta pode ser. – falou por fim.
- Nesse caso eu vou voltar para minha aula que já deve ter começado.
- Idem.
- Então... Tchau...
Sem resposta, Louis só o viu virando-se indo embora para o outro prédio, jogando a latinha dentro do lixo. Bufou aliviado voltando para sua sala, finalmente. Aqueles dois brigavam por qualquer coisa, mas ao mesmo tempo não conseguiam viver separados. Ficar no meio deles parecia ser uma péssima ideia, quase suicida, mas por outro lado, perderia a amizade de Luke, e bem... Ele nunca teve um bom senso para as coisas mesmo! Não ia ser um soco ou dois que o fariam dar para trás agora.
Pediu licença ao professor por chegar à sala atrasado sentando-se em seu lugar de novo.
- Demorou. – comentou Luke.
- É, tava batendo um papo com seu amiguinho.
- O Michael?! – exaltou-se um pouco vendo os olhares mais atentos o encararem, baixando o tom da voz – Ele fez alguma coisa?!
- Nada de mais... Só me pediu desculpas por ontem.
- Sério?
- É.
A surpresa foi tanta que Luke deixou a boca aberta, atendo-se a copiar as palavras do quadro. Tudo bem que tinha pedido isso a Michael, mas o fez para irritá-lo, jamais pensou que ele fosse desculpar-se assim de graça. Talvez... Talvez o tivesse julgado muito mal... Talvez ele não fosse tão orgulhoso assim...
- Eu fico feliz com isso. – comentou o loiro por alto, deixando um sorriso escapar dos lábios, tornando a prestar atenção na aula em seguida.
Louis o encarou com a mão apoiada no rosto depois de ouvi-lo, o vendo agora com as expressões serenas, parecendo mais tranquilo. Ficou aliviado por ter conseguido lhe arrancar um sorriso, ao menos agora não ficaria se culpado por nada. Ele ficava melhor assim, alegre e despreocupado. Sem perceber sorriu junto de Luke, ficando o resto da aula observando as feições calmas dele, admirando como ele conseguia se concentrar em uma aula tão entediante. Olhando-o agora, percebia o quanto Luke era dedicado aos estudos. Anotava qualquer detalhe, rabiscando as fórmulas e fazendo cálculos rápidos nas folhas de trás do caderno; tentando não se importar com as conversinhas aleatórias. Louis já nem sabia mais em que parte da matéria estava, pois além da voz chata do professor chegar distante em seus ouvidos, ele agora tinha outro motivo para se distrair...

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