Um plano da vida #1

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Fernanda.

Os meses voaram, era incrível como o tempo havia passado tão rápido e eu já estava com nove meses de gestação, sim, nove meses. Minha barriga estava enorme, meu filho era muito grandão, ele tinha quarenta e oito centímetros. Dona Grazi havia me mostrado algumas fotos de Christopher quando era recém nascido e daí havia entendido porque meu filho era enorme, Christopher havia nascido com cinquenta e dois centímetros e quase quatro quilos, dona Grazi o teve através da cesárea e eu estava com medo do bebê nascer pela cesárea também.

Eu e Christopher ainda não havíamos escolhido o nome, eu tinha alguns em mente mas esperava Christopher decidir alguma coisa. Tudo estava pronto pra chegada do bebê, eu estava ansiosa, não estava tão ansiosa mas estava ansiosa. Eu não sei o que estava havendo comigo, meu ânimo pra tudo havia desaparecido após aqueles episódios. Passei os últimos meses desfrutando de uma paz e felicidade que nunca tive conhecimento, fui muito mimada por Christopher e Rosana, tive até um chá de fraldas bem simples que fizemos no apartamento, claro que só veio os amigos de Christopher do serviço, dona Maria e Clarinha, Rosana e sua filha, Wesley e... Nicole.

Sim, eu e Nicole estávamos nos falando... foi num certo dia, ela me ligou do nada e pediu pra irmos no shopping como se nada houvesse acontecido, e bem, eu fui. Ela estava bem, os machucados estavam desaparecendo e ela não parecia abatida, Nicole sempre soube esconder o que sentia, ao contrário de mim. Depois de um tempo conversando eu pedi desculpa, ela também, nós duas choramos muito e nos abraçamos. Eu e ela éramos inseparáveis, tudo que aconteceu havia sido um acidente, não era minha culpa.

Fiz o ENEM, mais algumas provas pras faculdades não só daqui e aguardava ansiosa minha aprovação, algo me dizia que eu havia me saído bem, tinha muito que agradecer à dona Maria, minha professora particular, ela havia me dado uma luz, eu havia feito a prova da USP pra direito, mas quem era eu em meio de tanta gente inteligente e com condição pra ingressar numa das melhores faculdades do país? De fato eu fazendo alguma faculdade já estava muito bom, Christopher se ofereceu pra pagar mas eu não queria, eu mesma queria conquistar minhas coisas, sozinha.

E hoje era mais um dia que ficava assistindo televisão até Christopher chegar, essa semana ele estava demorando, ficava tão preocupada quando ele ia pra essas missões, morria de medo do mesmo ser baleado. Ele sempre mandava mensagem quanto podia, ligava, tudo pra me deixar informada. Ele também estava muito nervoso pra chegada do bebê, ainda mais que já estava com quarenta e duas semanas. Em qualquer instante ele iria chegar.

Encaro o anel em meu dedo e abro um sorriso, era um anel de compromisso, de ouro e liso, Christopher também usava um. Ainda me lembro do dia em que ele fez a surpresa em me pedir oficialmente em namoro/noivado, foi no mesmo dia do chá de bebê. Eu jamais esperava isso dele. Em pensar que Christopher nutria um ódio por mim... 

Eu odiava pensar nesse ódio, nas palavras que ele havia me dito no começo, odiava pensar em tudo que passamos. Eu o amava, mais que tudo, mas às vezes eu tinha vontade de me distanciar dele. Não me chamem de louca, passei por muitas coisas, fui muito humilhada tanto por ele quanto por Carlos, eu sei que nunca mais Christopher havia dito nada que me magoasse mas ele havia dito, isso não mudava nada. 

Mas como disse, eu tentava não encher muito minha cabeça com isso.

Eu iria ter um bebê, iríamos formar uma família! 

Estava deitada no sofá quando comecei a sentir as contrações, eu já estava preparada pra isso, nessa última semana já havia tido dois alarmes falsos, apenas contrações fortes que me forçavam ir pro hospital. Mas dessa vez as dores estavam piores. Me sentei e fiz uma careta de dor, passei a mão por minha barriga enorme e suspirei.