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Fernanda.

Christopher dirige rápido, tentava por tudo ligar pra ela mas só dava desligado. Sentia muito medo, sentia muito medo de perder minha amiga, não queria perder minha Nicole, minha melhor amiga. Eu não choro, mas sinto o mesmo entalado na garganta. Ela havia me dito onde estava, eu conhecia aquele lugar, era no asfalto, fora do morro. Christopher dirigia rápido mas sempre me olhando para conferir se eu estava bem.

─ O que será que aconteceu? ─ mordia a ponta dos meus dedos, ansiosa.

─ Não fique aflita, respire fundo... isso faz mal pro bebê.

─ Christopher... ela não pode morrer, não pode! Ela é a única pessoa que tenho, que sempre me ajudou, é minha melhor amiga.

─ Nanda, se acalma, não pense logo o pior.

Uma lágrima desliza pelo meu rosto... era impossível não pensar no pior vindo de Carlos e Francisco.

***

A mercearia do seu José não ficava muito distante da favela, era quase num beco, era bem deserto ali, o pessoal ia transar e se drogar ali depois do baile, era também o lugar onde as prostitutas ficavam. Já era quase quatro da manhã, as ruas estavam desertas e somente a luz dos postes e da lua iluminavam ali, eu estava muito assustada, com muito medo.

Christopher foi dirigindo devagar e eu esticava o pescoço pra ver se olhava Nicole, até que vi duas pernas fora do beco e naquele instante abri a porta com tudo. Christopher me puxou com tudo, meu corpo gelou.

─ Não vai, não sabemos quem tá vigiando... deixa que eu vou, tranca o carro ─ ele me pegou o revólver e saiu do carro, fiz o que ele mandou.

Christopher se aproximou aos poucos, todo arisco, olhava tudo ao redor mas parecia não ter ninguém por ali. Vi quando ele encontrou Nicole e ficou desesperado, pulei pro banco de trás e já preparei a toalha e o cobertor pra ela. Logo Christopher a trouxe, ela estava desmaiada, banhada em sangue, suas roupas estavam rasgadas e seu cabelo cortado. Ele abriu a porta e a entregou em meu colo com muita dificuldade.

─ O pulso tá fraco, segura bem ela, vamos pro hospital... ─ ele fechou a porta com cuidado e foi pro volante já dando partida.

Eu estava sem reação, não sabia bem como agir. Segurei minha amiga nos braços enquanto Christopher entrava e saia de ruas indo rápido pro hospital.

Lembrei que Nicole sempre me acolhia em seus braços quando apanhava de Carlos ou Francisco, ela sempre ia lá pra casa, sempre me abraçava e sempre falava que tudo ia ficar bem. Nicole nunca precisou se preocupar em apanhar na vida, a mãe dela era muito protetora e seu pai quase não a via. Era culpa minha ela estar nessa situação, tudo culpa minha.

Acariciei o rosto dela enquanto sentia a lágrima descer por meu rosto e fiz como ela sempre fazia comigo, jurei que tudo ia ficar bem.

***

Já se passava quase duas horas que Nicole havia sido levada na emergência do hospital, ela estava muito machucada, o rosto quase deformado e banhada de sangue. Christopher estava tão preocupado quanto eu, ainda mais depois que ele soube que ela estava grávida.

Já havia amanhecido, eu continuava sentada na sala de espera com Christopher ao meu lado. Minha cabeça estava cheia de pensamentos que me destruíam aos poucos, eu me culpava imensamente por tudo, só queria poder chorar pra sempre mas não conseguia sequer derramar uma lágrima.

Um plano da vida #1Onde histórias criam vida. Descubra agora