Dois

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Tem.

Quase sou jogada para fora da cama quando a nave balança com força. Consigo me segurar e me sento, olhando para o monitor. Mas não tem nada nele, só os pedaços da nave que destruíram...

O alarme principal começa a tocar e tampo os ouvidos. Esse faz barulho até dentro do meu quarto. As luzes vermelhas no corredor passam pela fresta debaixo da porta. É meu pesadelo. De novo. Eu vou morrer aqui.

A nave balança de novo e rolo para fora da cama. Agarro um travesseiro e me arrasto até a quina da parede. Acho que aqui tem menos chances de eu ser jogada de um lado para o outro. E... Estou mais longe da porta.

A imagem no monitor apaga de uma vez. Abafo um grito no travesseiro quando as luzes do quarto se apagam, também. Está acontecendo de novo. Não, não, não, não. Não quero morrer aqui. Quero voltar para casa. Quero esquecer que isso aqui aconteceu.

— Atenção! Todo o pessoal para as áreas de segurança — uma voz mecânica fala, vinda não sei de onde. — Atenção! Todo o pessoal...

Não sei o que isso quer dizer. Podem até ter implantado um tradutor em mim, para eu entender as sei lá quantas línguas dos aliens, mas isso não quer dizer que sei o que isso significa. Só sei que... É ruim. As luzes vermelhas começam a piscar dentro do meu quarto, também. Não sei o que são essas áreas de segurança, mas acho que eu devia estar indo para lá.

Eu vou morrer aqui. E vou morrer porque não faço a menor ideia de para onde preciso ir.

Afundo a cabeça no travesseiro e tento não chorar. Isso não adianta nada, já aprendi. Só quero não precisar ver o que vai acontecer. Se vão nos explodir, se vamos cair, se estamos sendo atacados... Não quero ver. Só espero que seja rápido, por favor.

Escuto a porta se abrindo e abraço o travesseiro com mais força.

— Se levante.

É Dravos, pelo menos, e não algum outro alien esquisito que esteja atacando a nave, mas... Balanço a cabeça, ainda abraçada ao travesseiro. Ele fala alguma coisa, baixo demais para eu ouvir, ao mesmo tempo em que a nave balança com força de novo.

— Não temos tempo para isso.

Levanto a cabeça quando escuto passos pesados. Dravos está vindo na minha direção, com uma expressão tão... Tão fria que só consigo me lembrar que ele é um assassino. Que ele deu a ordem para destruir aquela nave gigante, mesmo se não tiver feito isso ele mesmo.

Dravos para na minha frente, me encarando, e vejo quando ele dobra os joelhos para se equilibrar quando a nave balança de novo. Estico um braço para me segurar, mas bato de lado na parede. É impressão minha ou está ficando pior?

Eu não quero morrer aqui!

Dravos segura o braço que estiquei e me puxa. Me levanto, soltando o travesseiro por reflexo, e ele continua me puxando na direção da porta. Quase caio, sem saber se tento ficar no quarto ou se vou com ele. Dravos para e se vira para mim.

— Se quer viver, venha comigo.

Respiro fundo e tento responder, mas não consigo falar nada. Só vou com ele.

O corredor está deserto e as luzes vermelhas continuam piscando e falhando às vezes. Dravos resmunga alguma coisa em voz baixa e me empurra na direção de uma das paredes.

— Se segure na barra o tempo todo.

Só então vejo que tem uma barra pregada na parede, pouco abaixo da altura do meu ombro. Acho que me lembro de Paloma me falando alguma coisa sobre medidas de segurança, algo sobre gravidade artificial... Agarro a barra com minha mão livre, enquanto Dravos continua segurando meu outro braço. Não é fácil acompanhar o passo dele sem soltar a barra, estou quase tendo que correr, mas... Não quero pensar no motivo dessas luzes. Não quero. Só quero que isso acabe logo.

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora