07

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Christopher.

Desperto sentindo minha cabeça latejando, insônia resulta nisso. Não conseguia dormir direito fazia muito tempo, fazia plantões constantemente e isso havia desregulado meu relógio biológico. Já estava acostumado. Me levanto, vou ao banheiro, tomo um banho e já trato de separar minha roupa de hoje. Eu gostava da minha vida de solteiro, gostava de ser sozinho, era questão de costume. Não gostava de dividir nada com outro alguém, por isso havia deixado a casa da minha mãe. Odiava quando ela se metia em minhas coisas ou comprava alguma coisa sem meu conhecimento.

Em menos de quinze minutos já estava pronto, com uma calça jeans e a camisa cinza do serviço. Em minha mochila carregava minha bota, meu outro fardamento e minha .40, alguns deixavam o fardamento mais pesado no batalhão, mas eu sempre o trazia comigo.

Ao sair do quarto sinto um cheiro bom no ar e só então vejo Fernanda jogada no sofá, aparentemente desconfortável. Ela dormia com uma expressão serena, sua boca estava aberta e sua mão por baixo do rosto corado. Dormindo ela parecia um anjo. Olhei para o seu corpo vendo que o roupão estava aberto me dando visão de sua calcinha cor de rosa e seu sutiã. Mas o que eu realmente queria ver era aquela barriga pequena que estava criando forma. Não contive um sorriso.

Busquei um cobertor e liguei o ar da sala para a mesma, fui até a cafeteira preparando meu café e peguei um bolo de goma no armário. Fiquei a observando enquanto realizava meu desjejum. Fui tirado dos meus pensamentos com a chega da doméstica em minha casa, ela sempre chegava nesse horário, tinha a chave. Minha convivência com ela era ótima, ela trabalhava para mim há anos. Éramos como amigos e eu tinha poucos amigos.

─ Oi, Chris... ─ ela coloca a bolsa no balcão e suspira. ─ Peguei um coletivo lotadão.

─ Sempre te falo para pegar um táxi que eu pago e você recusa.

─ Ah, tudo bem pegar uma lata de sardinha de manhã cedo né. Já tomou café? Está indo para o serviço?

─ Sim ─ olho para frente, ela também.

─ Quem é essa aí? ─ ela perguntou baixo, com curiosidade. Eu não costumava levar mulheres no meu apartamento, na verdade, nunca havia levado. Ela era a primeira.

─ Seu nome é Fernanda, ela mora comigo agora, é uma amiga grávida que estou ajudando. A trate com delicadeza... e... nada de suas piadinhas, engraçadinha.

Deixo minha xícara na pia e pego minha mochila.

─ Ah, eu tenho cara de palhaça? Comediante? Tiririca? Eu sou séria! ─ ela diz convicta. Eu solto um sorriso. Ela era baixinha, de pele escura e cabelos cacheados. Morava num bairro humilde e tinha três filhos. Eu a ajudava muito, gostava dela. Era a única doméstica que arranjei que não tinha outras intenções comigo sem ser uma boa amizade.

─ Nada de piadinhas ─ digo antes de sair pela porta e levar minha chave.

Mais um dia de trabalho. Mais um dia na polícia. E mais um dia sem saber direito o que estava acontecendo na minha vida. Eu ainda estava sem acreditar em todos os episódios. Sei que uma hora teria que cair na real, mas não era preciso cair agora.

Entrei no meu carro pegando um chiclete de canela e colocando na boca.

Não passei um minuto sem pensar nela e nisso tudo que estava acontecendo, era novidade para mim. Precisava contar para mamãe que logo ela seria vó, mas por enquanto eu só precisava e queria cair na real.

Eu seria pai.

Fernanda.

Abro meus olhos e sinto uma dor nas costas horrível, quase impossível de aguentar. Por um momento nem sei onde estou. Me levanto e sento no sofá sentindo minhas costas latejando. Escuto o aspirador de pó ser passado. Olho para o lado e vejo uma mulher baixa, negra e de cabelos enrolados passando o aspirador de pó enquanto cantava algo. Assim que ela notou que eu havia acordado ela desligou.

Um plano da vida #1Onde histórias criam vida. Descubra agora