Oito

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Deixo o gatinho escolher onde vamos parar. Por sorte, a porta se abre sozinha assim que paro na frente dela, ainda me segurando na escada. Ótimo, porque a essa altura não sei se ia conseguir me segurar com uma mão só. Definitivamente prefiro o elevador.

Solto um suspiro aliviado assim que saio em um corredor idêntico ao do andar dos quartos. Não, não é idêntico. Tem uma linha verde no chão. Eu vou mesmo precisar decorar o significado de cores diferentes? Droga.

O gatinho mia alto e olha para mim.

— Nem pense que vou te carregar agora. Você é bem pesadinho e meu braço está doendo dessa escada. Culpa sua.

Ele continua olhando para mim até que cruzo os braços. Ele faz um barulhinho estranho e começa a andar. Gato fofo folgado. E o rabo dele parou de brilhar assim que saímos do escuro. Bem prático isso.

Alguém fala alguma coisa – tenho quase certeza que é um palavrão – mas não entendo o quê. Corro até onde o gatinho parou, onde esse corredor sai em outro. Ele parece maior ainda... Não, está com os pelos arrepiados. Posso nunca ter tido um gato, mas sei que isso não é bom.

— Calma, menino, calma...

Paro quando vejo o alien do outro lado do corredor. Acho que nunca vi esse antes, mas tenho certeza que ele tem parentesco com alguma ave. Quer dizer, ele tem um bico. E tenho certeza que aquilo ali não é cabelo. São penas.

O alien olha para o gato, para mim, e dá um passo atrás.

É... gatos e aves.

Me abaixo e pego o gato. Ele se mexe e tenta pular, mas o seguro com força. Não mesmo. Não quero meu gatinho alien começando confusão.

Quando levanto a cabeça, o alien está me encarando. Não tem a menor chance de eu conseguir entender a expressão dele, mas posso imaginar que está mais aliviado, não é? Porque a impressão que eu tenho foi que ele tomou um susto quando viu meu gatinho.

Minha barriga ronca de novo.

Respiro fundo. Já estou aqui, não estou?

— Onde fica a cozinha?

O alien arregala os olhos e aponta para trás.

— Esse corredor vai dar em um laranja. Vire à esquerda nele.

Assinto e dou um passo atrás, ainda segurando o gatinho com força. Ele realmente quer pular no alien-pássaro. Acho que ele vai me dar um pouco de trabalho. Será que consigo fazer ele se acostumar com os outros aliens?

O alien-pássaro passa por mim depressa, sem nem olhar para trás. Oxe... Não precisa disso tudo. Olha o tamanho dele e o tamanho do meu gatinho! Isso é exagero.

Mas pelo menos eu já sei onde é a cozinha.

Sigo pelo corredor que o alien apontou. Acho que o que ele falou de cor é essa linha no meio do corredor, que ainda é verde. Então, continuar andando até encontrar uma linha laranja. Não parece muito complicado, mesmo levando em conta que eu não tenho senso de direção. Estou começando a achar que essa coisa das cores pode ser uma boa ideia, no fim das contas.

Coloco o gato no chão e torço para ele continuar me acompanhando. Meus braços realmente estão doendo por causa da escada. Também, o que eu esperava, depois de passar esse tempo todo desde que fui abduzida parada? Porque o máximo que eu fazia na nave de João Mário era andar de um lado para o outro. E isso já era raro.

Viro à esquerda no corredor com a linha laranja. O gatinho resmunga, mas me acompanha. O que será que tem indo para outro lado, para ele querer tanto ir lá?

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora