Seis

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Ainda estou pensando no que Dravos falou sobre a compatibilidade. Mentira, não é bem sobre o que ele falou. Não consigo evitar, mesmo que ele não esteja aqui. Como é possível que eu esteja sendo forçada a me sentir assim por causa de alguma coisa que injetaram em mim? Não é à toa que tenho medo dos aliens. Olha só o tipo de coisa que conseguem fazer...

Mas a questão não é o que eles fizeram comigo. É o que eu vou fazer. Porque tenho certeza que se continuar perto de Dravos, vou acabar pulando em cima dele. Isso definitivamente não é normal para mim, mas não duvido nada que aconteça. E ele não vai achar ruim. O problema é... Eu não quero fazer isso. Não de verdade. Posso até olhar para Dravos e ficar imaginando como ele é sem roupas, mas é só isso. É só olhar. Aquela coisa de aproveitar uma boa paisagem mesmo. Ele é gostoso? Se eu ignorar a pele azul clara, sim, até demais. Mas... Mas. Esse é o problema. Os "mas" na minha cabeça.

E ele é um alien, ele me comprou, ele deu a ordem para atirar na outra nave e matou sei lá quantas pessoas.

Não. Preciso parar de pensar nele.

Pelo menos o gatinho comeu. Acho que gostou da ração, na verdade, porque ele devorou quase tudo que coloquei no pote. E agora eu estou jogando a bola para ele, porque ele começou a andar pelo quarto todo miando alto. Espero muito que Dravos arrume uma caixinha de areia depressa, senão não faço ideia do que vou fazer.

E quase como se ele estivesse lendo minha mente, escuto alguém vindo no corredor. Aliens não podem ler pensamentos, não é? Espero muito que não.

Os passos param na minha porta. Olho para ela, esperando o barulho de ar escapando. Estranho. Por que é que Dravos não abriu a porta de uma vez, como sempre faz?

— Jéssica? O capitão mandou trazer isso...

É outro alien. Não é Dravos. Fico onde estou, sentada no chão e segurando a bola de meia. Ele falou que era melhor eu me acostumar com os outros, mas achei que fosse voltar...

Não quero responder um dos aliens. E se for o dos dedos-tentáculos?

O gato se senta, olhando para a porta, e mia alto.

— Jéssica? Terráquea?

Se eu não responder, o fofinho vai acabar mijando na cama. E não faço nem ideia de se Dravos vai voltar para trazer a caixa ou deixar eu me virar de qualquer jeito.

E eu não devia estar querendo ver ele de novo.

— Oi?

— Trouxe as coisas que o capitão mandou...

Respiro fundo. Então é só ele abrir a porta, não é? Dravos está fazendo isso desde que me trouxe para cá, por que é que o outro alien não faz a mesma coisa logo?

O alien fala alguma coisa em voz baixa e não consigo entender o que é. Se é que está falando em uma língua que meu tradutor entende... Eu preciso aprender a separar quando alguém falou baixo demais e quando é só alguma língua estranha.

— Você tem que abrir a porta — ele fala.

Encaro o painel ao lado da porta. Oxe, por quê? Dravos sempre abre a porta quando bem entende.

Eles não vão fazer nada comigo. O alien não está pedindo para eu abrir a porta para poder me agarrar e devorar meu cérebro ou...

O gato mia alto de novo e começa a andar na direção da porta. Fico onde estou. Ele para e olha para trás. Acho que estou começando a entender o que sempre ouvi falar sobre gatos acharem que eles são os donos dos seus humanos.

Me levanto e vou até a porta. Espero muito não quebrar mais nada... Coloco a mão no painel e dou um passo atrás depressa quando escuto o barulho de ar escapando. O gatinho corre para debaixo da cama de novo. Para quem estava praticamente me mandando abrir a porta, ele está mais medroso que eu.

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora