Um

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A televisão enorme na parede do quarto está mostrando uma nave espacial gigantesca. Solto o ar com força. Queria estar vendo qualquer outra coisa, menos isso, mas não tenho opção. Nem tenho mais nada para fazer. Ou seja: vou continuar olhando para a TV e fingindo que isso é só mais um filme. Um daqueles que meus amigos me obrigavam a assistir com eles, porque eu prefiro as histórias com mais romance do que essas coisas espaciais estranhas.

A nave gigante é estranha. São duas "torres" de cada lado, ligadas por uma parte mais comprida e grossa. Prefiro as naves comuns dos filmes que já vi. Acho que as maiores parecem triângulos, algo assim. Não essa coisa sem forma definida. Além de estranha, ela é feia.

Consigo ver algumas naves menores em volta dela, mas são pontinhos cinzentos. Só sei que são naves porque estão indo de um lado para o outro. Não podem ser outra coisa, não é? Não aqui.

Tudo bem, pelo menos tenho um quarto só para mim. Isso já é um progresso. E posso fingir que estou assistindo um filme.

Uma sirene dispara em algum lugar. Não está muito alto aqui dentro do quarto, mas consigo ver luzes amarelas piscando por debaixo da porta. Amarelo quer dizer que não preciso me preocupar. Certo. Se fosse vermelho...

Respiro fundo. Se eu ficar pensando nisso vou entrar em pânico, e já tive tempo o suficiente para aprender que não vai adiantar nada. É melhor eu me concentrar no meu "filme".

A nave esquisita está mais perto, agora. O que é... São explosões? As naves menores estão explodindo? E tem mais duas naves se aproximando, nenhuma delas nem perto do tamanho da esquisita, mas... Eu acho que estão atacando. Não estou vendo naves virando bolas de fogo nem nada do tipo, mas tenho quase certeza que estão explodindo, sim.

Uma parte da nave estranha pega fogo. Não. Já apagaram. Não... Não apagaram. Não tem mais ar para queimar. E parece que pedaços da nave estão se soltando.

As outras naves, as menores e que estavam atacando, desaparecem. Acho que se afastaram demais para eu conseguir ver. E nós continuamos nos aproximando.

Pego um dos travesseiros e o abraço. Não quero ver mais nada. Se isso fosse um filme, eu ia dizer que sei exatamente o que vai acontecer, e olha que nem gosto muito de filmes de coisas de espaço. Mas não quero ver isso aqui. Só... Não consigo parar de assistir.

Abafo um grito no travesseiro quando vejo um raio azulado acertar a nave esquisita. Outra parte dela pega fogo – uma das torres estranhas. E mais outra. E... A nave começa a se partir.

A nave onde eu estou acabou de destruir a nave esquisita. Eles explodiram a outra nave. Mataram todo mundo que estava lá dentro. Nem me importa se são aliens, mas... O tamanho daquela nave. Quantas pessoas...

Ai meu Deus.

E eu achei que as coisas estavam melhorando... Meu Deus. Isso...

Continuo encarando o monitor, com o travesseiro tampando minha boca, enquanto a nave se desfaz pouco a pouco. Vejo mais raios azulados acertando os pedaços maiores, até que mal dá para imaginar que havia uma nave enorme ali antes.

Como alguém faz uma coisa dessas? É... É diferente quando estou vendo algum filme. Isso aqui é real. Tinha pessoas lá dentro. E eles estão destruindo todos os pedaços, tudo o que poderia ter sobreviventes...

Escuto um ruído sibilante, como ar escapando, e me encolho contra a cabeceira da cama antes de me virar para a porta do quarto. Um dos aliens está parado ali, olhando para mim. Não consigo deixar de correr os olhos por ele: não muito alto, com o corpo definido o bastante para isso ser visível mesmo quando ele está usando as roupas escuras que parecem ser quase um uniforme de todos nessa nave, cabelo escuro e tão curto que parece quase raspado, olhos escuros em um rosto de tirar o fôlego... E pele azul clara. Azul. Dravos. O único desses aqui que eu sei o nome, porque foi ele quem me comprou.

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora