Cinco

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Tenho quase certeza de que estraguei alguma coisa na porta, porque depois que voltei para cá meu quarto está barulhento. Toda vez que alguém passa aqui na porta, eu consigo ouvir os passos, como se estivessem aqui dentro. E consigo ouvir o que estão falando também. Entender, nem sempre. Mas consigo ouvir. O que foi que eu fiz?

Já fui conferir a porta, mas parece que ela está fechada, sem nenhuma fresta. Então por que é que de repente não está mais isolando o som igual antes? Só posso ter quebrado alguma coisa. Bosta. Pelo menos o gatinho está me distraindo dos barulhos lá de fora. Ele correu pelo quarto todo brincando com a bola de meia, até que cansou e parou perto de mim, miando sem parar. Acho que ele estava com sede depois da correria toda, porque quando enchi um dos potes que Dravos deixou no quarto com água da torneira do banheiro, ele bebeu quase tudo.

E preciso de um nome para o gatinho. Fofinho é uma boa ideia e é assim que estou chamando ele, mas quero um nome de verdade. Só estou completamente sem ideias. Acho que estou é cansada, depois dessa confusão toda, mas também não quero dormir. E se acontecer mais alguma coisa? Não quero acordar sendo jogada para fora da cama nem nada do tipo!

Me deito ao lado do gatinho, que vira para se enrolar mais perto de mim. Ele é muito fofo. Não importa o que Dravos fale, é só um gatinho. Não tem nada demais nisso. E, obviamente, ele não quer ir embora. Pelo jeito que ele se acomodou na minha cama, acho que se Dravos tivesse tentado levar ele embora, ia dar confusão.

E tem alguém andando no corredor de novo. Que saco. Queria saber o que fiz com essa porta, de verdade. Era tão melhor quando eu não ouvia nada que estava acontecendo lá fora...

E agora alguém está correndo. Por favor, que não seja mais problemas...

Abraço o gatinho e me seguro na cama, por via das dúvidas.

Quem estava correndo para, acho que bem perto da minha porta.

— Você está louco? Deixou a terráquea com o bicho? Sabe o que vai acontecer? Ele vai matar ela. É um predador!

Não sei quem está falando. Um dos aliens da nave, com certeza. Então obviamente a pessoa que estava andando é Dravos. E se ouvi o que ele falou sem a menor dificuldade, devem estar parados bem na porta.

Pelo menos não é nenhum problema novo.

Pego o gato e o coloco do outro lado da cama, perto da parede. Se resolverem levar ele embora, assim vai ser mais difícil. O gatinho mia e tenta voltar para onde estava. Seguro ele no lugar, pego a bola de meia e coloco na frente dele. Ele se acomoda e começa a brincar. Como é que alguém pode pensar que uma coisinha fofa dessas vai me matar? Aliens!

— O que você sabe sobre terráqueos? — Dravos pergunta.

Acho que essa resposta quer dizer que ele não está vindo levar meu fofinho embora. Me sento na cama, encarando a porta. Agora quero ouvir essa conversa.

— Baixa tecnologia, contato mínimo e restrito com o Acordo. Um tipo de humano extremamente adaptável.

Tipo de humano? Acordo? Acho que me lembro de Paloma falando alguma coisa assim, mas não sei se ela me explicou. Se explicou, esqueci completamente.

— Imaginei. De acordo com minha irmã, é quase uma norma social os terráqueos terem acompanhantes de outras espécies.

Acompanhantes? De novo com essa palavra... Quem quer que seja a irmã dela, acho que ela não entendeu o que é um bichinho de estimação. Não é difícil. A menos que os aliens não façam isso... É, acho que isso explicaria algumas coisas.

— Mas... Predadores? — O outro alien insiste.

Sim. Algum problema nisso? Cachorros também são predadores. E já ouvi falar de uns doidos que têm cobras e aranhas de estimação. Mas também tem gente que tem passarinhos, hamsters...

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora