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Fernanda.

Escrevo algumas anotações sobre biologia no meu caderno, Christopher havia comprando algumas apostilas para mim. Confesso que estudar fazia o tempo passar bem mais rápido e era algo que eu amava. Passava horas e horas fazendo cálculos e aprendendo novas coisas para fazer o vestibular no final do ano. Eu sabia que iria passar, eu sempre me esforcei muito e acreditava fielmente na minha capacidade. 

Dona Maria também me ajudava muito nas matérias, ela já sabia que eu estava grávida e quando soube não me tratou com ignorância, ao contrário, me mimou mais ainda, como se eu fosse sua filha. Ela me dava aula pela tarde no apartamento dela, Christopher não sabia ainda que eu saia de casa pela tarde e Rosana não abria a boca. Eu gostava da companhia dela e de Maria Clara, nós três juntas fazíamos a festa. Havia arranjado uma nova melhor amiga, toda tarde ela praticamente me buscava aqui ou mandava Clara me chamar.

Eu e Christopher estávamos numa relação boa até, quase não nos falávamos, ele saia cedo e chegava tarde do serviço. Confesso que amava o ver naquela farda, ele parecia ainda maior e forte. Mas não deixava que passasse apenas de um tesão por ele vestido naquela farda. Christopher era um idiota.

Falava diariamente com Nicole mas nunca mais havia visto a mesma. Sentia saudade da minha amiga, mas sabia que era por questão de segurança. Com toda certeza Carlos, Francisco ou algum vapor estavam na cola dela. Era melhor deixar a poeira abaixar.

Nesse instante eu brincava com Maria Clara no apartamento de dona Maria, ela estava enfeitando um bolo de chocolate para nós duas, ou melhor, nós três. Eu estava aqui desde quando elas duas foram me buscar, já havia estudado um pouco com dona Maria e agora brincava com a pequena sentada no chão, nós estávamos montando lego juntas. Um grande castelo. Devia ser onze ou dez da manhã, Christopher não viria almoçar em casa e por isso iria almoçar aqui hoje.

Minha fome parece ter triplicado e minha barriga já era visível, já estava bem estufada, mas também... já estava caminhando para os cinco meses. Ainda sentia o enjoo matinal e as tonturas, mas de acordo com Maria esses sintomas só vão cessar quando eu já estiver com seis meses ou mais, ela sentiu a gravidez toda o enjoo matinal. O bebê também já se mexia dentro na minha barriga, mas era raro, ele era bem quietinho, só vivia dormindo que nem eu. Eu não compartilhava muito isso com Christopher e ele também não perguntava.

─ Bota o rosa aqui, titia ─ ela fala toda embolada e pega o lego rosa botando em cima da minha torre azul.

─ Tá lindo ─ digo. ─ Sua avó vai amar.

Ela ri, era muito fofa. As bochechas eram rosadas e enormes, ela tinha aquele cheiro ótimo que todo bebê possuí. Ela parecia muito com o seu pai, dona Maria havia me mostrado uma foto. Clara era muito carinhosa comigo, vivia me abraçando e passando a mão na minha barriga, principalmente quando sua avó lhe contou que um bebezinho como ela estava crescendo ali.  Sabia que era porque ela era privada de uma presença materna, tudo bem que ela tinha dona Maria e que ela fazia papel de mãe, mas não era a mesma coisa e ela sentia falta, muita falta.

Depois que terminarmos de montar, ela veio para o meu colo onde se jogou e me apertou. Ela me encheu de beijos e eu retribui. Ah, como era bom aquele carinho.

─ Fernanda?! ─ tomei um susto quando ouvi gritarem meu nome, logo vi o homem alto e com o semblante raivoso se projetar na porta que estava aberta. Christopher exalava raiva no olhar, ele estava de calça jeans e com a camisa da PM, não estava vestido na farda pesada.

─ Oi? ─ meu coração estava na mão, ele havia me assustado.

Ele parou para analisar o local, olhou para a mesa onde meus livros e materiais estavam, olhou para o tanto de flores e quadros de coruja que havia ali e também olhou para os brinquedos jogados no chão antes de olhar para mim, sentada no chão com uma pessoinha pequena grudada em meu pescoço.

Um plano da vida #1Onde histórias criam vida. Descubra agora